A gravidade de um traumatismo craniano, como o que matou o apresentador Gugu Liberato, aos 60 anos, depende de fatores como a dimensão do trauma, a idade e o quadro de saúde da vítima.
Segundo o neurocirurgião José Oswaldo de Oliveira Junior, da Clínica Everest, em São Paulo, um traumatismo craniano grave causa lesões no cérebro, em algumas situações irreversíveis.
“Uma caixa craniana tem um volume interno que está cabendo o cérebro e tudo o que tem lá. Quando há uma pancada, pode ter um sangramento e formar um coágulo. Vai haver competição por espaço, a pressão vai aumentar e o cérebro não consegue receber a quantidade de sangue que precisa. A morte cerebral acontece quando você tem geralmente uma pressão intracraniana tão elevada que o sangue bombeado pelo coração não consegue penetrar para nutrir os tecidos.”
Gugu, de 60 anos, foi internado após cair de uma altura de 4 m e bater com a cabeça, dentro da casa dele em Orlando, nos Estados Unidos, na quarta-feira (20). A morte cerebral do apresentador foi confirmada nesta sexta-feira (22).
Ainda de acordo com Oliveira Junior, a idade da vítima é um fator de risco.
“A pessoa idosa tem uma pequena hipotrofia do cérebro, ou seja, o conteúdo fica menor em relação ao continente, o que aumenta os movimentos internos do cérebro [em caso de choque]. O idoso está mais sujeito a ter mais sangramento no cérebro na queda, mesmo em queda leve.”
Se a pessoa tiver alguma deficiência de coagulação, seja por uso de medicamentos ou pela perda de plaquetas (comum em indivíduos que são submetidos a uma quimioterapia), o risco de ter um sangramento e não haver a coagulação adequada é maior.
“Às vezes, um pequeno traumatismo em um paciente que fez quimioterapia e esteja com uma baixa do número de plaquetas e não tenha uma coagulação normal pode levar a uma sangramento e até morte.”
A dimensão do trauma tem uma importância fundamental, segundo o neurocirurgião.
“A altura está associada à energia envolvida com o traumatismo. O cérebro, na verdade, é protegido. É a estrutura mais complexa do nosso corpo e bem protegida. Existe o couro cabeludo, o crânio, as meninges e um líquido que envolve o cérebro. Mas alguns traumatismos são tão violentos que ultrapassam tudo isso.”
Para diagnosticar a morte cerebral de alguém que tenha sofrido um traumatismo craniano severo, os médicos realizam testes clínicos, relacionados aos reflexos do paciente, e também exames, que podem ser um eletroencefalograma (para medir a atividade elétrica do cérebro) ou uma angiografia (para verificar a irrigação sanguínea do cérebro).
Além disso, acrescenta Oliveira Junior, é preciso descartar que o paciente esteja sob influência de algum inibidor de atividade cerebral (anestésico ou sedativo). Por isso, é importante que seja feita uma avaliação o mais prolongada possível para detectar a ausência de função cerebral.
“A morte cerebral é um divisor de águas entre uma pessoa que pode se recuperar e uma pessoa que já tem um quadro irreversível”, conclui o neurocirurgião.
R7