O diretório estadual do PSL (Partido Social Liberal) afirma que ainda não definiu nenhum candidato para as eleições municipais de 2020, ao mesmo tempo em integrantes do partido apontam Joice Hasselmann e Gil Diniz como pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo. Mas se depender do deputado estadual Douglas Garcia (PSL), Joice nunca assumirá o posto.
Garcia, fundador do Movimento Conservador Direita São Paulo e que atua em primeiro mandato, defende o presidente Jair Bolsonaro com unhas e dentes e, por isso, está alocado na ala bolsonarista, que é contrária ao time que Joice amparou durante a escalada do racha entre as duas equipes no Congresso Nacional.
Caso haja mais de um pré-candidato, o PSL deve fazer prévias. E aí, segundo o parlamentar, mora o problema. “Eu voto em quem conseguir a legenda. Agora, com a Joice eu vou brigar até o fim para que ela não tenha legenda e, caso ela consiga, faço campanha contra”, afirmou o deputado.
Homossexual, negro e da favela, Garcia foi representado pelo menos cinco vezes no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo, atos que o próprio descreve como “perseguição”. De terno, camisa e gravata azuis, o deputado afirma que seguirá os passos do presidente da República “sem pensar duas vezes”, além de sonhar com uma possível candidatura rumo ao Congresso.
– O projeto de lei 1051 institui diretrizes para a prestação de auxílio, proteção e assistência a policiais vítimas de violência. Qual o problema da Polícia Militar de São Paulo?
O principal problema, e não é só na Polícia Militar do estado de São Paulo, é que existe um tronco que é a questão da retaguarda jurídica da atuação do policial militar. É a primeira coisa que se deve combater. Hoje as leis beneficiam, infelizmente, os bandidos – um exemplo é a decisão do STF. O emprego na defesa dos bandidos não existe na defesa dos militares. Claro, existem PMs que são ruins e não estou defendendo esses, mas não é a maioria. E em segundo lugar tem a falta de reconhecimento. Entende-se que o reajuste dado pelo governador, de 5%, não é o ideal, e sim 24%, que é o básico, mas sabemos que não pode dar mais porque pode entrar em crime de responsabilidade fiscal. A falta de reconhecimento do governo do estado para com a categoria policial é um fator que leva o PM a ter uma vida com casos de depressão e até suicídio. Por isso faço parte da Comissão de Direitos Humanos, para dar direitos humanos aos policiais militares.
– O projeto de lei 1028 trata sobre a criação do Programa Infância Sem Pornografia…
Foi criado por um procurador na expectativa de proteger a infância, a inocência e a pureza das crianças. A ideia é que as entidades que fazem parte do estado ou as que recebem financiamento por parte do estado trabalhem no sentido de proteger a criança desse conteúdo (pornográfico). É fazer com que a família tenha esse controle. Só os pais podem abordar esse tema. Adendo: o projeto veta qualquer tipo de veiculação pornográfica, que é a abertura exagerada. Uma coisa é ensinar a questão biológica, outra é aparecer com um pênis gigante vestido para as crianças.
– Recentemente o governador João Doria ordenou a retirada de uma apostila.
Ele fez um morde e assopra. Veio com discurso bem incisivo contra a ideologia de gênero e mandou retirar (as apostilas). Quis mostrar que estava brigando, porém, na primeira medida o Tribunal de Justiça determinou a devolvida. Não houve recurso, apelação, simplesmente devolveu. Então, vejo que poderia ter feito muito mais. Temos um projeto do tema aqui na Assembleia, mas acho que não seja interesse. Ele está fazendo jogo de marketing para ficar bonzinho em ambos os lados. Acho que ele quer agradar gregos e troianos.
– Deputados querem levar o senhor ao Conselho de Ética da Casa sob a justificativa de sua moção de aplausos ao jornalista Augusto Nunes. O senhor considera que tem se excedido em algumas ocasiões ou seria perseguição?
