Estudo mostra que pessoas com altos níveis de ansiedade em relação à saúde correm mais risco de desenvolver doença cardíaca. Especialistas destacam necessidade de diagnóstico e tratamento para hipocondria.
Os médicos podem ter que começar a levar os hipocondríacos mais a sério, aponta um estudo publicado na revista científica BMJ Open. A pesquisa, desenvolvida da Noruega, vincula a forma mais comum de doença cardíaca, cardiopatia isquêmica – ou doença arterial coronariana – à hipocondria, condição caracterizada por uma preocupação excessiva com a saúde. No estudo, mais de 7 mil pessoas responderam a perguntas sobre seu estilo de vida, educação e saúde.
Cada uma delas foi submetida a um exame físico. Participantes com altos níveis de ansiedade em relação à saúde foram identificados usando o Whiteley Index, um teste para diagnosticar hipocondria. A saúde deles foi, então, monitorada ao longo de 12 anos.
Os pesquisadores haviam previsto que as pessoas com hipocondria correriam menos riscos, por serem mais propensas a analisar os próprios sintomas e ajustar seu estilo de vida com o objetivo de evitar doenças. Mas enquanto os participantes com ansiedade em relação à saúde consumiam menos álcool do que outros, também fumavam mais e passavam menos horas fisicamente ativos.
Mente e corpo
O pesquisador que liderou o estudo, Line Iden Berge, afirma que aparentemente a preocupação em si leva a um maior risco de doenças cardíacas, mais do que outros fatores relacionados ao estilo de vida.
Mostramos que os participantes que relataram por conta própria altos níveis de ansiedade em relação à saúde tinham 70% mais chance de desenvolver doença cardíaca isquêmica, quando descontados outros fatores de risco”
Line Iden Berge, pesquisador
“A ansiedade em geral tem um efeito fisiológico sobre o coração, assim como outros fatores de estresse”, aponta o cardiologista Thomas Klingenheben.
“As pessoas com ansiedade têm uma frequência cardíaca muito maior do que outras – talvez em torno de 80 [batimentos por minuto], quando a pessoa média pode ter uma frequência cardíaca de cerca de 60.”
Klingenheben, que não se envolveu com o estudo, disse que isso é causado pelo aumento da atividade do sistema nervoso. E quando a ansiedade desencadeia essa hiperatividade, pode causar danos vasculares.
Berge levanta a questão sobre em que medida a saúde mental pode influenciar o corpo. “Uma série de estudos têm demonstrado que a depressão também está associada ao aumento do risco de doença cardíaca isquêmica”, afirma. Mas será a hipocondria um sintoma de depressão? “Como um psiquiatra clínico, eu diria que há uma forte conexão entre depressão e hipocondria”, diz o pesquisador. “Em nosso estudo nós também demonstramos uma correlação entre as duas condições”.
Tratando a ansiedade Klingenheben afirma que o estudo mostra que os médicos terão que repensar a forma como lidam com hipocondríacos.
“São pessoas que os médicos não querem realmente ver. Eu mesmo tenho pacientes assim, que vêm duas ou três vezes por ano porque acreditam que há algo de errado com o coração. Mas acho que os médicos terão que encarar essa doença mais a sério e tratar a própria hipocondria”, diz.
Embora admita que esse não é um trabalho para cardiologistas, ele diz que os pacientes devem ser encaminhados a um neurologista ou a um especialista em medicina psicossomática.
“Essas novas evidências sobre consequências negativas ao longo do tempo enfatizam a importância de um bom diagnóstico e tratamento para a hipocondria”, destaca Berge, acrescentando que os médicos devem incentivar os pacientes que sofrem da condição a procurar tratamento, como uma terapia cognitivo-comportamental.
uol