José sempre foi fraco para doenças. Talvez, nem tão fraco. Mas, ao primeiro sinal de coriza, dores no corpo… já se preocupava, pegava a caixa de remédios que guardava estrategicamente dentro do guarda-roupa e se automedicava esperando evitar “o pior”. Na repartição pública em que trabalha todos já conheciam as manias dele. Quando começava a falar de doença, alguns se divertiam, outros faziam pouco caso, mas como sujeito querido na firma, todos reconheciam em José uma fragilidade imensa para qualquer que fosse o mal.
Não tinha ainda chegado aos 60 anos, mas logo que foi iniciado o isolamento social com muitas repartições evoluindo para o trabalho remoto, acabou sendo o primeiro afastado. Em casa, seus filhos João e Ritinha sabiam dos exageros do pai, mas o cercaram de todos os cuidados, extensivos também para Dezinha, dedicada mãe e esposa, que cuidava de José com tanto zelo que chamava a atenção das mulheres de amigos e parentes.
Dois meses em casa e José já tinha achado que a contaminação chegara a ele pelo menos seis vezes. Um espirro, garganta seca, um alimento do qual não sentiu gosto, um dia que acordou sem sentir cheiros, um tira e bota de termômetro… Sempre preocupados, os filhos conseguiram com a própria repartição do pai que pudesse fazer o teste para detectar se realmente ele fora exposto ao vírus, ou se suas suspeitas constantes eram verdadeiras.
João pegou a guia para fazer o RT-PCR, um dos mais eficazes. No drive thru, João encostou o carro na fila e aguardou a vez para que o pai fosse atendido. José estava devidamente protegido com máscara, óculos e face-shield e o inseparável franco de álcool em gel nas mãos. Comentava, todo momento, com o filho que sabia que estava contaminado. Tinha medo de ser internado, intubado… Chegara a vez de José. A enfermeira pediu que retirasse máscara e os demais EPI’s. Ele ainda brincou com ela, perguntando se tinha higienizado as mãos, afinal, teria contato direto com seu rosto. Séria, Ruth disse que estava tudo bem e que seria bem rápido. Pegou o cotonete com o qual recolheria uma amostra da sua mucosa nasofaringe. Disse a ele que dobrasse a cabeça para trás para que facilitasse o exame. Mas, ao ver o tamanho do cotonete se aproximando da sua narina bateu desespero em José, que desmaiou. Ficou quase 30 segundos desfalecido e o filho já pedira à enfermeira que chamasse por socorro.
José acordou. Olhou para o filho, pediu que se acalmasse, olhou para a enfermeira, disse que não faria o exame.
– Me leve pra casa. Chega, não fico mais um minuto aqui – disse para João.
Em casa, ainda assustado, livrou-se de máscaras e demais EPI’s, tomou um banho demorado e nunca mais, nunca mais mesmo reclamou de dores, febres, corizas. Joé agora era outro homem. Não temia mais Covid, nem qualquer outra doença!
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