“Por que você parou de beber? Você não parecia ter um problema com a bebida”, perguntou meu amigo Brad quando saímos para jantar recentemente.
A pergunta me surpreendeu porque foi feita dois anos depois de minha decisão de “dar um tempo” no álcool. Ele estava examinando a lista de vinhos, e percebi que queria minha companhia para compartilhar uma garrafa de rose francês. Então decidi contar a verdade.
“Para recuperar o controle da minha depressão.”
Com 50 e tantos anos, minha antiga depressão começou a piorar, embora eu não tenha percebido no início. Continuei a beber moderadamente, dois copos de vinho na maioria dos dias da semana, com um Manhattan por mês.
Então dois meses muito escuros e tempestuosos me sacudiram tremendamente, deixando-me em um buraco negro de desespero enquanto a depressão tomava conta de mim. Na minha primeira consulta de terapia, o psicofarmacologista me ouviu com atenção e depois me aconselhou sem rodeios: “Pare de beber por um mês”.
O psiquiatra queria saber se eu controlava minha ingestão de álcool ou se ela me controlava. Ele explicou que nos tornamos mais sensíveis aos efeitos depressivos do álcool à medida que envelhecemos, especialmente na meia-idade, quando a química do nosso corpo muda e estamos mais propensos a tomar vários remédios que podem interagir com o álcool e uns com os outros.
Por ordens do médico, parei de uma vez de ingerir álcool. Quando voltei lá um mês depois e afirmei que não havia tocado em um drinque desde a minha visita anterior, ele ficou satisfeito de saber que eu não tinha “um problema ativo com o álcool” e me contou que eu podia beber o que ele considerava moderadamente: não mais do que dois copos de vinho por dia e nunca em dias seguidos. Ele também sugeriu que eu mantivesse um diário.
Hoje, o número de americanos tomando antidepressivos é maior do que nunca. A incidência quase dobrou entre 1999 e 2012, aumentando de 6,9 para 13 por cento, segundo um estudo do JAMA. O uso de antidepressivos cresce com a idade, com mais de uma em seis pessoas acima dos 60 anos necessitando de medicamentos para a depressão.
As empresas farmacêuticas erram na hora de avisar sobre os problemas, advertindo aqueles que tomam os remédios para “evitar o álcool”. O álcool em si é um fator depressivo e pode piorar a doença, embora poucos estudos tenham explorado as implicações clínicas de misturá-lo com os antidepressivos. O doutor Daniel Hall-Flavin, professor associado de Psiquiatria da Clínica Mayo que estuda vícios, afirma: “Apesar de certos indivíduos serem capazes de tomar um drinque ocasional sem sofrer complicações, isso não pode ser generalizado para toda a população, porque algumas pessoas podem ter interações medicamentosas”.
O psicólogo clínico Andrew Solomon, um dos deprimidos mais conhecidos do mundo por causa de seu livro “O Demônio do Meio-Dia: Uma Anatomia da Depressão”, não pode oferecer uma orientação muito precisa: “Definitivamente varia dependendo de como estou me sentindo em geral”, afirmou quando perguntei sobre seus hábitos. “Quando estou de bom humor, encaro com mais tranquilidade; quando me sinto mais frágil, sou mais cauteloso.”
“As pessoas não sabem”, explica o doutor Richard A. Friedman, professor de Psiquiatria Clínica, diretor de Psicofarmacologia Clínica do Weill Cornell Medicine, de Nova York, e colaborador ocasional do The New York Times. “Simplesmente não há bons estudos sobre a existência de uma quantidade segura de ingestão de álcool enquanto o paciente está tomando antidepressivos, e é por isso que temos tantas opiniões diferentes dos médicos, indo de nada a moderadamente, o que quer que isso seja.”
Friedman nos lembra de algo que já sabemos: “O risco de abuso de álcool e de problemas de dependência para quem sofre de depressão é mais ou menos o dobro do risco das outras pessoas”. E se existe uma condição psiquiátrica, como transtorno bipolar, diz ele, a possibilidade de surgir uma desordem relacionada à ingestão do álcool é seis a sete vezes maior.
Ele observa que alguns remédios podem ser mais perigosos do que outros quando combinados com o álcool. E faz um alerta específico sobre o Wellbutrin, preferido por muitos pacientes porque quase não possui efeitos colaterais relacionados ao sexo; infelizmente esse antidepressivo, quando combinado com o álcool, pode aumentar a probabilidade de uma convulsão.
O Lexapro, o antidepressivo que eu tomo, pertence a uma classe amplamente prescrita de antidepressivos conhecidos como inibidores seletivos da receptação de serotonina e não é melhor nem pior, em relação ao álcool, do que outros do mesmo estilo.
Friedman acrescenta que um tipo mais antigo de antidepressivo conhecido como inibidores da monoamina oxidase, ou MAOIs (na sigla do nome em inglês), pode ser particularmente perigoso quando combinado com bebidas alcoólicas. O álcool contém quantidades variáveis de tiramina, uma substância natural também encontrada em alguns alimentos como queijos envelhecidos e carnes curadas que, quando combinados com esses medicamentos, podem fazer com que os níveis de pressão arterial disparem.
Então o que fazer? Friedman sugere uma experiência: tentar tomar um drinque duas vezes por semana ou menos. Se não surgir nenhum problema, como a volta dos sentimentos de depressão ou de ansiedade, ou uma interrupção do sono, a pessoa pode manter esse nível bastante moderado de ingestão de bebidas alcoólicas. Esses efeitos colaterais podem se tornar aparentes no dia seguinte ou levar dias ou semanas para se desenvolver, avisa ele, especialmente com níveis mais altos de ingestão de álcool.
“Muitas pessoas não reconhecem nem fazem essas conexões”, explica, então pensam que podem continuar a beber – ou começar a beber mais. Não podem. A verdade é que todo mundo que toma antidepressivo deveria primeiro conversar com o médico antes de tomar qualquer bebida alcoólica.
Quanto a mim, minha experiência sobre quanto beber foi ambígua: mesmo meio copo de vinho abre as portas da armadilha da depressão em minha cabeça. A abstenção mantém essas portas fechadas e minha depressão afastada. Pelo menos por enquanto.
uol