Nos últimos dias, mensagens com a hastag #WhereAreTheChildren (onde estão as crianças) e #MissingChildren (crianças desaparecidas) se difundiram rapidamente pelo Twitter nos Estados Unidos. As manifestações nas redes sociais questionam o paradeiro de 1.475 crianças que cruzaram sozinhas a fronteira dos Estados Unidos no ano passado. Elas foram entregues a uma agência federal que as colocou em casas de famílias adotivas, mas despois disso perdeu o contato com os responsáveis.
A situação foi revelada por um funcionário do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS, na sigla em inglês) durante uma audiência no Senado. O depoimento, no dia 26 de abril deste ano, gerou grande repercussão. O secretário adjunto Steven Wagner contou que o escritório do governo responsável pelo reassentamento de refugiados não conseguiu determinar o paradeiro das crianças em contatos telefônicos de acompanhamento. A transcrição do depoimento está disponível no site do HHS.
Wagner contou que, entre outubro e dezembro de 2017, o HHS fez contato com 7.635 crianças que estavam sob tutela da agência federal e foram transferidas para a guarda de um responsável. Do total, 6.075 continuavam vivendo com as famílias em que foram colocadas, 28 tinham fugido, 5 tinham sido deportadas e 52 estavam morando com outras famílias. Sobre as demais 1.475 crianças, a agência informou que “não conseguiu determinar com certeza o paradeiro” delas.
O HHS argumentou que não é seu papel acompanhar as crianças depois de liberadas. Em um comunicado enviado ao jornal Washington Post, o departamento afirmou ainda que 85% das famílias que recebem menores desacompanhados são parentes próximos que vivem nos Estados Unidos. Uma possibilidade levantada por especialistas ouvidos pela imprensa norte-americana é de que os responsáveis não queiram intencionalmente falar com autoridades do governo para evitar o risco de deportação.
Ainda assim, senadores no Congresso criticaram a falha da agência para evitar que as crianças caiam, eventualmente, na mão de traficantes de pessoas. No mês passado, uma reportagem investigativa da rede de televisão PBS revelou a história de oito adolescentes da Guatemala que eram forçadas a trabalhar em uma fazenda em Ohio. Pelo menos seis pessoas foram indiciadas desde a divulgação do caso pela imprensa norte-americana.
Gestão de Barack Obama
Em entrevista coletiva, diferentes funcionários da Casa Branca culparam a gestão do ex-presidente Barack Obama pelo problema, criticando a política de “capturar e libertar” adotada na época.
A política da gestão anterior permitia que os agentes de fronteira liberassem os imigrantes ilegais presos na fronteira, caso eles não representassem um risco para a segurança do país. Dessa forma, eles podiam permanecer em liberdade enquanto esperavam o julgamento de deportação.
De acordo com o assessor político da Casa Branca Stephen Miller, diferentemente do divulgado pela mídia norte-americana, os menores não estão sob custódia do governo. Segundo ele, na maioria dos casos as crianças foram entregues a seus próprios familiares que já vivem no país.
O assessor explicou que os dados se referem a 14% dos casos nos quais o governo quis fazer um “acompanhamento voluntário” dos menores e não obteve resposta das famílias: “Não existe nenhum motivo para pensar que ocorreu algo com essas crianças. Se você liga para um amigo e ele não atende ao telefone, você não pensa que ele foi sequestrado”, disse Miller.
Além disso, o assessor da Casa Branca acusou os democratas de impedir o fim da “crise humanitária” na fronteira ao se recusarem a aprovar os recursos necessários para a construção de um muro e leis mais firmes de uma nova política de imigração: “se não fosse pelos democratas e a recusa em fechar esses vazios legais, os imigrantes poderiam ser enviados aos seus países de origem de maneira rápida e segura”, concluiu.
Nova política de imigração
A revolta pela perda de contato com as crianças estrangeiras se somou a críticas contra a política de imigração recém-anunciada pela administração de Donald Trump. No início de maio, o procurador-geral Jeff Sessions afirmou que começaria a implementar “tolerância zero” na fronteira.
O procurador-geral afirmou que, se alguém tentar entrar ilegalmente nos Estados Unidos com uma criança, essa pessoa será processada e separada do menor, como determina a lei.
Apesar de a mudança ter sido anunciada por Sessions, no sábado (26), o presidente Donald Trump também culpou o partido democrata, de oposição, pela situação das crianças imigrantes. Em uma mensagem no Twitter, ele disse: “pressionem os democratas para que ponham fim à horrível lei que separa as crianças dos pais depois de cruzarem a fronteira”. Trump voltou a defender a promessa de campanha de construir um muro na divisa com o México.
Agência Brasil