A surdez é classificada em quatro estágios: leve, moderada, severa e profunda. O que diferencia uma da outra é o quanto uma pessoa é capaz de ouvir, sendo o parâmetro o decibel – medida de intensidade de som. Uma audição normal consegue ouvir abaixo de 25 decibéis, por exemplo, o canto de um passarinho, em torno de 10 decibéis, ou o ruído de um ponteiro de relógio de parede, 30 decibéis.
Uma pessoa com deficiência auditiva leve só ouve a partir de 30 decibéis; com moderada, a partir de 50, com severa, a partir de 80 e com profunda, a partir de 100, segundo a otorrinolaringologista Jeanne Oiticica, responsável pelo Ambulatório de Surdez Súbita do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Para se ter uma ideia, a fala humana e o choro de um bebê têm 60 decibéis; o latido de um cachorro, 70; o som de um piano, 80; e o motor de um caminhão, uma moto ou uma serra elétrica, 100. Acima de 100 decibéis estão o som de um helicóptero e de uma vuvuzela, com 110 e 120 decibéis, respectivamente.
A prevalência da surdez total, chamada de anacusia, em bebês no Brasil é de 4 em 100 mil nascidos vivos, segundo a otorrinolaringologista. Isso significa apenas 0,4%. Já até os 31 meses, essa prevalência sobe para 9%. Em idosos, chega a 30%, de acordo com a médica. A perda auditiva pode se manifestar na infância ou ao longo da vida, principalmente após os 30 anos, de acordo com a otorrinolaringologista.
Determinados medicamentos podem servir de gatilhos para desencadear a deficiência auditiva em quem tem predisposição genética. Por exemplo, uma classe de antibióticos chamada aminoglicosídeos, alguns quimioterápicos, anti-inflamatórios e diuréticos.
O bebê que não se assunta com ruído merece atenção. Para identificar a surdez em bebê, a médica orienta a bater palma atrás dele ou mesmo louças, como panela. Se ele não voltar o olhar para trás, isso pode ser indício de deficiência auditiva. Ela afirma que até os 2 anos é esperado que a criança comece a falar. Caso isso não ocorra, uma das possibilidades é que ela apresente deficiência auditiva.
Ao nascer, os bebês passam pelo chamado teste da orelhinha, obrigatório nas maternidades, para identificar problemas de audição. O exame é realizado por meio de um aparelho de emissões otoacústicas, que capta as respostas das células da audição.
A otorrinolaringologista explica que, quando a surdez não é completa, muitas vezes ela só é percebida quando a criança começar a apresentar dificuldades de alfabetização, em torno dos 7 anos. Neste caso, para ouvir plenamente, a criança necessita estar próxima à fonte de som, no caso, a professora. Segundo a médica, normalmente a escola detecta o problema e recomenda o exame de audiometria.
Entre os problemas que levam à deficiência de audição estão a adenoide dentro do ouvido, com a qual a criança já pode ter nascido, que causa surdez parcial, e a síndrome do aqueduto do vestibular alargado (AVA), um defeito no osso do ouvido que progride conforme a criança vai sofrendo quedas.
A médica recomenda que, em geral, se faça audiometria uma vez por ano e lavagem do ouvido, com otorrinolaringologista, para retirada da chamada “rolha de cera” (acúmulo de cera). Segundo ela, muitas vezes a sensação de dificuldade de audição está relacionada a isso.
Ela afirma que às vezes a deficiência de audição é confundida com a desatenção causada pela hiperatividade. Para saber se a pessoa está perdendo a audição ou está apenas distraída, a médica orienta um exame de audiometria.
No adulto, é mais fácil perceber quando há algo errado com a audição. Jeanne explica que além de usar constantemente a interjeição “hã?”, a pessoa pede para repetir as frases e tem dificuldade ao telefone e quando muitas pessoas falam ao mesmo tempo.
Estudos mostram que quem tem perda de audição e não faz reabilitação auditiva tem 30% mais chance de apresentar declínio cognitivo, de memória e de atenção, segundo a otorrinolaringologista. Ela explica que o aparelho auditivo já é recomendado a partir de surdez moderada e que, ao funcionar como uma caixa de som, ampliando o volume, ajuda a ativar o cérebro. “Escutamos por meio do cérebro, não pelo ouvido”, afirma .
R7