Uma colaboração nacional – formada por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e de outras 25 instituições do Brasil, com apoio da London School of Hygiene & Tropical Medicine – avaliou os impactos na saúde dos bebês da infecção de gestantes por zika.
Publicado no The Lancet Regional Health – Americas no último dia 28, o estudo revelou que aproximadamente um terço dos filhos de mães infectadas durante a gravidez apresentou, nos primeiros anos de vida, anormalidades consistentes com a Síndrome da Zika Congênita (SZC).
Segundo a Fiocruz, essa foi a pesquisa sobre o tema que contou a maior quantidade de participantes, conseguindo detectar com mais clareza a relação entre o vírus zika e possíveis distúrbios congênitos. A necessidade dessa avaliação surgiu após uma epidemia de microcefalia no Brasil, em 2015, mas as amostras pequenas, a alta variabilidade entre as estimativas e a limitação dos dados de vigilância limitavam a possibilidade de calcular os riscos.
“As manifestações da síndrome envolvem deficiências neurológicas funcionais, anormalidades de neuroimagem, alterações auditivas e visuais e microcefalia. Tais disfunções aparecem mais frequentemente de forma isolada do que em combinação, com menos de 0,1% das crianças expostas apresentando duas delas simultaneamente”, disse a fundação.
Gestações
Os resultados foram encontrados a partir da análise combinada de dados de 13 estudos que investigam os resultados pediátricos em gestações afetadas pelo vírus zika durante a epidemia de 2015-2017 no Brasil. Esses dados abrangem todas as quatro regiões do país afetadas pela epidemia neste período, com infecção pré-natal confirmada em laboratório por testes genéticos e avaliação dos potenciais efeitos adversos em nível individual.
Segundo o pesquisador Ricardo Arraes de Alencar Ximenes, da Universidade de Pernambuco e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que liderou o estudo, esse trabalho dá uma contribuição fundamental para a compreensão das consequências para a saúde da infecção pelo vírus zika durante a gravidez, pois reúne dados individuais de crianças nascidas de 1.548 gestantes residentes em diferentes regiões do país que tiveram o diagnóstico confirmado de infecção pelo vírus zika durante a gravidez, permitindo uma estimativa mais precisa dos riscos
Microcefalia
Em relação à microcefalia, condição neurológica em que a cabeça do bebê é menor do que o esperado para sua idade e sexo, uma a cada 25 crianças nascidas de mães infectadas pelo vírus zika durante a gravidez apresentou a disfunção no nascimento ou durante o acompanhamento.
Segundo a Fiocruz, na maioria dos casos, a condição era detectável próximo ao momento do nascimento, mas algumas crianças nascidas com perímetro cefálico normal desenvolveram a microcefalia nos anos seguintes.
De acordo com a pesquisa, o risco de filhos de mães infectadas por zika na gestação apresentarem microcefalia foi de 2,6% no nascimento ou quando avaliados pela primeira vez, aumentando para 4% nos primeiros anos pré-escolares. Esse risco foi relativamente consistente nos diferentes locais de estudo, sem apresentar variação relativa às condições socioeconômicas ou área geográfica.
Conforme a Fiocruz, a realização de estudos adicionais com tempo de acompanhamento mais longo é apontada pela equipe de pesquisadores como o futuro do estudo publicado. Os possíveis caminhos para investigação incluem a avaliação do risco de hospitalização e morte para crianças com microcefalia à medida que envelhecem e, naquelas sem microcefalia, averiguar os riscos de outras complicações, como aquelas ligadas ao desenvolvimento comportamental ou neuropsicomotor.
Agência Brasil