Com o aumento da influência das mídias digitais e uma constante exposição a imagens que reforçam padrões de beleza, a insatisfação corporal se torna um problema comum, apesar de grave. Tal realidade contribui para uma baixa autoestima, fator que necessita de atenção, principalmente no Setembro Amarelo.
O reforço de padrões de beleza europeus nas redes sociais e até mesmo na televisão, inalcançáveis para grande parcela da população, impede a valorização de traços diversos. Segundo Jéssica Magalhães, biomédica esteta especialista em pele negra, com mais 10 anos de experiência, é essencial entender que não há um único padrão para a humanidade. “Sempre ressalto a beleza da ancestralidade e a imensidão de ser um indivíduo único. Não há outro de você no mundo e isso não deve ser perdido na busca de um padrão que nunca pensou em você”, destaca.
O estudo “How We See Us: An Examination of Factors Shaping the Appraisal of Stereotypical Media Images of Black Women among Black Adolescent Girls”, publicado na revista de divulgação científica Sex Roles, mostra que a manutenção de estereótipos e uma falta de representatividade precisa na mídia são fatores para a diminuição da autoestima e desenvolvimento de relacionamentos interpessoais mais precários.
Nesse sentido, desenvolver alternativas de valorização de traços étnicos é essencial para uma maior aceitação de corpos que não correspondem ao padrão de beleza instituído historicamente. Assim, Jéssica trabalha uma abordagem emergente em seus procedimentos, pautada por uma descolonização da estética. “Por muito tempo estivemos presos na ideia de que a beleza estava relacionada a uma única forma. Ainda há muita pressão por esse padrão, mas o acesso a outras realidades, corpos e, principalmente, à nossa beleza ancestral tem permitido fortalecer nossa autoestima”, completa.
A nova abordagem surge como um contraponto a uma constante busca por procedimentos estéticos não condizentes à pele preta, reforçados pela forte influência das redes sociais na maneira como os usuários enxergam seus corpos. Essa procura por adequação aos padrões de beleza, inclusive, pode ser invasiva a diferentes corpos.
Desse modo, Jéssica reforça a importância de procurar profissionais especializados no cuidado de traços étnicos. “A pele negra tem uma reação singular. Não se comporta como as outras etnias e por isso até uma limpeza de pele pode ser invasiva e gerar danos. O mais importante é encontrar profissionais que realmente entendam o que diferencia a pele negra das demais para assim obter resultados satisfatórios”.
A biomédica esteta ainda destaca que o cuidado com a própria imagem traz benefícios, principalmente no que tange a uma maior aceitação do próprio corpo. Com isso, a ascensão de movimentos de valorização de traços não-eurocêntricos é essencial para populações não-brancas. Unido a isso, uma maior representatividade nas mídias também é relevante para reforçar esse cuidado a partir de um estímulo de identificação e aceitação enquanto indivíduo.