O dólar encerrou a quinta-feira (4) em alta ante o real, na maior cotação em quase dois meses, com os investidores cautelosos sobre os próximos passos da reforma da Previdência, um dia após a Comissão Especial da Câmara ter aprovado o texto-base, e acompanhando a valorização da moeda no exterior.
O dólar avançou 0,77%, a R$ 3,1827 na venda, maior nível de fechamento desde os R$ 3,1947 registrado em 9 de março passado. Na máxima da sessão, marcou R$ 3,1961. O dólar futuro tinha alta de 0,58%.
“O texto [da reforma da Previdência] passou, mas o governo teve que negociar muito para chegar onde chegou, fez muitas concessões. Há preocupação agora com o que vai ter que ceder para conseguir aprovar em plenário”, comentou a diretora de câmbio da AGK Corretora, Miriam Tavares.
Na noite passada e após flexibilizações e horas de debate, a Comissão Especial da reforma da Previdência aprovou o texto-base da proposta, considerada essencial para colocar a economia nos eixos, mas o placar não indicou vitória com folga mais à frente no plenário da Câmara dos Deputados. A avaliação política é de que o governo do presidente Michel Temer ainda não tem maioria para garantir vitória na Casa.
O texto foi aprovado por 23 dos 37 integrantes da comissão, o equivalente a 62% dos votos. Por se tratar de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição), no plenário da Câmara são necessários 308 votos favoráveis em dois turnos de votação para aprová-la, ou 60% dos deputados.
A Comissão Especial ainda precisa votar os destaques ao texto principal, o que pode abrir mais concessões ainda ao texto original. O Palácio do Planalto decidiu esperar a votação da reforma trabalhista pelo Senado para só então tentar aprovar a Previdência, disseram à Reuters fontes palacianas na véspera.
Em evento em São Paulo nesta quinta-feira, o Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, defendeu que o projeto não seja “fundamentalmente” alterado daqui para a frente. Segundo ele, as alterações que já ocorreram estão dentro de nível previsto.
A valorização do dólar ante o real também foi influenciada pelo mercado externo, em dia de forte recuo dos preços das commodities e após o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, ter deixado a porta aberta para aumento dos juros já em junho. O dólar subia ante divisas de países emergentes, como os pesos chileno e mexicano e o rand sul-africano. Ante uma cesta de moedas, bastante exposta ao euro, entretanto, o dólar caía 0,5%.
O euro subia ante o dólar depois que o candidato de centro na eleição presidencial francesa Emmanuel Macron foi considerado vitorioso no debate com Marine Le Pen antes da disputa em segundo turno neste fim de semana. À tarde, o euro atingiu a máxima de quase seis meses contra o dólar depois que a Câmara dos EUA aprovou o fim do Obamacare.
A expectativa é de que a cautela predomine nos próximos dias, mas os investidores podem respeitar o patamar psicológico de R$ 3,20 .
“O mercado tem se autorregulado. Mas mesmo que feche acima desse nível, isso não deve desencadear uma atuação do Banco Central. Não temos visto falta de moeda no mercado”, acredita o diretor de operações internacionais do Banco Paulista e da Socopa, Tarcísio Rodrigues.
O Banco Central brasileiro não anunciou qualquer intervenção no mercado de câmbio para esta sessão. Em junho, vencem US$ 4,435 bilhões em swap cambial tradicional, equivalente à venda futura de dólares.
R7