A presença do Negro e da Mulher no gênero Rock’n’Roll é destaque na nova decoração do 30 Segundos Bar que é assinada pelo artista plástico Thiago Bols e será apresentada no Dia 20 de Novembro no evento em celebração ao Dia da Consciência Negra.
Artista de multitalentos, Bols é também cantor lírico, cenógrafo, maquiador e passeia com desenvoltura por todas essas linguagens já aclamadas pelo público de Nova Iorque (EUA) e Paris (FR), onde homenageou as manifestações populares da Bahia no Carrossel do Louvre. Respaldado em seu currículo, o artista aborda as questões raciais e de gênero pelo mundo desde a conclusão da sua graduação em Artes Plásticas pela Universidade federal da Bahia, em 2011.
Em setembro de 2015, Bols foi o único brasileiro selecionado pela Fundação Robinson em Portugal, que recrutou um total de nove artistas estrangeiros através de um edital aberto para artistas do mundo inteiro, projeto que sequenciou uma residência artística (Re Habita 2015) na cidade de Portalegre, em Portugal, culminando numa mostra de múltiplas linguagens contemporâneas. Até 2017 foi artista exclusivo da October Gallery nos Estados Unidos.
Apreciador das artes de um modo geral, o empresário e proprietário da casa noturna, Anibal Bittencourt, trouxe Bols da sua temporada nos Estados Unidos com a finalidade de deixar o 30 Segundos mais artístico. Depois de muita conversa e afinidades, optaram por ressaltar a essência da casa que é de paquera e muito Rock. Sendo proprietário de uma boate de classe média em Salvador, Aníbal conhece bem a realidade de administrar um lugar onde os negros compõem uma minoria dos seus frequentadores e as belas mulheres são o grande chamariz da noite, logo era fundamental que ambos estivessem num lugar de honra e empoderamento.
Sob essa perspectiva, foi trazido para o foco da pesquisa a grande contribuição do Negro e da Mulher para história do Rock, sobretudo, nacional, a fim de que vejam que estes podem estar onde escolherem e não onde o preconceito e machismo alheios pensam poder determinar. Que a mesma mulher que foi forte o suficiente para assumir uma guitarra, por exemplo, ou os vocais de uma banda de Rock e fazer história, pode ser a mesma que está na pista de dança e pode escolher como se vestir, com quem vai ficar, se vai ficar ou simplesmente, dançar. Portanto o “Não” delas é Não.
Sobre as intervenções: a ressignificação é a principal estratégia de abordagem para passar a mensagem
Já na fachada externa é possível apreciar uma releitura da emblemática capa do disco dos Beatles Abbey Road, onde os mesmos aparecem atravessando na faixa de pedestres com roupas tropicais como shorts e camisetas, enquanto um deles segura uma prancha de surf e outro, um berimbau. Seguindo esta mesma abordagem, pode-se contemplar Dinho Ouro Preto(Capital Inicial) segurando um acarajé, Cyndi Lauper, debruçada na mureta do Rio vermelho como uma torcedora do Bahia, Angus Young vestindo uniforme e boina do Vitória e Chuck Berry tocando uma guitarra Baiana.
“Mais do que representar os Negros do Rock, eu quis inserir as personalidades brancas do rock no contexto da nossa cidade, ou seja, dessa terra de pretos. Também quis reafirmar que na Bahia tem espaço pro Rock.” – afirma o artista Thiago Bols.
As portas dos Sanitários se tornaram uma atração a parte, pois traz a Janis Joplin como Musa no banheiro masculino e Jimi Hendrix como “crush” do banheiro feminino. Ao adentrarem os sanitários, os clientes encontrarão os respectivos Joplin e Hendrix retratados nus na área interna. Para ilustrar o sanitário de deficientes, foi escolhida a imagem de Herbert Vianna(Paralamas do Sucesso) no intuito de estimular as pessoas a olhar para o deficiente como alguém dotado de capacidades, talentos e digno de respeito e admiração. O Espaço de entrada dos sanitários ganhou ares de um charmoso botequim dos anos 50.
No palco, as homenagens continuam com a baiana Pitty, o seu conterrâneo Raul Seixas, Rita Lee e Cazuza. Na lateral da pista encontra-se a obra mais importante e significativa de toda a intervenção que é a “Santa Ceia do Rock”, na qual o artista reúne personalidades do rock nacional e internacional numa releitura do famoso quadro de Leonardo da Vinci, “A Última Ceia”. Uma das particularidades da versão de Bols é cantora Tina Turner, mulher, negra e representante expressiva do Rock’n’Roll, ocupando o lugar central (de Jesus Cristo) na mesa e ao seu lado, Little Richard. Outro destaque desta obra é a presença do cantor e compositor baiano Marcio Mello ao lado de Bono Vox e Freddie Mercury, além das representantes femininas do rock nacional Cássia Eller e Paula Toller. Os outros nomes que completam a cena são o do Mick Jagger, Bon Jovi, Renato Russo, Kiss, Axl Rose e Elvis Presley.
A recepção ganhou uma Mona Lisa dread e metaleira que divide espaço com uma Vênus de trança e óculos de sol. Bailarinas negras, mulheres crespas e empoderadas tocando instrumentos e idosa curtindo rock acompanham o público pelo corredor de entrada lembrando uma exposição. O camarote ganhou um painel com nus femininos expressionistas, mulheres negras dançando e uma stripper plus size.
O ápice da programação da noite será a apresentação da pequena, porém significativa coleção de roupas intitulada “Boneca de Louça, confeccionada a partir de esponjas de lavar louça para ressignificar/romper a relação da mulher com a obrigação dos afazeres domésticos. As peças também foram desenhadas por Thiago Bols e produzidas por uma costureira negra, deficiente, moradora do bairro de Pernambués, conhecida como “Ritinha” e que desde pequena costura roupas de bonecas.
Evento: Dia da Consciência Negra no 30 Segundos Bar
Quando: 20/11/2019 (Quarta-feira)
Horário: 20h
Local: Rua Ilhéus, 21- Rio Vermelho
Valor:
Mais informações: 71 3334-8586 (whatsApp)