A formação das equipes multidisciplinares que implementarão os Coletivos Bahia pela Paz (CBPP), iniciativa do Programa Bahia pela Paz, foi concluída nesta quinta-feira (23) em Salvador. Realizada pela Comvida, Organização da Sociedade Civil (OSC) selecionada pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH) para operacionalizar o projeto, a capacitação teve como objetivo principal estruturar projetos executivos e definir rotinas, fluxos e instrumentos que nortearão as ações dos Coletivos. Trícia Calmon, superintendente de Apoio e Defesa aos Direitos Humanos (SUDH / SJDH), participou das atividades.
O público prioritário dos ‘Coletivos Bahia pela Paz’, formado por adolescentes e jovens negros e periféricos entre 12 e 29 anos, bem como suas famílias, foi um dos temas centrais das discussões realizadas ao longo da capacitação. As equipes trabalharam estratégias para atender de forma eficiente jovens em situações de vulnerabilidade social e econômica, como aqueles que enfrentam dificuldades para permanecer na escola; estão fora do mercado de trabalho; ou em cumprimento de medidas socioeducativas. Além disso, foram discutidos caminhos para ampliar o suporte a pessoas monitoradas eletronicamente, egressos do sistema prisional e famílias em situação de privação de liberdade.
“Tudo o que vamos fazer tem a ver com uma mudança de cultura, de como se vê as pessoas que precisam ser beneficiadas por esse programa, mas, sobretudo, enxergar que o beneficiado é, na verdade, a sociedade toda. Tá todo mundo preocupado com o cenário da violência, alguns querem resolver de um modo tradicional, e a gente quer resolver pela via da preservação da vida, do respeito aos direitos humanos. Isso é o que perseguiremos”, afirmou Calmon.
Abrangência territorial – A oficina também destacou a abrangência territorial do projeto, que atenderá comunidades de Salvador, Feira de Santana, Jequié, Lauro de Freitas, Camaçari, Simões Filho, Dias D’Ávila, Santo Antônio de Jesus e Valença. Essa distribuição requer a integração de equipes técnicas diversificadas, compostas por psicólogos, assistentes sociais, jovens aprendizes e coordenadores locais. A formação abordou o papel de cada profissional na estruturação das ações e no fortalecimento das redes comunitárias.
Mapeamento psicossocial – Outro ponto amplamente debatido foi a metodologia de mapeamento psicossocial participativo. Essa técnica, aplicada em 24 comunidades, é essencial para identificar os segmentos locais mais relevantes para a prevenção social da violência e a inclusão social de jovens. Durante a capacitação, os participantes tiveram a oportunidade de trocar experiências e aprimorar ferramentas que tornarão o mapeamento mais eficaz e inclusivo.
Intervenções urbanas planejadas – A dimensão cultural e o protagonismo social dos jovens também foram tratados, com foco em intervenções urbanas planejadas pelos próprios beneficiários do projeto. Essas atividades visam estimular a valorização da ancestralidade, o pertencimento cultural e o desenvolvimento de lideranças juvenis. A qualificação de organizações sociais locais, que já atuam na prevenção da violência e na inclusão social, também foi tema de debate, com o objetivo de ampliar o impacto das ações em cada território.
O fortalecimento do setor público, por meio de formações específicas, foi um dos eixos discutidos durante a oficina. Cursos voltados para policiais, profissionais do RAPS/SUS e do SUAS, além de percursos formativos em letramento racial e gestão educacional, foram apresentados como ferramentas fundamentais para integrar os serviços e assegurar a garantia de direitos nas comunidades beneficiadas.
As dinâmicas de grupo realizadas na oficina permitiram a construção coletiva de propostas de atividades, que serão implementadas nos Coletivos, garantindo que as ações estejam em sintonia com as demandas das comunidades e promovam o fortalecimento da cidadania entre os beneficiários.
Coletivos Bahia pela Paz
A principal estratégia comunitária para a prevenção da violência letal do Programa Bahia Pela Paz é a oferta de serviços integrados de promoção da cidadania e garantia de direitos, através dos ‘Coletivos Bahia pela Paz’. Os equipamentos serão implantados em comunidades que apresentem altos índices de violência letal intencional para atuar em estreita parceria com iniciativas municipais e do terceiro setor locais, com iniciativas estaduais nas áreas do esporte, cultura, lazer, profissionalização, empreendedorismo e redução de riscos e danos.
O Bahia pela Paz se propõe a enfrentar na Bahia, uma realidade complexa e profundamente desafiadora, que vem colocando em cheque o futuro da sociedade brasileira. Em todo o país, a violência letal vem atingindo a juventude de forma significativa. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam que, em 2022, 77% das vítimas de violência letal no Brasil eram pessoas negras e, dessas pessoas que perderam suas vidas, mais da metade eram crianças e jovens, entre 12 e 29 anos.
A iniciativa envolve diversas secretarias de Estado. São elas: de Justiça e Direitos Humanos (SJDH), da Segurança Pública (SSP), de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), Assistência e Desenvolvimento Social (Seades), de Políticas para as Mulheres (SPM), do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte – (Setre), da Saúde (Sesab), do Planejamento (Seplan), Relações Institucionais (Serin), Cultura (Secult-BA) e Casa Civil; além de órgãos do sistema de justiça; municípios e a sociedade civil organizada.