Após ser chamado de “calça curta” por ter sido projetado, inicialmente, para ter seis quilômetros de extensão e ser motivo de piada e descredito por ter suas obras, praticamente, paralisadas durante 12 anos, o Sistema Metroviário Salvador – Lauro de Freitas é considerado, neste momento, a maior obra urbana da América Latina.
Por conta das polêmicas geradas em torno da integração deste modal com o sistema rodoviário da cidade, a Comissão Especial de Desenvolvimento Urbano (CEDUrb) da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBa), presidida pela deputada estadual Maria del Carmen (PT), realizou audiência pública, nesta quarta-feira (21), na ALBa para tratar do tema.
Presente na atividade, o secretário estadual da Casa Civil, Bruno Dauster disse que, antes de o Governo do Estado assumir a responsabilidade do metrô, em 2013, deixou claro que uma das condições seria a de que houvesse integração entre os modais para a alimentação do sistema metroviário, sem a qual não haveria sentido realizar uma obra deste porte. Dauster lembrou que, até o momento, a Prefeitura de Salvador não fez a integração para atender aos 35 quilômetros de malha já entregues e, além disso, vem afirmando que não vai permitir o Governo do Estado implantar o serviço de ônibus, previsto por lei, para alimentar o metrô.
Assim, o secretário afirmou que “o Estado não vai bancar a ineficiência do sistema de ônibus, porque isso significa tirar dinheiro da população para dar aos empresários. Queremos manter o contrato e o que está na lei, aí a prefeitura diz que, neste caso, não vai integrar. Dizemos o tempo todo: acelere a integração e se não fizerem, nós vamos fazer a nossa, com ônibus saindo da Lapa para a Barra, da LIP ao Rio Vermelho, do Retiro à Calçada; do Retiro ao Comércio. Ou seja, vamos seguir o contrato que diz que pode ser implantado esse sistema alimentador em um raio de cinco quilômetros do trajeto do metrô. Vamos fazer isso gradativamente”.
Geração de emprego
Bruno Dauster ainda disse que, a serviço proposto pelo Governo do Estado vai gerar emprego, já que cada ônibus emprega cerca de cinco rodoviários. Ele também destacou que “além de ar condicionado e elevador para acesso de cadeirantes, terão cobradores”. Entretanto, ele afirmou que, com a medida, o estado não quer criar problemas para os empresários de ônibus de Salvador “porém, nós não vamos nos deixar ser chantageados por uma integração que nunca acontece”.
Na oportunidade, o presidente da Companhia de Transporte do Estado da Bahia (CTB), Eduardo Copello, lembrou que, em 2015, Salvador tinha a segunda pior mobilidade do país, com uma média de 128 minutos de deslocamento diário e que a integração dos sistemas de transporte público é pensada para reduzir este tempo e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. “Estamos nos esforçando para fazer com que entendem que essa integração é um ganho para as pessoas por ampliar a sua liberdade de escolher o melhor e menor caminho a percorre”, frisou Copello.
BRT para concorrer com o metrô
Presidente da Cedurb e proponente da audiência, a deputada Maria del Carmen destacou que “com tantas carências que a cidade tem, o prefeito resolve investir quase R$ 1 bilhão para implantar o BRT (Bus Rapid Transit), da Estação da Lapa à região do Iguatemi, uma área já atendida pelo metrô, para criar concorrência. E está claro o motivo disso. Temos que parabenizar ao governador Rui Costa pela coragem de entrar nesta discussão, deixando claro que os interesses da população estão acima de que qualquer outro”.
Interesses políticos e econômicos
Militante do Movimento Passe Livre e da Frente Brasil Popular, Walter Takemoto afirmou que, “há interesses políticos e econômicos poderosos por trás da decisão do prefeito ACM Neto de não integrar a tarifa e criar problemas para agilizar a ampliação do sistema metroviário, em Salvador”. Como justificativa, Takemoto lembrou que “em 2013, a própria Prefeitura de Salvador anunciou o balanço do lucro das empresas de ônibus, que era de R$ 120 milhões. Em São Paulo, no mesmo período, o lucro declarado foi de R$ 150 milhões. Só o reajuste dado esse ano às empresas, em Salvador, com os 30 centavos, vai representar, em dezembro, um acréscimo de R$ 100 milhões em seus cofres. Se a gente levar em consideração que as empresas acabaram de ganhar, por 25 anos, a operação do7 sistema de ônibus na capital por R$ 175 milhões, que vão ser pagos ao longo do período da concessão, só os dois últimos reajustes feitos na tarifa já cobriu o que eles pagaram”.
Investimento
A concessão do Sistema Metroviário Salvador – Lauro de Freitas é uma Parceria Público-Privada (PPP), com investimentos na ordem de R$ 5,6 bilhões, entre o Grupo CCR e o da Bahia, será composto por duas linhas, com total de 42 km de extensão, 23 estações e 10 terminais de ônibus integrados. Atualmente, a Linha 1 é composta por 8 estações em operação, 12 km de extensão que vai da Estação Lapa à Estação Pirajá. A Linha 2, com 12 estações, está em ritmo acelerado de obras. O término da obra está previsto para 2017. O projeto prevê ainda a expansão da Linha 1, de Pirajá até Águas Claras.
Presentes
Também participaram da atividade o secretário municipal de Trânsito e Transporte de Lauro de Freitas, Capitão Olinto; o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-Ba), Marco Amigo; o presidente do Sindicato dos Engenheiros da Bahia (Senge-Ba), Ubiratã Felix; a superintendente de Mobilidade da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano (Sedur), Grace Gomes; o arquiteto e urbanista Carl Von Hauenschild, membro do Fórum A Cidade Também é Nossa; Idelmário Proença, dirigente do Movimento Sem Teto de Salvador (MSTS); Rita Sebadelhe, coordenadora da Frente de Luta Popular; o diretor do Núcleo de Apoio ao Desenvolvimento de Pirajá (NADP), Fábio Ferreira, dentre outras representações.