O Instituto Yduqs promove, nesta segunda-feira (26), o evento Lugar de Fala, no formato presencial e online, em celebração ao Mês do Orgulho LGBTQIA+. Aberto ao público e gratuito, o evento será realizado a partir das 9h30, no campus da Universidade Estácio Tom Jobim, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
Não é necessária inscrição prévia para participar presencialmente. O seminário também será transmitido ao vivo pelo canal do Youtube da universidade.
A proposta é combater o preconceito e contribuir com a conscientização sobre os direitos da comunidade LGBTQIA+ em diferentes painéis que abordarão temas como violência, manifestações, empregabilidade e empreendedorismo, direito e políticas públicas.
A presidente do Instituto Yduqs, Cláudia Romano, disse à Agência Brasil, que a realização de ações em prol da desconstrução de preconceitos é fundamental para se avançar no sentido de uma representatividade inclusiva da comunidade LGBTQIA+ na sociedade brasileira, e que os debates programados facilitam a promoção de um ambiente com mais equidade, inclusão e respeito.
“A gente sabe que é um caminho longo. Por isso, o Instituto Yducs investe em iniciativas para acelerar esse movimento, para que o preconceito não tenha protagonismo na nossa sociedade”, disse Cláudia Romano. O Lugar de Fala reúne vozes nacionais, estudiosos, líderes e autoridades. “A gente acredita que terá um impacto enorme e sempre é uma honra contribuir para essa agenda, em âmbito nacional”, disse.
Igualdade
A consultora de Diversidade do Yduqs, Giowana Cambrone, avaliou que o evento tem o papel fundamental de promover a conscientização, sensibilização e promoção da igualdade. “A nossa ideia é oferecer um espaço seguro e inclusivo para discussões abertas sobre as questões que envolvem pessoas LGBTQIA+ a partir de suas experiências e vivências”, disse à Agência Brasil.
Ela acredita que essa plataforma de compartilhamento de vivências e experiências pode ajudar a desconstruir estereótipos, combater preconceitos e promover a respeito, além de celebrar a diversidade.
Para Giowana Cambrone, a conscientização da sociedade passa, necessariamente, pelo diálogo aberto e claro e pela produção de informações que possam destacar a importância do respeito, da empatia e da aceitação. “Óbvio que a gente precisa vencer o desafio de driblar o preconceito e o reacionarismo presente na sociedade para que as sementes da informação possam florescer. É preciso compreender que não precisa ser uma pessoa LGBTQIA+ para lutar contra a LGBTFobia”, disse.
A consultora assegurou ser fundamental que na família, nas escolas e no meio empresarial seja construído um ambiente acolhedor. Isso passa pela aceitação da diversidade, pelo respeito às diferentes sexualidades, pelo combate ao bullying e à discriminação nos diversos espaços, e pela abertura de diálogo. “No ambiente escolar e empresarial, é muito importante conhecer as especificidades de pessoas LGBTQIA+, promover a educação para a diversidade e implementar políticas e recomendações claras sobre práticas antidiscriminatórias”, defendeu.
Giowana disse que o Brasil é um dos países que mais violentam e matam pessoas LGBTQIA+ no mundo. “A violência física é o que nós vemos, porque tem uma materialidade dessas práticas. No entanto, precisamos combater as práticas menos visíveis de violências simbólicas, verbais, que fortalecem a lógica perversa de que é permitido praticar piadas LGBTfóbicas, expor as pessoas a situações constrangedoras ou humilhantes. Para isso, é necessário educar para a diversidade e ocorrer uma mudança cultural profunda na sociedade”.
Estudo
Segundo estudo realizado pelo projeto internacional Trans Muder Monitoring, que monitora assassinatos de pessoas trans, o Brasil registrou 1.741 mortes de pessoas trans de 2008 e setembro de 2022, representando 37,5% do total de 4.639 mortes em todo o mundo. A América Latina e o Caribe respondem por 68% dos casos notificados. De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o Brasil lidera o ranking mundial de violência contra pessoas trans, com 131 assassinatos no ano passado.
