Diferentemente do que se pode imaginar, os cuidados com os dentes, além de ajudarem a prevenir o mau hálito, gengivite, placas bacterianas e cáries, também podem evitar as complicações cardíacas. Embora essa relação pareça distante, a presença de bactérias na boca representa um risco à saúde cardiovascular.
De acordo com o vice-presidente da Associação Bahiana de Medicina (ABM) e presidente da Sociedade Norte-Nordeste de Cardiologia (SNNC), o cardiologista Dr. Nivaldo Filgueiras, o principal risco ocorre se as bactérias causam uma inflamação nos tecidos do revestimento interno do coração (miocárdio) danificados ou válvulas cardíacas anormais, podendo se multiplicar livremente, causando uma infecção chamada endocardite.
“Existem algumas doenças inflamatórias crônicas, que ocorrem na boca, em especial aquelas placas de tártaro, que vão causar uma gengivite crônica. Como existem milhões de bactérias na boca, isso pode gerar, em algum momento, a passagem das bactérias para dentro da corrente sanguínea, o que pode causar uma doença grave no coração, chamada endocardite bacteriana”, explica.
Diante deste cenário, cuidar da saúde bucal é de extrema importância, inclusive em casos de pessoas que já nascem com alguns tipos de cardiopatia ou que desenvolvem uma outra patologia denominada cardiopatia reumática que afeta as válvulas cardíacas. “São pessoas mais propensas a adquirir a endocardite bacteriana, por isso, devem ir ao dentista de forma mais regular, de forma preventiva, para evitar a doença”, aponta Dr. Nivaldo.
Além disso, a saúde bucal também pode estar relacionada às chances de desenvolvimento de um infarto agudo do miocárdio. “Ele pode estar relacionado a placa bacteriana pois, da mesma forma que existe uma inflamação crônica na boca, isso pode gerar uma inflamação sistêmica. E, no caso de um indivíduo com placa de gordura no vaso sanguíneo, ao longo do tempo, pode contribuir para que ela se rompa, gerando infarto ou ataque cardíaco”, ressalta.
Por isso, para ficar longe de qualquer risco, o Dr. Nivaldo aponta que é fundamental manter uma rotina rigorosa de higienização bucal, com escovação adequada, utilização do fio dental e a escovação da língua. Segundo o especialista, a própria diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) indica a ida ao dentista a cada 3 ou 6 meses, para fazer uma limpeza e evitar a formação da placa dentária.
“Isso não é para todos, mas pelo menos, uma vez por ano, de forma geral, as pessoas devem ir ao dentista. A formação dessa placa acaba gerando a gengivite crônica, e isso pode ter um impacto na saúde cardiovascular”, reforça.
O Dr. Nivaldo lembra ainda que o período de pandemia foi responsável por afastar muitas pessoas das consultas com os especialistas, o que causou uma série de problemas dentários e cardiovasculares.
“A própria falta do acompanhamento do cardiologista gerou doenças mais graves em várias pessoas, por isso é importante o acompanhamento regular. É essencial
o cuidado, não apenas da saúde bucal, mas da saúde como um todo”.
O especialista também reforça que existe a importância da ida ao cardiologista uma vez por ano, sobretudo para aquelas pessoas que possuem fatores de risco, como fumantes, pessoas sedentárias ou com histórico de doença cardiovascular, bem como de Acidente Vascular Cerebral (AVC).