O encantamento de Bárbara Samira Costa Damasio, 17 anos, 2° ano, ao relatar sua experiência primeira de conhecer de perto a trajetória do Ilê Aiyê, é bonito de se ver. “Essa viagem foi muito significativa para mim, principalmente porque, nosso colégio, estamos envolvidos com o Encrespa, um projeto de ação antirracista, realizado durante todo o ano letivo. A oportunidade de conhecer a capital baiana e ver de perto os relatos de figuras marcantes do Ilê Aiyê só comprovam como a arte pode transformar a realidade das pessoas. Dar espaço para que pessoas negras, pobres e periféricas se expressem artisticamente, assim como fazemos em nosso colégio, é algo inspirador”, considera a estudante, completando que “conhecia o contexto de resistência negra, mas quando a gente vê de perto o trabalho é totalmente diferente e dá para ver ainda mais o quão grandioso é”.
Não menos empolgado, Guilherme Pereira, 17 anos, cursando o 2° ano do Ensino Médio, revela que a visita ao Ilê Aiyê foi uma experiência de descobertas. “Gostei de ter conhecido o lugar, de ter participado da oficina para tocar os instrumentos percussivos. Aprendi uma coisa que vou levar para a vida: quando se fala em senzala, já imaginamos ser um local fechado, com uma história suja. Mas palestra me fez ver que o nome dado à sede da entidade é um símbolo das marcas da escravidão no Brasil, usado para remeter à resistência e à luta dos povos afro-brasileiros. Aconselho as pessoas a se darem a chance de conhecer a Senzala do Barro Preto. É uma experiência única e só tenho a agradecer”, relata o aluno.
A professora Vanessa Chaves, uma das que acompanharam os estudantes à sede do ilê Aiyê, comenta sobre a parte da visita dialogada. “Foi muito interessante falarmos sobre as construções das relações étnico-raciais; a lógica de negritude; as relações com o poder e com o acesso às instâncias decisivas; a construção de um ambiente que possibilite a negritude ter uma vida digna e justa e como esses acessos foram negados historicamente; como o Ilê é uma escola de aprendizagem para além das leituras, é sobre a vida, a história, a ancestralidade; as questões sociopolíticas e por aí vai. Os estudantes se identificaram muito com essa perspectiva”, pontua. A docente conta que a viagem para a Senzala do Barro Preto foi articulada a partir do projeto Encrespa, “que é o nosso projeto de educação antirracista, nascido em 2016 com a criação de uma banda afropercussiva para alunos, ex-alunos, funcionários, pessoas da comunidade”.
A banda percussiva da escola funciona como um espaço de debate, a partir de questões relacionadas à negritude. “Nossa escola está situada em uma área periférica, de população majoritariamente negra e aí pensamos em discutir esses temas através da música. Então, o Encrespa cresce, ao longo dos anos, aliado à educação científica e se baseando no cumprimento da Lei nº 10.639, que versa sobre a obrigatoriedade do ensino de cultura e história afro-brasileira”, ressalta a educadora. O projeto, complementa, ultrapassa os muros da escola, prevalecendo seu perfil de escuta, com atividades para crianças e jovens do bairro, como aulas de percussão. “O debate sobre as possibilidades de transformação a partir do letramento racial se dá em vários espaços. A ida ao Ilê Aiyê, em especial, significou estarmos em um território educativo muito rico, mágico, de reconhecimento mútuo”, celebra.