Muito embora outros colegas do PSL foram representados no Conselho de Ética, mas ninguém tem o número recorde que eu tenho. Para mim, é perseguição, uma vez que o deputado tem imunidade parlamentar para expressar suas opiniões, palavras e votos. Existiu, sim, excesso da minha parte na forma em que coloquei um dos discursos e, à época, pedi desculpas. Não me arrependo de ter defendido o posicionamento, mas a forma que coloquei, sim, reconheço que foi exagerada. Mas o que fizeram comigo na sequência foi desproporcional. Teve um deputado que empurrou um policial e não aconteceu nada com ele.
– Qual a razão por ser você o perseguido?
Deve ser porque eu não sou a pessoa mais branca do mundo, eles me consideram negro, gay e da favela. Sou exatamente o estereótipo esquerdista que deveria estar no PCdoB, mas estou no PSL. Acredito que quando eu falo, eles não podem me chamar de racista, de homofóbico, de preconceituoso, até porque a minha origem vem de todas essas coisas. Eu sou assim. Acredito que a minha existência é uma pedra no sapato, porque enquanto eu existir eu vou contrapor a esquerda.
– Na descrição de seu nome no site da Alesp, diz que é vice-presidente do Movimento Conservador Direita São Paulo, diz que marchou em Defesa da Família e pela vida dos PMs, entre outros. Neste ano, o senhor se declarou ser homossexual – quem fez o anúncio, na ocasião, foi a colega Janaina Paschoal. A pauta LGBT não é uma bandeira do senhor?
A pauta LGBT é a que eu mais combato. Para mim, existe a população e militância LGBT. Não tenho como odiar a população, até porque faço parte dela, mas a militância é diferente – é agressiva, impositiva, quando não se identifica e não segue a cartilha, é marginalizado. Eles me marginalizam, me chamam de deputado Chernobyl. Eu sabia que esse dia ia chegar, uma hora eu teria que assumir a minha sexualidade, até porque estava batendo nessa questão por nunca ter me sentido representado.
– Você tem o desejo, então, de criar um grupo LGBT com os seus ideais?
Não. Eu prefiro dizer que sou da comunidade do Brasil. Acho que estamos cansados de ficar separando. Aliás, só o fator de nascer brasileiro já é difícil, já tem que batalhar muito para conseguir fazer com que as coisas deem certo.
– Outro projeto do senhor é o 1095, em que obriga o estado de São Paulo a aderir à Política Nacional de Alfabetização. A erradicação do analfabetismo é uma das metas…
O principal é o método, que é o Paulo Freire. Hoje se você faz o beabá é uma coisa opressora, você não pode forçar a criança a passar por um momento tão dificultoso que é aprender a ler e escrever através da fonética. A aplicação desse método está sendo malfeita. Investimento, por exemplo – se você pega uma escola cívico-militar, os que são dirigidos pela Polícia Militar (Goiás e Amazonas, disse deputado), gasta a mesma coisa que o colégio convencional. Ora, se é investida a mesma quantia, por que os colégios militares têm um nível muito superior, principalmente com notas do Enem? Precisamos reavaliar o método. Eu fiz essa comparação, de investimento, para provar que não é esse o fator. A educação não vai para frente porque não tem dinheiro é mentira. Se a gente investir, sim, podemos melhorar, mas não é o principal, que é o método.
– Qual o melhor método então?
Eu não sou pedagogo, então não sei, mas acredito que tem que mudar. É um projeto que eu trouxe do Ministério da Educação, portanto avaliado por um pedagogo.
– Esse mesmo projeto corre também na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, proposto velo vereador Carlos Bolsonaro (PSL). Qual sua proximidade com a família Bolsonaro?
Raramente falo com a família Bolsonaro. Esse ano eu falei três vezes com o Eduardo – no Rio Grande do Sul, durante o congresso conservador e a terceira quando entreguei a medalha de honra ao mérito para ele aqui na Assembleia.
– E com o presidente?
Uma vez, quando fui a Brasília durante reunião dos deputados do PSL daqui de São Paulo. Lá nos encontramos, mas não foi eu e Jair.
– Apesar da distância, o senhor é da ala bolsonarista.
Sim. O (Luciano) Bivar é um canalha. E esse racha é antigo. Quando eu fui tentar me filiar, o partido não queria me dar a legenda, porque algumas pessoas que fechavam com a cúpula do Bivar e Bebiano disseram não. Falaram que eu sou um garoto muito agressivo e muito briguento. Daí, eu pedi para o Eduardo (Bolsonaro).
