Grande estudo epidemiológico realizado no Brasil sobre a demografia dos pacientes diagnosticados revela tendência de crescimento da doença
Compreender a epidemiologia do câncer de pele-melanoma no Brasil e avaliar tendências temporais de incidência e mortalidade relacionadas à doença foram os objetivos do trabalho “Assinatura de melanoma no Brasil: epidemiologia, incidência, mortalidade e lições de tendências de um país de população mista continental nos últimos 15 anos”, levantamento realizado recentemente por grandes especialistas no assunto. Os dados apresentados no estudo revelam uma tendência de elevação da incidência da doença no Brasil e no mundo, razão pela qual ações como as desenvolvidas durante a campanha “Dezembro Laranja” revelam-se fundamentais para a prevenção.
Segundo o oncologista André Bouzas, cirurgião do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR), muita gente sabe que é preciso evitar a exposição solar em excesso, especialmente nos horários de pico, e que “a prevenção principal se dá por meio do uso de protetor solar com filtro (principalmente), bonés, chapéus e outros meios de impedir a incidência direta dos raios do sol sobre a pele. A importante campanha ‘Dezembro Laranja’ está aí para reforçar essas informações, mas mesmo assim, muitos se descuidam, expondo-se ao sol sem proteção, em qualquer horário e por muito tempo”, frisa.
Além da falta de cuidados preventivos, outro fator que explica o avanço do melanoma cutâneo é o envelhecimento populacional, já que a idade é um fator de risco relevante. O número de novos casos de melanoma no mundo está aumentando devido ao envelhecimento da população e às altas taxas específicas de melanoma em idosos. Isso está acontecendo no Brasil, que possui uma das populações mais jovens do mundo, com idade média de 29 anos, “o que nos leva a prever que a maioria dos casos de melanoma está por vir”, destacou o especialista.
O câncer de pele não-melanoma é o mais frequente no mundo inteiro, considerando homens e mulheres. Contudo, o tipo mais agressivo deste tipo de tumor, foco do estudo, é o melanoma cutâneo. Os dados sobre a doença foram levantados a partir de registros hospitalares de câncer, registros de câncer de base populacional e Sistema Nacional de Informações sobre Mortalidade. Na pesquisa, foram avaliados 28.624 pacientes com melanoma, a maioria do sexo feminino (51,9%), branca (75%) e com estágio I ou II (53,2%) da doença.
O estudo, que mostra que o melanoma cutâneo está aumentando globalmente, aponta que no Brasil, a partir de 2000, as incidências em homens e mulheres começaram a subir e houve uma duplicação adicional das taxas de incidência, que passou de 2,52 para 4,84 em homens e de 1,93 para 3,22 por 100 mil mulheres. “Apesar dos dados nacionais serem preocupantes, o Brasil está longe da Austrália e Nova Zelândia, onde foram relatadas taxas de incidência de 40 a 60 casos por 100 mil habitantes”, disse André Bouzas. O médico destacou, ainda, que a principal razão para essa “pseudoepidemia” de melanoma cutâneo no mundo é o aprimoramento de critérios e técnicas de diagnóstico, que permitem que os melanomas sejam reconhecidos com mais precisão e em estágios iniciais.
Dados epidemiológicos – A população brasileira foi formada por uma mistura de três raízes ancestrais diferentes – ameríndios, europeus e africanos – resultando em uma grande variabilidade da pigmentação da pele. A epidemiologia, incidência e mortalidade de melanoma nessa população heterogênea são pouco descritas na literatura a respeito de dados nacionais. A distribuição de etnia/cor da pele dos casos de melanoma é composta por 75% de brancos, 21,9% de pardos, 2,4% de pretos e 0,7% de amarelos/indígenas. A maioria dos pacientes (53,2%) foi diagnosticada com estágio I ou II (melanoma localizado), 20,6% no estágio III e 26,1% no estágio IV.
Em relação à topografia, o melanoma primário foi diagnosticado no tronco (27,1%), seguido pelos membros inferiores/quadris (26,2%), cabeça e pescoço (19%) e membros superiores/ombros (14%). Mais de 50% dos casos representavam pacientes com ensino fundamental incompleto e 77,1% de todo o grupo foi encaminhado pelas unidades do sistema público de saúde para centros de atendimento terciário.
Dados de organizações privadas de gestão em saúde mostraram que 41,7% dos melanomas foram auto-descobertos pelos pacientes; os profissionais de saúde detectaram 29,9% e outros 27%. Outra informação relevante é que o principal componente no atraso no diagnóstico do melanoma estava relacionado ao paciente, pois apenas uma pequena parte dos pacientes sabia que o melanoma era um câncer de pele grave e a maioria pensava que a lesão pigmentada não era importante, causando um atraso na procura de assistência médica. “O conhecimento deficiente da população sobre melanoma e o diagnóstico incorreto de lesões suspeitas também contribuem para atrasos no diagnóstico e longos tempos de espera para assistência médica”, frisou André Bouzas.