Após missa em homenagem a Marisa Letícia, que completaria 68 anos neste sábado (7), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou a atuação da imprensa em relação às acusações contra ele. O discurso durou mais de 55 minutos e foi acompanhado por sindicalistas e apoiadores.
“O sonho de consumo deles [dos veículos de imprensa] é a foto do Lula preso. Fico imaginando o tesão da Globo e da Veja quando isso acontecer. Eles vão ter orgasmos múltiplos”, disse para os militantes que acompanharam o discurso, em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), onde Lula permanece desde quinta-feira (5) à noite.
Lula afirmou também que a grande mídia está determinada em colocá-lo no foco do noticiário. “Tenho mais de 72 horas de Jornal Nacional me atacando. Tenho a Record, a Bandeirantes, a rádio do interior me atacando. Mas quanto mais eles me atacam, mais cresce minha relação com o povo brasileiro”.
O ex-presidente defendeu a regulamentação dos meios de comunicação. “Eles têm que saber que nós fazer uma regulação dos meios de comunicação para que o povo não seja vítima de mentiras”.
“Sou uma ideia”
Lula incentivou a participação popular por meio de manifestações e protestos em defesa de ideias e propostas. “Minhas ideias estão no ar e não tem como prendê-las. Meu coração baterá pelo coração de vocês”, disse.
“Não pararei porque não eu sou sou mais um ser humano. Eu sou uma ideia, uma ideia misturada com a ideia de vocês. A morte de um combatente não para a revolução”, afirmou.
E chamou cada militante de Lula. “Somos Lula”, disse. A frase “Eu sou Lula” foi ecoada na plateia.
Para Lula, ele foi condenado politicamente por ter tirado muitos da miséria. “Se eu cometi esse crime [de ter tirado brasileiros da miséria], vou continuar sendo criminoso nesse país, porque vou fazer muito mais”, acrescentou.
Judiciário
No discurso, Lula fez críticas ao juiz Sérgio Moro, ao Ministério Público e ao Supremo Tribunal Federal (STF). “A história, daqui uns dias vai provar que quem cometeu crime foi o delegado, o juiz e o Ministério Público. Sairei dessa maior, mais forte e inocente. Quero provar que eles cometeram um crime. Um crime político”, disse.
Ao se referir à condenação pelo triplex em Guarujá (SP), o ex-presidente reiterou não ser dono do imóvel. “Sou o único ser humano que é processado por um apartamento que não é meu. Pensei que o Moro ia resolver isso, mas ele mentiu [me condenando]”, disse, reforçando que “não perdoa” aqueles que o chamaram de ladrão. “Nenhum deles têm coragem ou dorme com a consciência tranquila como eu durmo. Não estou acima da Justiça”, acrescentou. “Certamente um ladrão não estaria exigindo prova [como eu faço]”.
Em relação ao Supremo, Lula criticou a atuação dos ministros. “Quer votar de acordo com a opinião pública largue a toga e dispute a eleição”.
O ex-presidente atribuiu a morte de Marisa Letícia às ações do Ministério Público e da imprensa. “A antecipação da morte da Marisa foi uma sacanagem que a imprensa e o Ministério Público fizeram com ela”, disse. “Não tenho medo deles. Gostaria de fazer um debate com o Moro. E queria que mostrassem as provas e que provassem qual crime que eu cometi”.
O ex-presidente afirmou também que não faz objeções ao trabalho da Lava Jato. “Não sou contra a Lava Jato. Quero que continuem prendendo rico”.
Lula mencionou vítimas da injustiça no país, entre elas a ex-presidente Dilma Rousseff. “Dilma foi a mais injustiçada das mulheres que um dia ousou fazer política nesse país. A Dilma foi a pessoa que me deu a tranquilidade de fazer quase tudo o que consegui na Presidência da República. Sou grato de coração. Serei profundamente, para o resto da vida, repartirei sempre o sucesso da Presidência com você”, disse ao cumprimentar a ex-presidente.
Acompanharam o discurso o ex-prefeito Fernando Haddad, Guilherme Boulos (líder do MTST e pré-candidato a presidente pelo PSOL), Manuela D’Ávila (pré-candidata a presidente pelo PCdoB), Celso Amorim (ex-ministro das Relações Exteriores), Ivan Valente (deputado federal pelo PSOL), João Pedro Stédile (da liderança do MST), Paulo Pimenta (líder do PT na Câmara), Wellington Dias (governador do Piauí) e o ator Osmar Prado.
Passou mal
Após discursar por quase uma hora em frente à sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e deixar o caminhão de som onde fez o seu pronunciamento, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva passou mal. No carro de som, foi pedido que médicos entrassem no prédio, onde ele se encontra agora, para ser atendido.
Minutos após terem solicitado o socorro, o carro de som avisou que Lula já está bem. Lula apareceu, há pouco, na janela para acenar para a multidão que se encontra do lado de fora.
O calor é muito intenso nesta tarde de sábado (7) em São Bernardo do Campo.
Desde que teve sua prisão decretada quinta-feira (5) pelo juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato na primeira instância, este foi o primeiro pronunciamento de Lula em público.