Em comemoração pelo dia Internacional dos Monumentos e Sítios, o projeto Património SCENA 5.0 vai apresentar, no próximo dia 18 de abril, às 20 horas (16h no Brasil), o evento “Alma Mater- A voz do património por trás das máscaras – Passados complexos: Futuros diversos”. O projeto, que vai apresentar sitios do Patrimônio Cultural do Brasil e de Portugal, foi idealizado e produzido pelo produtor baiano Christiano Bomfim (membro ISCSBH ICOMOS) e conta com o apoio da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Associação RUAS, ICOMOS Portugal e Criola Filmes. O evento será aberto ao público com transmissão por streaming (ondemand) no Canal Facebook do ICOMOS-PT. https://www.
No evento, serão abordados temas como a ressignificação do Património edificado em tempos pós-COVID-19, preocupações acerca dos Patrimónios Mundiais, modernização de boas práticas de projetos para o envolvimento da comunidade e sustentabilidade socioeconómica dos monumentos e sítios classificados no contexto da diáspora portuguesa. Serão apresentados o Centro Histórico de Salvador, como exemplo de sítio de influência portuguesa, e a comunidade pesqueira da Gamboa de Baixo na Baía de Todos os Santos.
Dentre os nomes que vão marcar presença no vídeo documentário produzido pelo projeto, o vice-reitor para o Patrimônio da Universidade de Coimbra, Alfredo Dias; o professor João Gouveia Monteiro, diretor da Biblioteca Joanina; a arquiteta Soraya Genin, presidente ICOMOS Portugal; Teresa Veiga Macedo, representante do World Monuments Fund (EUA); a arquiteta Maria José Freitas, presidente do Board Património Partilhado ISCSBH ICOMOS e Malvedil Júnior, presidente da Associação História de Pescadores da Gamboa
O Dia Internacional dos Monumentos e Sítios foi instituído em 1982 pelo ICOMOS (Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios) e aprovado pela UNESCO no ano seguinte. A data comemorativa, que neste ano de 2021 tem como tema Passados Complexos: Futuros Diversos, visa promover ações para a valorização e proteção de bens culturais em todo mundo. .
“No ano em que se apela globalmente para uma maior inclusão e reconhecimento da diversidade, um exame crítico do passado, práticas de planeamento para o futuro do Património Cultural e a omissão de certas narrativas que privilegiam determinadas histórias em detrimento de outras, o projeto Património SCENA 5.0, para além de introduzir a componente digital nos bens culturais, visa dar relevo aos traços do passado e refutar narrativas recentes que possam reduzir o grau de proteção do Património Cultural de Influência Portuguesa no Mundo”, afirma Christiano Bomfim, idealizador do projeto.
O projeto também promoverá uma exclusiva visita guiada na Alma Mater da língua portuguesa, a Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra. Construída no século XVIII, trata-se da maior e da mais antiga biblioteca de todo o mundo lusófono.
Do edificado ao material e imaterial, será uma oportunidade para conhecer a Biblioteca Joanina, apresentada pela atriz Rosí Ferh acompanhada pela pianista Christina Margotto, que vai executar obras de António Fragoso e Ronaldo Miranda no interior da biblioteca.
A trilha sonora também contará com a participação do Brasil Afro Sinfónico, composto por Olodum, o instrumentista e cantor Armandinho Macedo e a Orquestra Filarmônica de São Petersburgo.
Dia Internacional dos Monumentos e Sítios
O evento é parte da programação do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios 2021, iniciativa do Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios – ICOMOS, para salientar o papel do património cultural na construção de um mundo mais justo e pacífico por meio da educação, diversidade e inclusão comunitária, cujos caminhos para narrativas mais inclusivas foram surgindo por meio de muitas iniciativas existentes, que vão desde ações climáticas a abordagens ao património baseadas nos direitos das diferentes pessoas envolvidas, passando pela Década de Ação para alcançar os ODS e pela Jornada Cultura-Natureza. O Dia Internacional dos Monumentos e Sítios 2021 é uma oportunidade para fornecer uma plataforma aberta para um amplo envolvimento e participação da sociedade.
