Imagine que você está no meio de um ato sexual e começa a passar mal. Pode ser que seu coração esteja entrando em sofrimento ou que você esteja sofrendo um AVC (acidente vascular cerebral). Sim, é possível morrer durante o sexo. Mas calma, a cena, bastante mórbida, tem mais chances de acontecer na ficção do que na vida real.
“Essas fatalidades, geralmente, são causadas por algum problema de saúde prévio, não pelo sexo em si”, comenta Claudio Gil Araújo, médico do esporte e professor do Instituto do Coração da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
O médico é coautor de uma revisão publicada em 2016 no periódico científico Canadian Journal of Cardiology (Revista Canadense de Cardiologia, em tradução livre), que levantou os riscos cardiovasculares do ato sexual.
Os dados encontrados em quase 130 artigos foram baixíssimos. A morte cardíaca súbita, um evento raro por si só, apresentou uma taxa de ocorrência de 2% em todas as mortes relacionadas à atividade física – das caminhadas leves às práticas extremas.
“O sexo é considerado um exercício de baixa intensidade, ou seja, com menor risco ainda”, comenta Araújo. “Um adulto saudável pode até morrer durante o sexo, mas é mais fácil ele ganhar na Loto sozinho.”
Em boa parte dos casos, as mortes estão ainda relacionadas ao abuso de substâncias químicas, como drogas, estimulantes e álcool.
Segundo o cardiologista Maurício Barbosa, elas podem sobrecarregar o coração e levar ao estresse do órgão, prejudicando seu funcionamento. Existem ainda os casos de doenças cardíacas não diagnosticados.
Quem corre riscos?
“Cardiopatas ou doentes pulmonares têm mais riscos e precisam ser mais orientados”, explica Barbosa.
Os problemas cardíacos considerados mais perigosos são a doença coronária grave, a insuficiência cardíaca e os pacientes com ponte de safena. Após um infarto, é preciso ainda esperar cerca de dois meses para a recuperação completa e, assim, voltar gradativamente à vida sexual.
Para ajudar doentes cardiovasculares a prevenir essas fatalidades ou outras intercorrências médicas durante o sexo, a pesquisa de Cláudio Araújo levou à criação do método KiTOMI – acrônimo para os termos em inglês beijo, toque, sexo oral, masturbação e transa, respectivamente. Por esse esquema, os pacientes são divididos em três grupos de risco: baixo, intermediário e alto risco.
Conforme a gravidade, vão sendo indicadas as atividades sensuais que os cardiopatas podem realizar. Funciona assim: pacientes de baixo risco podem fazer tudo (KiTOMI); os intermediários precisam evitar o ato em si (KiTOM); e os de alto risco estão liberados apenas para as interações leves: beijos e toque (KiT).
Homens correm mais risco que mulheres
É importante lembrar ainda que os homens têm mais riscos que as mulheres. Para cada dez homens que morrem transando, apenas uma mulher vem a falecer. A medicina ainda não sabe explicar as razões para essa diferença, mas há especulações que vão das diferenças hormonais à intensidade da atividade física durante o ato.
uol