A realização do Lugar de Fala no Mês do Orgulho LGBTQIA+ está alinhada com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 16, da Organização das Nações Unidas (ONU), que busca promover sociedades pacíficas e inclusivas, garantindo acesso à justiça e construções institucionais responsáveis.
Reflexão
O coordenador de Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio de Janeiro, Carlos Tufvesson, destacou, à Agência Brasil, que o Mês do Orgulho LGBTQIA+ foi pensado para ser uma reflexão sobre a cidadania LGBT no mundo inteiro. Lamentou que a comunidade LGBT seja apagada constantemente do sistema.
“Isso é uma coisa que temos que começar a repensar. Porque nós somos cidadãos iguais em direitos e deveres. Então, neste mês, temos que lembrar que somos a única minoria que ainda é expulsa de casa por sermos quem somos. Porque todas as outras minorias encontram acolhimento em casa, como os negros e as pessoas que sofrem perseguição religiosa. Nós, não!”.
Ele lembrou que esse preconceito faz com que as pessoas saiam da escola e tenham a empregabilidade prejudicada. Essa é uma realidade com a qual as pessoas LGBTs lidam constantemente, assegurou. “É importante que a gente possa falar, para que as pessoas saibam que isso está acontecendo no Brasil hoje”.
Carlos Tufvesson disse que o preconceito e a perseguição impostos aos LGBTs está fazendo aumentar o número de suicídios de jovens LGBTs que não se sentem cidadãos como os demais, com direito à saúde, à educação, por exemplo, que são direitos constitucionais.
Segundo Tufvesson, a série de eventos alusivos ao Mês do Orgulho LGBT é importante para criar na sociedade a reflexão sobre essa realidade. Tufvesson disse que o número de agressões físicas contra pessoas LGBTs aumentou, ultrapassando as agressões verbais por crimes de ódio. E questionou que país que queremos e estamos construindo? “É o país da violência, de atentarmos contra o diferente?”, indagou.
Para ele, a diversidade de opiniões é mais rica do que todo mundo que concorda entre si, porque são debatidos vários pontos de vista. “Eu estou sempre aprendendo com pessoas que pensam diferente de mim”.
“Lugar de fala é isso, é para a gente falar sobre o que está ocorrendo, abrir espaço na mídia. Isso é muito importante para que as pessoas saibam de fato o que está havendo. Ninguém precisa ser LGBT para lutar contra a LGBTfobia”, disse, fazendo coro à Giowana Cambrone. “Basta ser um cidadão. Não é preciso ser negro para lutar contra o racismo, nem é preciso ser mulher pra lutar contra o machismo”, exemplificou. “A gente precisa quebrar esses estereótipos”.
Políticas públicas
O coordenador de Diversidade Sexual do Rio de Janeiro lamentou que ainda sejam necessárias políticas públicas para apoiar a comunidade LGBT. Ele disse que coordenadoria está fazendo projeto de complementação do ensino fundamental para pessoas LGBTs que foram evadidas das escolas em função do bullying que sofreram. Hoje, essas pessoas encontram problemas para se inserirem no mercado formal de trabalho. “A sociedade desconhece essa realidade”, disse Carlos Tufvesson .
A formatura da primeira turma, com 30 pessoas, será em setembro próximo. Em 2024, a intenção é estender a complementação para o ensino médio também. “Essas pessoas merecem mais chances na vida”, disse Carlos Tufvesson.
Outro projeto da prefeitura, o Garupa, tem oito agentes trans, que fazem busca ativa de pessoas trans e também heterossexuais para cadastrar na Clínica da Família, na assistência social, em todos os projetos que o governo oferece a cidadãos que são de desconhecimento dessa comunidade.
“Eles vivem à margem desse conhecimento”, disse Carlos Tufvesson.
O nome Garupa foi dado ao projeto “porque a gente pega na mão e leva”, explicou. O coordenador de Diversidade Sexual participa do Lugar de Fala, às 15h, em mesa que debaterá Políticas Públicas para Pessoas LGBTQIA+.
Agência Brasil