Na Década de Ação para Alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o ICOMOS reconhece a necessidade de salientar o património que represente as diversas culturas e comunidades (ODS10), que promova a igualdade de direitos para as mulheres e para a comunidade LGBTQ+ (ODS5) de forma a ilustrar um futuro mais tolerante e pacífico (ODS16).
Sobre a Alma Mater, Biblioteca Joanina (Coimbra – Portugal):
Em seus três séculos de existência, a Biblioteca Joanina, na Universidade de Coimbra, em Portugal, possui entre as suas características peculiares, a de ser considerada uma das mais belas do mundo. Património da Humanidade em estilo barroco rococó, foi construída a mando do rei D. João V, razão do nome. A Biblioteca Joanina conta com um rica arquitetura, pintura, decoração em ouro do Brasil e madeira tropical, e soluções térmicas e de iluminação sustentáveis, sendo genuinamente pensada para a conservação das obras literárias e para a entrada de luz natural, numa época que não havia luz elétrica. Entre outros tesouros ali guardados, a primeira edição do século XVI de uma das mais importantes obras literárias escritas em português – “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões, e uma Bíblia hebraica, publicada no século XV. Em suas mesas de estudos debruçaram-se ilustres como Eça de Queirós, Almeida Garret, Antero de Quental, Tomás Antônio Gonzaga. O vídeo documentário entoará uma clássica trilha em piano para apresentar essa “Alma” do Tesouro Joanino.
Sobre o património de influência portuguesa em Salvador da Bahia: Gamboa de Baixo.
A comunidade da Gamboa de Baixo, em Salvador, fará parte do evento “Alma Mater- A voz do património por trás das máscaras – Passados complexos: Futuros diversos” no ano que antecede a efeméride dos 200 anos da independência do Brasil, onde a Bahia de Todos os Santos foi palco de grandes acontecimentos histórico por ter sido um dos primeiros lugares a serem descobertos por portugueses no Brasil e onde se iniciou a cultura afro-brasileira.
Na beira mar, encontra-se a Gamboa de Baixo, um sítio com ruínas e monumentos históricos da primeira artilharia a saudar a chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil, em 22 de janeiro de 1808. Entre 1837 e 1838, o Forte da Gamboa aderiu à Sabinada e foi visitado em 1859 pelo Imperador D. Pedro II (1840-1889), que registou visita em diário. As terras foram doadas ao Mosteiro de São Bento da Bahia pelo explorador, agricultor, historiador, escritor e botânico Gabriel Soares de Sousa (1540-1591) e foram palco da luta contra os portugueses na Guerra da Independência do Brasil e na Batalha de Itaparica, cuja memória histórica registrou o protagonismo feminino no triunfo brasileiro. Foram personagens Maria Felipa de Oliveira (Ilha de Itaparica, data incerta — 4 de julho de 1873) mulher marisqueira, pescadora e trabalhadora braçal que teria participado da luta da Independência, além de Maria Quitéria, hoje reconhecida como patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro.
“A zona da Gamboa de Baixo que passa por um processo de requalificação e regularização fundiária, ao contrário do que todos pensam, não é área de Marinha e o Forte São Paulo da Gamboa, património cultural que perdeu sua função de defesa, mas ainda está sob a tutela do Exército do Brasil e é tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional),” conforme afirma em pesquisa acadêmica, o brasileiro Christiano Bomfim, que também é Mestre em gestão e programação do patrimônio cultural pela Universidade de Coimbra.
“O conjunto dos ‘restos’ e vestígios das fortificações de pedra e cal deveria ser preservado, a exemplo do que aconteceu com as Ruínas de São Paulo e a Fortaleza do Monte (terra e cal) no Centro Histórico de Macau (Ásia), que foram incluídas na lista do Património Mundial da Humanidade da UNESCO como o 31.º sítio do Património Mundial da China”, pondera Christiano Bomfim.