No total, 165 vacinas estão sendo pesquisadas para prevenir a covid-19, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde). Seis estão na terceira e última fase de testes, que vai avaliar se elas protegem contra a doença. A seguir, o pediatra Juarez Cunha, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), responde a algumas dúvidas sobre vacinas.
Haverá uma única vacina capaz de imunizar a todos, de diferentes faixas etárias? Ainda não se sabe. Mas é possível que existam vacinas diferentes para pessoas de faixas etárias distintas ou doses diferentes de uma mesma vacina, indicadas também de acordo com a idade e perfil de cada um.
É possível tomar mais de uma vacina contra covid-19? Não. “O que mais se quer é que existam várias vacinas aprovadas. Quanto maior o número, maior a possibilidade de contemplar toda a população, mas uma pessoa não pode tomar duas vacinas ao mesmo tempo”, afirma Cunha. Fazer isso pode gerar problemas graves de saúde, pois desequilibra a resposta imunológica do organismo.
Após a conclusão da fase 3, o que deve ser feito para que a vacina seja disponibilizada em larga escala? Após a finalização desta etapa, são publicados todos os dados obtidos. Eles permitem avaliar a segurança e eficácia da vacina. Então, os órgãos de fiscalização de cada país poderão decidir se concedem aval para que o imunizante seja disponibilizado à população. “Só depois disso que se usa a vacina em massa, e isso vai depender da capacidade produtora instalada”, explica Juarez. O governo brasileiro, por exemplo, prepara uma Medida Provisória para viabilizar o acordo de transferência tecnológica e de produção da vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford a fim de possibilitar a produção de 100 milhões de doses pelo Instituto Bio-Manguinhos, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Já o Instituto Butantan planeja produzir 240 milhões de doses da Coronavac, segundo o governador de São Paulo, João Doria. As duas estão na fase 3 de testes, inclusive em voluntários brasileiros.
Embora as tecnologias das vacinas sejam diferentes, todas vão provocar o mesmo tipo de imunização? Juarez explica que, no geral, as vacinas que utilizam uma versão atenuada do agente causador de doenças conseguem produzir uma resposta imune melhor. “Mas também há mais chance de provocar um quadro semelhante à doença”, pondera.
Nenhuma das vacinas pesquisadas para a covid-19 utilizam versões atenuadas do coronavírus, porque isso exigiria mais tempo de pesquisa. O que existe são vacinas feitas com coronavírus inativado, caso da CoronaVac e da Sinopharm, e com versões mais brandas de outros vírus, caso da vacina de Oxford, em que um adenovírus que causa resfriado em chimpanzés foi geneticamente modificado com a proteína ‘spike’ do coronavírus. “A maioria das tecnologias está relacionada a essa proteína, que faz com que o vírus se replique”, observa.
Quais os desafios impostos pela desigualdade econômica e social em relação ao acesso à vacina? Juarez destaca que é preciso pensar na situação de países mais pobres e vulneráveis, pois eles não têm capacidade instalada para produzir e ampliar a fabricação de vacinas. Por outro lado, há aqueles que investiram muito dinheiro nos potenciais imunizantes contra a covid-19 para garantir o acesso a doses, como é o caso dos Estados Unidos. O fato de ser um país cobaia das vacinas testadas em humanos também garante uma posição melhor na fila de espera por elas.
R7