– Era a única legenda em mente?
Se eu me candidatasse por outro partido, poderia ter tido muitos votos e poderia até ter sido eleito, mas é claro que o nome PSL aliado ao Jair Bolsonaro puxava mais. Eu não era conhecido, eu tinha que ir para o mesmo partido.
– O presidente Jair Bolsonaro disse que irá deixar o PSL e irá fundar o partido, já chamado de Aliança pelo Brasil. O senhor vai seguir o mesmo caminho?
Se o Bolsonaro decidir fundar o Partido do Bolsonaro, eu vou. Eu sigo os passos do presidente sem pensar duas vezes.
– Em evento no dia 27 de agosto, o senador Major Olímpio convidou a deputada Joice Hasselmann para ser candidata à Prefeitura de São Paulo, mas e as prévias?
– Se o PSL escolher a Joice (Hasselmann) para ser pré-candidata à Prefeitura de São Paulo sem passar por prévias, eu vou ajuizar uma ação para que seja derrubada com base no estatuto do partido.
– O senhor entrará na disputa?
Hoje eu não sou candidato. O meu chefe de gabinete (Edson Salomão) foi convidado pelo Eduardo (Bolsonaro) para ser candidato, para ser o prefeito representando os Bolsonaro na cidade de São Paulo. Diferente da Joice, a disputa entre Gil e Salomão, por exemplo, não terá baixaria. Eu vou continuar com o meu mandato, até porque vejo que para o papel do Executivo você tem que ter, no mínimo, um pouco mais de maturidade.
– A Joice tem?
Absolutamente nenhuma. Mas o que eu quero dizer é que sou muito novo para chefiar a cidade de São Paulo. Se qualquer um do PSL que compartilha os mesmos valores que o presidente da República e for uma pessoa certa, eu voto nessa pessoa.
– No caso, os dois nomes são Gil Diniz e Edson Salomão. Qual o senhor escolhe?
Eu voto em quem conseguir a legenda. Agora, a Joice eu vou brigar até o fim para que ela não tenha legenda e faço campanha contra caso ela consiga.
– O senhor já promoveu outra polêmica com a deputada Joice Hasselmann. Inclusive, foi ao Twitter para esclarecer que não processaria a colega, mas sim levaria ao Conselho de Ética do partido. Isso já ocorreu?
Eu conversei com o procurador da Assembleia e ele me explicou que essa suspensão só se daria se o líder do PSL na Alesp aplicasse a medida, como aconteceu no Congresso.
– No caso o líder do PSL é o Gil Diniz, seu amigo.
Só que o líder do PSL é o Gil e não foi notificado. De qualquer forma, se eu fosse notificado, o Gil não ia aceitar. Ele ia pegar, rasgar e jogar fora.
– Até onde vale defender o presidente? Existe um limite?
– Sim. Eles falam que somos fanáticos da mesma forma que os eleitores do Lula. Bolsonaro não é condenado em absolutamente nada, nunca foi preso. Essas questões precisam ser colocadas na mesa. Há uma grande diferença. No dia em que o presidente se comparar ao Lula, aí esquece, nunca mais vou defender. Mas enquanto ele for quem é, e eu acho impossível ele mudar, vou continuar defendendo de forma incondicional.
– Se arrepende de algo?
Não me arrependo de nada. Se voltasse no tempo, faria exatamente igual. Mesmo com os erros, que serviram para que me tornasse um parlamentar melhor. Todas essas coisas serviram para o meu amadurecimento político, ao mesmo tempo em que aprendi a conseguir passar as minhas ideias sem ofender o dito cujo, exceto quando o dito cujo me ofende, aí fica feio. A Assembleia é um lugar muito legal para aprender muita coisa, mas o Congresso oferece uma liberdade de atuação maior, não só legislativa, mas discursiva.
– Então é para lá a sua próxima candidatura?
Não sei. Tudo vai depender da vontade do povo.
– Mas a sua vontade é qual?
A minha vontade é poder falar sem ir para o Conselho de Ética toda semana. Eu vejo que lá tem essa liberdade. Tenho essa perseguição aqui, então talvez ir pro Congresso seja mais vantajoso.
R7