Quatro rodovias federais foram apontadas como as mais violentas, concentrando 37,2% das mortes, pelo estudo “Acidentes Rodoviários e a Infraestrutura”, da CNT (Companhia Nacional de Transporte).
A pesquisa utilizou dados da PRF (Polícia Rodoviária Federal). Entre 2007 e 2017, 83.481 pessoas morreram nas rodovias federais, com 1.652.403 acidentes.
Segundo o estudo, esses incidentes custaram cerca de R$ 10,7 bilhões para o governo, custo dividido entre despesas hospitalares, atendimento e remoção das vítimas, remoção dos veículos, perda de carga transportada e danos à propriedade pública e privada. O valor é maior do que o investido nessas vias no mesmo ano, que foi de R$ 7,9 bilhões.
As BRs com mais acidentes entre 2007 e 2017 foram: a BR-101, que liga a cidade de Touros (RN) a São José do Norte (RS), com 12.010 mortes; a BR-116, que liga Fortaleza (CE) a Jaguarão (RS), com 11.696 óbitos; a BR-153, que liga Marabá (PA) a Aceguá (RS), com 3.912 pessoas mortas e a BR-381, que liga São Mateus (ES) a São Paulo (SP), com 3.495 vítimas fatais. O estudo separou as 100 regiões mais perigosas nas rodovias brasileiras, considerando o número de mortes em trechos de 10 km de extensão.
O R7 separou as 10 partes mais perigosas para se trafegar:
Menos acidentes, mais mortos
A frota de veículos do Brasil cresceu 95,6% nos 10 anos analisados pela pesquisa. A malha rodoviária, porém, não seguiu esse crescimento: o índice foi de 11,3%. Com a alta de veículos, houve crescimento no número de acidentes com vítimas até 2014, com 169.194 ocorrências. A partir desse ano houve uma queda no número chegando a 89.396 em 2017.
Carros e motos são os mais envolvidos nesses acidentes, responsáveis por 65,1% das mortes — foram mais de 54 mil óbitos nas rodovias em 10 anos. Caminhões corresponderam a 10,3% das mortes (8.635 óbitos) e 2,9% (2.442 mortos) foram causadas por ônibus.
Os tipos de acidentes mais comuns são colisão (57,3%), saída de pista (14,5%), capotamento (11,8%) e atropelamento (8,4%) no período de 2007 a 2017.
Diego Brandão, assessor de comunicaçã nacional da PRF, concorda com o estudo: “O maior motivo dos acidentes fatais são os causados por colisão frontal, aliada ao excesso de velocidade e, às vezes, fatores climáticos e fatores mecânicos, quando o carro perde o controle por alguma falha técnica e invade a outra pista”, diz.
O comerciante Anderson Bessa, de 48 anos, foi um dos que capotou o carro. Em 2016, ele viajava com amigos de São Paulo para ir pescar em Minas Gerais. Eles iam em quatro carros por uma rodovia estadual, próxima à BR-040, até que em uma curva a caminhonete que dirigia derrapou e capotou. No acidente, um de seus amigos perdeu todos os dentes, Bessa fraturou duas costelas e levou 10 pontos na cabeça.
O capotamento aconteceu por volta das 14h e eles só foram socorridos às 18h. “Como a estrada não tem suporte, nem pedágio, ninguém veio socorrer a gente. Só mais tarde que alguns índios que moravam lá perto vieram nos ajudar”. Após 10 dias em hospitais em Minas, estavam todos recuperados e puderam voltar para São Paulo.
Brandão, diz que o tempo para a PRF atender um chamado “depende da estrutura do local”. Estradas pouco movimentadas, que têm menos atenção da PRF, por exemplo, podem demorar mais para que o socorro chegue: “nós fiscalizamos 70 mil km com cerca de 10 mil policiais”, disse Brandão
Para o comerciante Bessa, as estradas com pedágio costumam ser melhores, “mas não são baratas”. De um modo geral, ele considera que as rodovias nacionais são boas e que a maioria dos acidentes acontece por causa da imprudência dos próprios motoristas e não, necessariamente, por questões das estradas.
Classificação das vias
As causas dos acidentes são diversas, desde a ação humana aos problemas dos veículos. Para a CNT, outra causa é o impacto da infraestrutura das rodovias nos acidentes.
O estudo classificou 50% do piso das rodovias analisadas do país como negativo (regular, ruim, péssimo), 59,2% da sinalização foi classificada como deficiente e 77,9% das vias apresentaram falhas nos projetos de construção e no relevo das estradas.
A gravidade dos acidentes nos 100 trechos mais perigosos agrava 39,2% onde o asfalto é ruim, 77,1% onde há falta de sinalização e 59,8% onde a geometria da via foi classificada como regular, ruim ou péssima.
Rodovias públicas e particulares
Segundo o estudo “Acidentes Rodoviários e a Infraestrutura”, a chance de morrer é maior ao viajar por uma rodovia de infraestrutura pública do que nas privadas.
Nas vias públicas, o índice de morte é de 12,8 a cada 100 acidentes, enquanto que nas privadas é de 11,3. As ocorrências de acidentes com vítimas nas rodovias federais de pistas simples representam 58,1% do total de acidentes registrados no período do estudo, enquanto que nas vias de pista dupla aconteceram 35,9% das mortes.
O que pode explicar mais mortes em vias públicas do que nas privadas é a infraestrutura de socorro das vítimas. “Nas rodovias com gestão de concessionárias, o atendimento é mais rápido. Eles costumam ter uma equipe que trabalha apoiando o resgate da PRF”, disse Brandão, serviço que as rodovias públicas não podem contar.
Maior chance de acidentes em rodovias boas
O estudo mostra um dado que a primeira vista parece ser contraditório: acidentes com vítimas acontecem mais em rodovias classificadas de maneira positiva (bom, ótimo) do que nas negativas (regular, ruim, péssimo). Isso pode ser explicado, onde o asfalto e a geometria da via são classificados como positivos, onde os motoristas tendem a acelear mais, segundo a CNT.
Brandão, assessor de comunicação nacional da PRF, diz que isso pode ser explicado pela negligência dos condutores. “Ao dirigirem em uma estrada boa, eles tendem ao excesso de velocidade. Alguns ainda tem sonolência no volante, falta de atenção e, às vezes, não fazem a manutenção de carro. Muitos não respeitam as regras da via”.
O estrago, porém, feito pelos acidentes em rodovias classificadas como negativas é maior do que nas boas vias. Onde a geometria é classificada como regular, ruim ou péssima, o índice de severidade do acidente é de 11,4 mortos a cada 100 acidentes, enquanto que, nos trechos ótimos e bons o índice cai para 9,9.
O que pode ser feito
Diego Brandão acredita que como boa parte dos acidentes estão relacionados a conduta dos motoristas, a educação para o trânsito pode ajudar bastante. “Mas não existe mágica. Não adianta educar o condutor e não aumentar a fiscalização e não melhorar a engenharia das vias. Todos os fatores devem ser ajustados”.
“Publicidades nas rodovias, ter uma discipilina nas escolas que oriente para o trânsito, palestras” são alguns exemplos que Brandão deu de como pode ser feita essa conscientização para reduzir o acidentes.
R7