A pandemia de covid-19 abriu uma crise sem precedentes no setor de estacionamentos e garagens em todo o país. Além da limitação de funcionamento, outra medida que impactou fortemente o segmento foi a adoção do home office, sistema de teletrabalho implementado por muitas empresas para cumprir as regras de isolamento social. Segundo a Pnad Covid-19 do IBGE (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em novembro havia 7,3 milhões de brasileiros trabalhando remotamente, o equivalente a 9,1% da população ocupada.
Como consequência, o conjunto de restrições esvaziou os estabelecimentos do setor, provocando o fechamento de muitas unidades e a demissão de milhares de pessoas. Apenas no estado de São Paulo, a queda no faturamento chegou a 80%, segundo o Sindicato das Empresas de Garagens e Estacionamentos do Estado (Sindepark).
Já as demissões, de acordo com o Sindicato dos Empregados em Estacionamentos e Garagens do Estado (SEEG), atingiram 2 mil trabalhadores no ano passado. “O problema foi pior nos pequenos estabelecimentos, a maioria deles fechou”, disse Francisco Antonio da Silva, presidente do SEEG. A crise foi tamanha que o próprio sindicato cortou o número de funcionários pela metade. “Nossa expectativa é que, com o avanço da vacinação, o setor possa se recuperar.”
De acordo com o Sindepark, em 2020, com a retomada gradual das atividades, o segmento chegou a ensaiar uma pequena recuperação, mas a nova onda da covid-19 trouxe impactos ainda piores, especialmente em shoppings centers, edifícios corporativos, hotéis e estacionamentos de áreas comerciais.
Unidades fechadas
Foi o que percebeu o empresário Patrick Rewald, dono da rede de estacionamentos BrasilPark, com cerca de 200 unidades espalhadas em todo o país. “O movimento despencou nos edifícios comerciais, sobretudo devido ao home office. Mas o impacto foi menor nas unidades de varejo, como em supermercados, hospitais e prédios com pequenas clínicas”, conta Rewald. Na média, segundo ele, a queda no faturamento foi de 51%. Pelo menos duas unidades foram fechadas e 20% dos funcionários foram dispensados.
Movimento semelhante foi sentido pelo empresário há alguns anos, com o advento dos aplicativos de transporte de passageiros, cujo preço levou muitos motoristas a deixarem o carro em casa. “Na época, o setor já teve que se reorganizar. Mas nada se compara à crise atual. Se antes perdemos o cliente avulso, agora perdemos o mensalista. Não há movimento na rua, é muito pior”, lamenta Rewald.
Para driblar a crise, o empresário conta que tem tentado atrair clientes em busca de espaço, como locadoras de veículos, bicicletários e lockers (“armários inteligentes”, que funcionam como depósitos de encomendas). “Já entendemos que o novo normal é definitivo. Então é preciso procurar alternativas para rentabilizar nossas unidades.”
Caminho sem volta
De fato, as mudanças trazidas pela pandemia parecem ser um caminho sem volta. Para o coordenador do Instituto de Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), Ahmed El Khatib, o home office virou uma alternativa viável e econõmica para muitos negócios. “Isso pode causar uma interrupção na demanda e na receita dos estacionamentos”, diz.
Mas El Khatib alerta que não foi apenas a pandemia que levou os estacionamentos à transformação. “Outro fator que já vinha atrapalhando o setor, em especial nos últimos anos, é a concorrência mais forte com a Zona Azul. Um último item que pode impactar negativamente é a própria mudança de hábitos de mobilidade dos motoristas, que estão cada vez mais procurando alternativas mais sustentáveis e baratas de locomoção.”
Dark kitchens
O especialista aponta que os empresários do setor, assim como tem feito Rewald, devem maximizar o aproveitamento de espaços ociosos. “Uma boa opção é a instalação de dark kitchens, cozinhas dedicadas exclusivamente ao preparo de pratos para entrega. Esse formato permite que uma grande grife gastronômica de qualquer cidade consiga levar seu menu a qualquer canto do país”, explica.
“Do ponto de vista econômico, a dark kitchen significa um ótimo custo-benefício para restaurantes, que investem relativamente pouco e ganham em escala e alcance, e administradores dos estacionamentos, que passam a ter mais receita com a locação do espaço”, afirma o professor.
El Khatib ressalta, ainda, que as empresas de estacionamento precisam, desde já, firmar alianças estratégicas com os players da nova economia, como empresas de transporte por aplicativo, logística, varejo, compartilhamento de patinetes elétricos e bicicletas, além de serviços automotivos. “Essas alianças trazem boas opções para rentabilizar os espaços”, diz. “Além de incrementar a receita, essa ocupação inteligente das áreas reforça a posição do estacionamento como hub de mobilidade urbana e de serviços compartilhados.”
R7