Países europeus e asiáticos registram um aumento do número de infecções após o relaxamento das medidas impostas para frear a disseminação do vírus. Especialistas ouvidos pelo R7 avaliam que uma segunda onda é inevitável em meio à reaberura.
“Podemos dizer que todos os países que fizerem reabertura vão ter novos casos. Uma reabertura sem planejamento e sem testagem vai estar associada ao aumento do número de casos e óbitos”, afirma Lígia Bahia, médica sanitarista e professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
A especialista explica que isso acontece porque muitos ainda estão suscetíveis ao coronavírus e, quando as medidas de restrição são relaxadas, essas pessoas que nunca tiveram contato com o vírus entram em contato com outras que já estão infectadas.
“A gente tem que entender que a imunidade coletiva não foi atingida. Até que uma vacina eficaz esteja disponível e, mesmo depois disso, vamos ter que manter as medidas de isolamento e prevenção”, analisa Unai Tupinambás, infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
A médica epidemiologista Maria Rita Donalisio Cordeiro, professora do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Unicamp, destaca que flexibilizar as restrições com segurança é o desafio que se impóe para todo o mundo, pois ainda existem muitas dúvidas em relação ao novo coronavírus, inclusive sobre a imunidade coletiva – ou de rebanho.
Não se sabe, por exemplo, se a proteção desenvolvida pelo sistema imunológico contra o coronavírus é duradoura e qual porcentagem da população precisa ter contraído o vírus e ter anticorpos para que se alcance a imunidade coletiva.
“Mas é muito cruel ficar esperando a população adoecer. Então temos que ter uma vacina segura e eficaz, e doses suficientes para toda a população”, pondera.
De acordo com ela, a segunda onda de contágios em países europeus está causando menos mortes porque tem atingido mais a população jovem.
“A gente está com medo que isso [aumento da transmissão do coronavírus] aconteça aqui [no Brasil]. Mas depende de quanto o vírus já circulou na população e não temos certeza sobre o nível de circulação porque não há dados sistematizados, eles são muitos diferentes conforme a região”, avalia.
A epidemiologista lembra que pessoas assintomáticas e pré-sintomáticas também podem transmitir o coronavírus, fato que dificulta o controle de sua disseminação se não há testagem em massa.
“É preciso fazer o rastreamento de sintomáticos, isolar os contactantes, pois eles podem ser transmissores sem sintomas. Mas quando a epidemia está muito disseminada fica difícil fazer esse controle. Campinas mesmo conseguiu fazer esse rastreamento no início, mas depois houve um descontrole”, exemplifica.
A médica reitera que à medida que as pessoas estão mais expostas, a tendência é que o número de casos de infecção aumente. Entretanto, essa escalada pode ter diferentes significados para os países.
“Não dá para falar que vai ser igual em todos os lugares. Esse aumento pode nem ser uma segunda onda, mas sim uma manutenção dos platôs [estabilidade de casos e mortes]. A gente não sabe se vai ter outro pico como na França e na Espanha”, compara.
Maria Rita acrescenta que mesmo no Brasil existem fases muito distintas da epidemia, que é vivenciada de maneira heterogênea pela população, pois uma parcela se mantém isolada enquanto outra continua saindo de casa.
“Às vezes, se esgotam os suscetíveis de um grupo, mas começam a aparecer em outro. É preciso monitorar as diferentes faixas etárias”, observa.
R7