Os policiais militares da guarnição que perseguiu e matou Márcio Pérez a tiros, no bairro de Armação, em Salvador, reforçaram a versão de que a morte da vítima foi causada por acidente em boletim de ocorrência. O caso foi registrado na 9ª Delegacia do Boca do Rio.
No documento, os PMs afirmaram que quando se aproximaram do veículo de Márcio encontraram ele “aparentemente ferido”. Os militares informaram ainda que ele e a amiga foram levados para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Marback, no Imbuí.
Na versão da ocorrência, os policiais relataram que procuravam suspeitos em um veículo com as mesmas características do carro de Márcio. Eles disseram que foram chamados por populares para localizar um grupo de praticou diversos assaltos na região.
Os militares disseram ainda que após acionarem a sirene, os suspeitos no veículo não pararam e dispararam contra a guarnição, que revidou.
Os suspeitos teriam fugido do local no mesmo momento em que o carro com Márcio teria passado pela guarnição em alta velocidade, e colidiu no canteiro. A versão dos PMs contradiz a versão das testemunhas, que alegam que a viatura perseguiu o carro de Márcio e atirou contra ele.
O documento diz ainda que o óbito de Márcio foi constatado quando ele chegou na UPA, pelo médico que o atendeu. Na ocorrência, os policiais relatam que a vítima foi baleada, mas não deram detalhes de como o caso aconteceu.
Os policiais envolvidos no caso foram afastados das ruas. A Procuradoria-Geral da Bahia determinou que dois promotores de Justiça atuem no inquérito policial do caso.
A Polícia Militar informou que a equipe envolvida no assassinato de Márcio não é responsável pelo patrulhamento na área onde a vítima foi perseguida. A PM não disse, no entanto, a qual área pertencem e nem o que os policiais faziam no local.
Versão das testemunhas
A versão dos policiais é diferente da versão oferecida pela amiga de Márcio, que estava no carro com a vítima, e por outras testemunhas. Em contraponto aos militares, as testemunhas dizem que Márcio chegava em casa quando a viatura se aproximou.
Os policiais estavam com os faróis altos e com o giroflex desligado. A vítima não percebeu que se tratava de uma equipe da PM e se assustou. Márcio fugiu do local achando que se tratava de um assalto e foi perseguido pelos policiais.
A guarnição atirou várias vezes contra o carro dele, que foi baleado na nuca. A vítima ainda conseguiu dirigir por alguns metros, antes de perder o controle do carro, capotar e subir em um canteiro.
Caso
O caso aconteceu na Avenida Simón Bolívar, que fica no bairro de Armação, na noite de quarta-feira (19). Márcio foi morto quando chegava em casa, de carro. Ele estava com uma amiga, que não se feriu.
O corpo de Márcio foi velado na sexta-feira (21), antes de ser levado para a Espanha, onde foi enterrado. Familiares e amigos da vítima compareceram à cerimônia. Entre eles, a mãe de Márcio, que mora na Espanha e veio para o Brasil buscar o corpo do filho.
Na sexta-feira (21), policiais envolvidos na ação foram ouvidos na sede da Corregedoria da Polícia Militar e no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Márcio era formado em economia e tinha uma empresa de consultoria. Ele deixa duas filhas, uma de 9 e outra de 13 anos. As meninas descobriram a morte do pai nas redes sociais.
G1