Artista propõe formas de sentir em exposição inspirada e dedicada às mulheres
É das memórias de infância, reflexões sobre os desafios de ser mulher e da beleza que existe na capacidade de resiliência feminina, que vem a inspiração da artista visual Aline Corujas para criar as obras que compõem a exposição “Tríade”, a ser inaugurada na Aliança Francesa Salvador na próxima quinta-feira, dia 19 de setembro, a partir das 16h.
Aberta para visitação até outubro, sua primeira mostra individual é dedicada às mulheres – em especial às mães solo, como a da artista –, e nasce de um “HD cheio”. O disco rígido em questão é a própria Aline, cuja urgência maior é dar vazão ao fluxo de seus 25 anos de vida e aprendizados partilhados, sobretudo, no convívio diário e intenso com diversas mulheres.
“Quando se divide a vida com mulheres, construindo juntas, se juntam rios. E rio precisa transbordar para a terra ficar fértil. Eu estou nesse momento: transbordando as mudanças e reverberando o que foram meus encontros com as mulheres, desde meu nascimento até aqui”, descreve.
Escultora em cerâmica, foi esculpindo as cabeças de desconhecidos que viveu parte desses encontros. Há dois anos, Aline abre as portas de sua casa para receber pessoas que aspiram redescobrir-se através do redesenho de seus cabelos. Os cortes são personalizados e o único requisito é ir sem pressa. Entre um café e outro, uma prosa e outra, mechas a menos e mergulhos a mais para dentro.
“O ‘Corta pra mim, Aline?’ (@cortapramimaline) foi a minha lupa, a minha lente de aumento no que era meu, mas não só. Eu me via em todas as mulheres que iam à minha casa”, revela a artista. No projeto, batizado com a máxima ouvida repetidas vezes dos amigos e primeiros clientes, desenvolveu um jeito próprio de se comunicar com o outro, que a colocou frente a frente com diferentes espelhos: mulheres com as quais sua história se cruzava e que inspiraram o que ela viria a criar depois.
Artista múltipla, Aline nunca foi menos de três – daí o nome da mostra. No início, fechavam a tríade, sua mãe e seu pai, simbolizados por ela como seus sagrados feminino e masculino. Depois, vieram os outros tantos laços triádicos construídos ao longo de sua trajetória. “Eu vivo em coletivos desde que nasci. Principalmente com mulheres, mas não só. E três sempre foi o meu menor número. Não foi zero, não foi um. Então, sempre fui pensando de três a mais pessoas, sempre incluindo a existência de mais duas pessoas, além de mim”, explica.
Entre as memórias que alimentam sua arte, estão as lembranças das cartas que ela e a irmã trocavam com o pai, brincadeira que se tornou tradição de família. “A diversão dele era conversar com seres humanos muito jovens por carta. As pequenas brincadeiras que a gente inventa no meio do caminho e das sutilezas do dia a dia”, relembra. Ela atribui parte de sua potência artística e criativa à oportunidade de ter acesso a uma representação positiva de pai.
“Eu tive o privilégio de meu pai ser um artista e aikidoista que vende tijolos no Rio de Janeiro. Um artista que sempre trabalhou muito, com uma mente fantástica e uma predisposição a pensar muito grande. Eu tive acesso, como representação desse lugar de pai, a um homem que tem muitas qualidades e isso foi muito potente”, avalia.
Carioca de Olaria, mas baiana por adoção e escolha, é essa potência de vida e criação e são esses mergulhos internos que Aline Corujas expõe e propõe com “Tríade”, mostra que reúne parte de seu acervo pessoal de esculturas em cerâmica, instalações e desenhos – obras que provocam o olhar e aguçam no observador outras formas de sentir.
Além da anfitriã, a abertura contará também com a participação da brincante e dançarina contemporânea, uma das curadoras da exposição, Camila Oliveira (BSB), a percussionista Kika Deeke (SC) e o músico Jade Ventura (SSA). Assinam ainda a curadoria e expografia Cley Curvinel, Flora Tavares, Iara Rocha, Jéssica Roxo e Juliana Motter.
A mostra “Tríade” tem entrada gratuita e a visitação segue o horário de funcionamento da Aliança Francesa Salvador – unidade Barra, de segunda a sábado, das 8h às 20h.
Sobre a Aliança Francesa Salvador |
Instalada na capital baiana desde 1973, a Aliança Francesa Salvador é uma associação cultural sem fins lucrativos que tem por propósito a difusão da língua francesa e da cultura francófona no mundo. Pautada no lema “curso, cultura e alegria”, além de promover os tradicionais cursos de francês, a instituição também integra o circuito artístico-cultural da cidade, abrigando uma biblioteca com mais de 6.000 exemplares, uma Galeria para exposições, o Teatro Molière e, em breve, um novo bistrô no espaço do antigo Café Terrasse.
SERVIÇO |
O que: Exposição “Tríade”, de Aline Corujas
Abertura: 19 de setembro (quinta), das 16h às 20h
Período: 19 de setembro a 19 de outubro de 2019
Onde: Aliança Francesa Salvador – Ladeira da Barra
Quanto: Entrada gratuita