Um estudo brasileiro que começou nesta quinta-feira (01) vai testar a eficácia do corticoide prednisolona para tratar pacientes que apresentam quadros moderados de covid-19 e precisam de internação. O objetivo principal é avaliar se o medicamento ajuda a reduzir o tempo de hospitalização e o número de pessoas que precisam ir para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
A pesquisa, liderada pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz, será feita com 370 pacientes maiores de 18 anos, internados nas unidades Paulista e Vergueiro, na capiital paulista, e nos hospitais da Faculdade de Medicina do ABC, em Santo André (SP).
A coleta de dados será feita por 3 meses e os resultados devem ser publicados em fevereiro de 2021.
Os participantes serão divididos em dois grupos: metade fará somente o tratamento padrão já utilizado para a covid-19 no hospital e a outra parte, além deste procedimento, receberá uma dose de prednisolona 40 mg durante sete dias.
Trata-se de uma investigação randomizada e aberta, ou seja, os participantes são escolhidos de forma aleatória e os pesquisadores sabem que tipo de tratamento cada voluntário está recebendo.
Os corticoides têm efeito anti-inflamatório e são capazes de reduzir a resposta imune do organismo. Em casos graves e moderados de covid-19, o que ocorre é uma “tempestade inflamatória” causada pela reação exacerbada do sistema imunológico ao coronavírus.
Por isso, o potencial desse tipo de medicamento tem sido investigado nessas situações. Elie Fiss, pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e pesquisador que coordena o estudo, recorda que houve uma mudança das autoridades de saúde em relação aos corticoides desde o início da pandemia.
“No início, as primeiras recomendações proibiam o uso, mas o corticoide talvez seja um dos poucos que dão uma resposta favorável [no tratamento da covid-19]”, pondera.
Desde o dia 2 de setembro, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda classe de medicamentos para tratar casos graves da doença causada pelo novo coronavírus.
O estudo também vai averiguar possíveis efeitos colaterais da prednisolona. No entanto, Fiss destaca que a chance de eles ocorrerem com o uso de baizas doses em um curto período de tempo – como será feito durante as análises – são mínimas.
“Se a gente ler [sobre efeitos colaterais de corticoides] vai aparecer muita coisa, mas a maior parte acontecem pelo uso de altas doses durante muitos meses ou anos”, explica.
“O que a gente conhece no dia a dia é aumento da glicemia, especialmente em diabéticos, e vermelhidão na pele. Pode aparecer um pouco de azia e queimação, mas com medicação protetora do estômago já resolve”, acrescenta.
A prednisolona já é indicada para o tratamento de outras doenças respiratórias, como asma, rinite e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
“O corticoide que nós, pneumologistas, mais usamos é a prednisolona. Ela tem o melhor efeito anti-inflamatório no pulmão, melhor até que a dexametasona”, afirma.
De acordo com ele, outra vantagem do remédio, comercializado com o nome de Predsim, é que sua utilização ocorre por via oral, portanto, caso se comprove eficaz para tratar quadros moderados de covid-19, o paciente pode ter alta e continuar tomando a medicação sozinho.
R7