Se a poluição traz problemas de saúde, será que a presença de árvores pode atuar como um escudo contra isso? Essa é uma pergunta que vem sendo investigada em vários cantos do mundo, dentro de uma série de pesquisas que mostram os impactos positivos de ter parques e áreas verdes nas cidades. São trabalhos que apontam benefícios não só para a saúde cardiorrespiratória – os mais evidentes – como também para a melhoria do sistema imunológico, combate ao estresse, incentivo a fazer atividades física e até atenuar doenças mentais. São Paulo ainda está engatinhando nessa área, mas começa a trazer os primeiros resultados. Um trabalho divulgado na semana passada sugeriu uma correlação entre áreas verdes e mais abertas e menos casos de morte por câncer de pulmão. O levantamento ainda é preliminar e, como define sua autora, a bióloga Bruna Lara de Arantes, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), “exploratório”. Para seu mestrado sobre recursos florestais, ela cruzou imagens de satélite da cobertura verde da capital (e também de prédios e de áreas de gramado) com bases de dados de câncer de pulmão da Faculdade de Medicina da USP. Daí, concluiu que cerca de 17% da variação observada nos casos da doença pode ser explicada pelas variáveis consideradas. Pela análise, a cada 1% de distância do centro da cidade de São Paulo, diminuem 1,56% os casos de câncer. Com aumento de 1% de relvado, diminuem 1,24% os casos; e com aumento de 1% de telhas, aumentaram 6,35% os casos de falecimento. Não foram considerados, porém, outros fatores que aparecem no estudo com os óbitos de São Paulo (leia mais acima), como os locais de moradia e de trabalho, informações sobre deslocamento pela cidade e estilo de vida, e em especial se as pessoas fumavam ou não – fator responsável por explicar a maior parte dos casos de câncer de pulmão. Segundo dados do A.C. Camargo Cancer Center, 2 entre 10 casos de câncer de pulmão ocorrem em não fumantes. “Trabalhamos com os dados disponíveis em um primeiro momento e, por isso, digo que é uma pesquisa exploratória, mas que já indica uma correlação”, afirma Bruna. “A nossa suspeita é de que, além de as árvores ajudarem a filtrar os poluentes, as áreas mais abertas, com relvado (gramado), facilitam a dispersão do material particulado. Como São Paulo é muito verticalizada, isso dificulta a dispersão. Mas o MP é leve e pode ser levado mais facilmente pelo vento onde é aberto. Foi onde vimos menos casos. “A intenção agora é dar sequência a esse trabalho, investigando a incidência de doenças respiratórias, como bronquite, e ver se a proximidade com áreas verdes também tem um fator positivo. No ano passado, a Organização Mundial de Saúde lançou uma campanha para incentivar a visitação a parques naturais e urbanos como um fator para melhorar a saúde pública como um todo.