Karina tinha nove anos quando foi atingida por uma pedra no olho. O disparo partiu de um garoto que brincava de arremesso. Por sorte, sua mãe Odete trabalhava como auxiliar de enfermagem em uma clínica oftalmológica e levou a garota às pressas para a emergência de um hospital. A visão não sofreu nenhuma lesão. A partir deste dia Odete fez promessa a Santa Luzia, a quem é atribuído o poder se curar qualquer problema nos olhos.
Assim como Odete, no dia 13 de dezembro, Dia de Santa Luzia, milhares de pessoas vão à Igreja do Pilar, localizada no Comércio, orar e encher seus frasquinhos com água que brota da fonte num ritual repetido séculos. E muitas já conseguiram feitos milagrosos, como conta o procurador-geral da Irmandade do Santíssimo Sacramento Nossa Senhora do Pilar, Roberto Santana. “Uma mãe chegou com seu bebê de nove meses que não enxergava. Depois que ela lavou os olhos com água de Santa Luzia, a criança passou a enxergar. A fé é poderosa para aquele que crê”.
Com tema “Com Santa Luzia ao encontro de Jesus Misericordioso”, a programação começou às 5h de amanhã com uma alvorada. Ao longo do dia foram celebradas missas às 6h, 9h, e depois às 15h e 17h.
A Missa Solene está programada para as 10h, e será presidida pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de Salvador, Dom Marco Eugênio Galrão Leite, seguida de procissão com a imagem da santa até a Basílica Santuário Nossa Senhora da Conceição da Praia, e retornando a matriz.
O cortejo será acompanhado pela banda de percussão baiana Didá, pois o seu fundador Neguinho Samba junto com o artista plástico André Luiz escolheram o Dia de Santa Luzia como data de inauguração do projeto. “Tocávamos na igreja e depois oferecíamos uma feijoada. Houve um tempo que essa tradição ficou enfraquecida e paramos de descer pra igreja. Ano passado retornamos. Foi uma comoção. As pessoas diziam: ela está feliz porque vocês voltaram!”, conta Víviam Caroline, diretora da banda.
História
A história de Santa Luzia começa no ano de 283 D.C., na cidade litorânea de Siracusa, Itália. A jovem e bela Luzia perdeu o pai aos cinco anos de idade, e cresceu sob os cuidados da mãe, que sofria de graves hemorragias.
Ao peregrinar na cidade de Catânia, Luzia e a mãe acompanharam o Evangelho pregado durante a missa, o qual falava sobre a cura da mulher que padecia de hemorragias. A jovem, então, pediu ao Senhor que a mãe ficasse curada e foi rezar junto à imagem de Santa Águeda. No mesmo instante, a cura aconteceu.
A jovem Luzia, tocada pela graça de Deus decidiu consagrar sua vida a Deus, fazer voto de castidade e fidelidade a Jesus. Além disso, ela iria entregar seu dote de casamento (uma pequena fortuna) e seus bens para os pobres. A mãe concordou.
Mas Luzia tinha um pretendente a casamento, que não se conformou com a decisão de sua amada e a denunciou ao Governador Pascásio, acusando-a de ser cristã. O imperador Diocleciano tinha emitido um decreto autorizando punição exemplar para os cristãos.
Santa Luzia foi julgada e condenada, e como dava total importância à virgindade e ao amor a Jesus Cristo, o governador mandou que a levassem a um prostíbulo, mas ninguém conseguiu tirar Luzia do local onde ela se encontrava porque seus pés fincaram no chão. Depois, tentaram queimá-la viva, mas as chamas não tocaram seu corpo.
Por fim, os soldados arrancaram-lhe os olhos. No mesmo instante, na face de Luzia, brotaram outros olhos. Vendo que nada a fazia renegar a fé em Jesus Cristo, o imperador ordenou que ela fosse degolada.
Era 13 de dezembro de 304 D.C. A partir deste dia teve início a devoção à Santa Luzia, primeiro na Itália e depois por toda a Europa. Atualmente ela é conhecida como a “Santa da Visão”.
Igreja do Pilar
Construída em meados do século XVII, a Igreja do Pilar divide as cidades Alta e Baixa. A irmandade foi organizada em 1718, na capela de um pequeno convento Carmelita que existiu onde atualmente funciona o espaço Trapiche Barnabé. Em 1756 foi iniciada a construção do templo.
Segundo relatos, a imagem de Santa Luzia tinha sua própria igreja nas imediações da Avenida Contorno, mas foi destruída por um incêndio no final do século XIX. Por isso, a imagem foi transferida para o altar-mor da igreja do Pilar. Mas a devoção era tão grande que em 1902, a Irmandade decidiu construir um altar dedicado a ela, numa das laterais do templo.
Na parte interna destaca-se a talha neoclássica e as inúmeras pinturas, atribuídas a José Joaquim da Rocha – séc. XVIII. O conjunto das edificações tem elementos do barroco, rococó e neoclássico, este último traço predomina no cemitério e ossuário.
A igreja foi tombada como Monumento Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1938, o que não resultou em investimentos. Em, 2008 o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), iniciou a reforma do templo. Ano passado o IPAC entregou a Irmandade da Igreja do Pilar peças originárias dos séculos XVII, XVIII e XIX que foram restauradas.