A comunidade médica vem constatando um aumento da gravidade e da quantidade de manifestações de reações alérgicas em todo o mundo. O alerta foi feito nos últimos dias, quando foi comemorada a Semana Mundial da Alergia, que em 2019 teve como tema a alergia alimentar. “As proteínas estão fazendo reações diferentes, muito mais complexas, talvez uma forma de defesa do corpo para essa mudança alimentar que a gente tem visto”, apontou o médico José Carlison Oliveira, presidente da Associação Baiana de Alergia e Imunologia (Asbai) e membro do Comitê Nacional de Alergia Alimentar.
Ao Bahia Notícias, o especialista explicou que é preciso ter atenção à doença, que gera impactos na qualidade de vida, nos gastos e na rotina de muitas pessoas, principalmente quando não tratada de forma adequada. “A sociedade precisa entender que a gente está passando por um momento complexo. A alergia ficou como uma doença não entendida, mas hoje está virando uma coisa complexa, e a gente vê que muitos dos quadros graves que se vê no adulto são decorrência de processos alérgicos não resolvidos”, evidenciou José Carlison.
Segundo o médico já é “muito bem documentado” que os casos de alergia e intolerância têm sido mais recorrentes, inclusive em adultos que passam a ter problemas já com idade avançada. “O mais importante não é só o aumento da quantidade, porque o mundo tem muito mais gente, mas é um aumento da gravidade das formas atípicas”, afirmou. “O que a gente está vendo é que os adultos estão tendo mais reações que não tinham. E também cresce a quantidade de alimentos que antes eram bem tolerados no nosso meio e que hoje começam a fazer alergia”, inteirou, ao afirmar que, no futuro, todas as pessoas vão ficar um pouco intolerantes, dando o leite como exemplo.
O médico chamou a atenção para os vários tipos da doença e lamentou que ela seja menosprezada pela sociedade. Na avaliação dele, é dada pouca importância, principalmente para as manifestações como rinite e asma. “Na Bahia, cerca de 27% das pessoas tem asma ou rinite, é quase um terço da população. Olha o impacto que isso tem na saúde. E a grande maioria não trata porque são doenças que estão aí o tempo inteiro, são doenças crônicas”, lamentou Oliveira, que esclareceu ainda uma confusão comum entre as pessoas: a diferença entre alergia e intolerância: “Alergia é uma reação, uma resposta exagerada a alguma proteína de um alimento. Não é a um alimento todo, são proteínas específicas. Enquanto a intolerância é um problema de digestão de alguns açúcares. Neste caso o paciente não consegue digerir. Não tem proteína envolvida, tem problema gástrico”.
IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO
O presidente da Associação Baiana de Alergia e Imunologia destacou a importância do diagnóstico e tratamento adequado. O médico apontou a deficiência de profissionais especialistas em alergia e imunologia atendendo da rede pública de saúde da Bahia. “Em Salvador temos o Hospital das Clínicas, com seis médicos, e o serviço no Octávio Mangabeira, com cinco médicos, que fazem consulta à população. E agora duas médicas no Martagão Gesteira, que pegam mais crianças. É isso que a gente tem para a Bahia toda”, lamentou.
Para ele, a deficiência de médicos alergologistas poderia ser compensada, ao menos em parte, com a preparação adequada de médicos generalistas nas unidades básicas de saúde. “Estes profissionais, se preparados, poderiam identificar corretamente a doença e saber quando há necessidade de encaminhar o paciente para um especialista em alergia”, sugeriu, reforçando que a agenda de atendimentos no Hospital das Clínicas já está lotada até o mês de novembro deste ano.
Para permitir essa identificação, a história clínica do paciente foi apontada pelo especialista como fundamental, mais até do que os testes feitos em laboratório. “No paciente que tem alergia, o diagnóstico é feito embasado em uma história clínica muito bem feita, quando ele tem histórico de uma resposta alimentar que se repete, que está associada a esse alimento. […] Nem sempre o exame [laboratorial] positivo indica que você tem a doença alérgica. Se você está tolerando o alimento, não pode tirar isso da vida. Aquilo é um marcador apenas, não quer dizer que tenha a doença”, deixou claro o médico sobre os testes alérgicos.
A confirmação de intolerância é diferente da de alergia. O alergologista explicou não existem maneiras de medir a quantidade de enzimas digestivas. Para o diagnóstico, o paciente é submetido a um teste em que ele consome o açúcar em que há desconfiança e é observada a resposta do organismo. O profissional responsável pelo tratamento e acompanhamento dos pacientes com intolerância alimentar é o gastroenterologista.
“Alergia tem possibilidade de cura, por ser manifestação imunológica. Quando se deixa de se expor àquele alimento, o sistema entende que aquilo que não está sendo apresentado e a reação vai caindo”, acrescentou.
AVANÇOS TECNOLÓGICOS
Graças às tecnologias e pesquisas recentes os pacientes portadores de alergias, principalmente as alimentares, têm tido a oportunidade de ter uma maior qualidade de vida, conforme apontado pelo presidente da Asbai.
“A tecnologia contribuiu para entender mais, porque a gente já tem como detectar quais proteínas causam os episódios e se pode quebrar essas proteínas e aquele alimento pode ser acessado pela pessoa com alergia. Ao mesmo tempo, para quem tem intolerância, existe a possibilidade de uso de enzimas digestivas que dão conforto maior para o paciente”
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