A recente disparada do dólar comercial, que encostou no maior valor dos últimos dois anos nesta quarta-feira (9), vai pesar no bolso dos consumidores brasileiros ao longo dos próximos meses.
De acordo com economistas ouvidos pelo R7, a alta do dólar não deve aparecer ainda com força na divulgação do IPCA (índice de Preços ao Consumidor Amplo) referente ao mês de abril, mas tende a afetar principalmente o preço de combustíveis e alimentos.
“A movimentação do dólar vai impactar os preços daqui para a frente, porque o dólar na economia brasileira é uma referência“, avalia o professor de análise de cenários econômicos e macroeconomia da Faculdade Fipecafi, Silvio Paixão, que destaca para a relação dos produtos com “os valores de fora do Brasil”.
O professor de macroeconomia do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) André Diz afirma que a variação no preço dos alimentos vai ocorrer principalmente no caso dos alimentos ligados às commodities — produtos primários com valor tabelado internacionalmente.
“Com a valorização do dólar, esses preços [das commodities] tendem a ficar mais caros ainda. Dada a importância da soja para toda a cadeia de alimentação animal, o impacto disso no índice de alimentos do IPCA com certeza vai ser positivo”, explica Diz.
Nos últimos dois meses, o valor comercial do dólar saltou mais de 10% em relação ao real, ao passar de R$ 3,25 para R$ 3,59 no fechamento de ontem, em alta guiada pelas tensões envolvendo Estados Unidos e Irã. Somente em maio, a moeda norte-americana já acumula valorização de 2,62% ante a brasileira.
Combustíveis
Outro fator que deve influenciar o valor dos combustíveis no Brasil é a alta do preço do petróleo, que atingiu o maior valor em três anos nesta quarta-feira (9).
Com a nova política de reajustes diários dos combustíveis adotada pela Petrobras, Diz avalia que o reajuste vai chegar às bombas do País. “Com a desvalorização do câmbio, o valor [dos combustíveis] em real acaba ficando mais caro”.
Juros
Na tentativa de segurar a alta dos preços, o BC (Banco Central) deve interromper a sequência de baixas da taxa básica de juros já no encontro marcado para a próxima semana. Atualmente, a Selic figura no menor patamar da história, a 6,5% ao ano.
Segundo Paixão, a manutenção da Selic “vai ser o grande instrumento para ter algum tipo de efetividade” para segurar a inflação com a valorização do dólar. “Se o Banco Central pensava em reduzir a taxa em 0,25 ponto percentual, ele vai buscar manter e pode até fazer a manutenção com algum viés”, estima o professor da Fipecafi.
A Selic funciona como o principal instrumento do BC para manter a inflação sob controle, já que os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam novas alternativas de investimento. Quando o BC aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida e isso causa reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito.
A alta do dólar deve reverter a expectativa do mercado financeiro de um novo corte na Selic. Diz, por sua vez, avalia que o BC vai “ter muita cautela” diante da atual situação para segurar a inflação. “Com essa mudança de cenário externo, sabendo que a Argentina está sofrendo com uma crise cambial e a Turquia pode passar pela mesma situação, talvez o BC pare por um certo momento a redução da Selic para não ter mais um componente de pressão”.
R7