Energia solar ainda representa menos de 2% de toda eletricidade gerada no País, mas empresários estão otimistas
Chico Araújo*
Apesar do sol intenso em quase todo o ano, o Nordeste do Brasil investe muito pouco na produção de energia solar. No Brasil, apenas 2% da matriz energética é gerada através de placas fotovoltaicas. Mas, a situação está mudando. Na segunda quinzena de agosto, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) registrou recorde de geração instantânea na região, batido no último dia 26. O pico foi de 2.336 megawats (MW) – o suficiente para atender 20% de toda a demanda dos nove estados. O uso acontece principalmente em residências, mas muitas empresas vêm investindo na aquisição de painéis, reduzindo custos e apostando na sustentabilidade.
Em Salvador, pequenas indústrias têm apostado na instalação de sistemas fotovoltaicos e festejam os resultados. É o caso da Camisas Polo Salvador, que em 2014 implantou as 12 primeiras placas. Hoje são 118. O investimento total foi de R$ 170 mil, mas os frutos começaram a aparecer em 2017, reduzindo à metade o custo no consumo de energia da fábrica, que conta com 50 empregados.
“Apostamos naquele momento, quando era bem mais cara a instalação. Os resultados foram os esperados. Atualmente, economizados R$ 4 mil por mês, em média”, conta o empresário Hari Hartmann, um entusiasta da sustentabilidade. Antes da instalação dos painéis, ele buscou a eficiência energética da fábrica, reduzindo o consumo, através pequenas ações, como substituição de lâmpadas comuns por de LED, uso de sensores de presença, motores mais econômicos e até mesmo melhorando a circulação de ar na área de produção com dois ventiladores/exaustores gigantes. Com 6,5 metros e 3,5 metros de diâmetro.
“Sabíamos que o investimento na produção de energia solar somente seria compensado em dois a três anos. Investimentos em alternativas e na mudança de cultura. As medidas, inclusive, melhoraram a qualidade do ambiente de trabalho”. As ações voltadas à redução no consumo de energia vieram agregadas a outras voltadas para zerar a produção de resíduos e também economizar no consumar de água. “É positivo também pensar no meio ambiente. Temos um sistema de captação de água de chuva para suprir as descargas dos banheiros, lavagem de pátio e mesmo para molhar as plantas; e demos destino correto a todos os resíduos produzidos na fábrica”.
Hartmann criou um sistema que direciona o lixo seco para cooperativas de reciclagem, o orgânico para transformação em adubo e as sobras de produção são doadas para creches que as reciclam em estopas, almofadas, fuxicos e outros produtos. Essas ações garantiram à empresa a certificação “GBC Zero Energy”, concedida pela Building Council Brasil, ong que estimula a sustentabilidade em indústrias no País.
Economia de água
A Camisas Pólo Salvador está localizada no Condomínio Bahia Têxtil, na Rua do Uruguai, em Salvador. No local, estão instaladas 20 fábricas e cinco delas vêm apostando em soluções sustentáveis. Herbert Castro, da Hebert Uniformes, também se tornou entusiasta da energia solar. “Iniciamos a instalação das placas há um ano e meio e já estamos próximos de pagar os custos. Deixamos de pagar mais de R$ 15 mil na conta de luz”.
No caso da Herbert, a energia produzida no telhado da fábrica da Rua do Uruguai é suficiente também para abater o consumo de outra unidade industrial e das duas lojas da empresa. “O investimento é alto, mas existem linhas de crédito que possibilitam o equilíbrio entre o que esta sendo economizado e o que está sendo pago. Nosso cálculo é de que em até três anos já tenhamos recuperado o investimento”.
A atitude ecologicamente correta também despertou no empresário outras ideias visando a redução de custos e parceria com o meio ambiente. Hebert Castro instalou sistemas de captação de água pluvial nas fábricas e lojas para uso exclusivo nas descargas de banheiro. “Colocamos tanques de 2,5 mil litros que alimentam os sanitários por gravidade. Nossa economia no consumo e água chega até a 70%. O consumo dos vasos sanitários é de 6 litros por uso, chegando a mil litros dia. Hoje, economizados quase R$ 2 mil por mês”.
A produção de energia solar fotovoltaica e também a de energia eólica aparecem como soluções para futuro da humanidade. A energia solar equivale a 1,85% do consumo e a gerada pela força dos ventos, 10%. No Brasil, as hidrelétricas são as principais geradoras de energia, tanto para residências quanto empresas e indústrias. A dependência é superior a 65%. As térmicas e as nucleares fecham a demanda nacional.
- Solar fotovoltaica: 1,85%
- Nuclear: 1,20%
- Eólica: 10,06%
- Térmica: 21,44%
- Hidrelétrica: 65,45%
(Dados da ONS)
A projeção da ONS é do crescimento da geração fotovoltaica, para 4% e eólica para 13%, até 2025. Esse crescimento substituiria a perda com as hidrelétricas, bastante afetadas esse ano com a maior estiagem enfrentada pelo País em 91 anos.
Viabilidade
O empresário Geert Schoofs, diretor da Renova Sol, garante que a instalação de sistemas fotovoltaicos é viável para tanto para residências ou empresas que tenham conta de luz a partir de R$ 200/mês. “Quanto maior o consumo, mais rápido o retorno. O investimento é recuperado a partir de 3 anos da instalação”. Segundo ele, o número de placas a serem instaladas vai depender da necessidade de consumo do cliente. O sistema funciona da seguinte forma: a energia gerada é lançada na rede do operador (a Coelba, no caso da Bahia) e o cálculo se dá em cima da quantidade gerada versos o consumo. Todo cadastro é feito diretamente no site da companhia.
A projeção é feita para que haja sobra e esse crédito em quilowatts/hora é abatido na conta de consumo ou mesmo repassado para outras unidades que estejam no mesmo CNPJ ou CPF do cliente. Daí, o caso de Herbert Castro que com a energia produzida por suas placas na fábrica do Condomínio Bahia Textil, zera as contas de outra indústria e também de mais duas lojas.
“A instalação dura até 45 dias e os bancos hoje financiam até 96 meses, o que permite as empresas não elevarem os custos. Mais de 30 mil empresas no País já investiram na geração de energia por sistemas fotovoltaicos, de pequeno a grande porte. É um caminho sem volta. O Brasil é um dos países com tarifas de energia mais altas do mundo “. De fato, comprado a 28 países membros da Agência Internacional de Energia (AIE), o Brasil aparece como o 14º com maior custo; mas em tarifação, o Brasil é o segundo colocado, chegando a 40% do custo total.
- Jornalista – Editor do Diga Bahia
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