A vacinação contra a febre amarela nos postos de saúde da zona norte da cidade de São Paulo tem gerado longas filas de espera desde o último sábado (21), quando a prefeitura da capital iniciou mutirão de imunização. A decisão ocorreu após a morte de um macaco bugio no Horto Florestal vítima de febre amarela silvestre. Se você mora na região, é preciso calma, pois não há nenhum caso de morte de humano em SP decorrente da doença, segundo explicam os especialistas ouvidos pelo R7.
O vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Renato Kfouri, reforça que “não há nenhum risco que justifique correria”. A imunização é preventiva.
— Todos que precisarão ser vacinados, serão. Não há nenhum caso de febre amarela em São Paulo. Apenas encontraram um macaco morto, São Paulo não tem a doença. O que deve ser feito é apenas ficar atento as recomendações. As ações [como vacinação] são preventivas, não cabe pânico.
Vale deixar claro que a febre amarela encontrada no macaco morto no Horto é do tipo silvestre. E a transmissão se dá por pelos mosquitos Haemagogus e Sabethe, conforme explica a infectologista e diretora da SPI (Sociedade Paulista de Infectologia), Lucy Vasconcelos. A febre amarela urbana não é registrada no Brasil desde 1972. O mosquito Aedes aegypti é o transmissor nas zonas urbanas.
— Precisaria que alguém fosse picado por esse mosquito, fosse para a área urbana, fosse picado pelo Aedes aegypti, e só então esse o Aedes transmitiria a febre amarela para outra pessoa.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, em 2017, houve 22 casos e dez mortes por febre amarela silvestre autóctones (transmissão local) confirmados no Estado de São Paulo. Na capital, não houve registro de caso autóctone de febre amarela silvestre em 2017 —apenas 12 casos importados.
Vacina é medida mais eficaz
A vacina contra a febre amarela é medida mais eficaz para prevenir e controlar a doença, explica Kfouri. “E devem tomar as pessoas que estão ou vão para áreas que têm confirmação de circulação do vírus. São Paulo passou a ter, assim como a região Norte”, afirma o vice-presidente da Sbim.
— Grávidas, crianças com menos de seis meses, idosos, pessoas que têm imunidade baixa, pessoas com câncer, que fazer radioterapia, pessoas com HIV, pessoas que tomam corticoide e supressores, pessoas que tem alguma doença cardíaca.
Vacina para todo o País
Hoje, a recomendação do Ministério da Saúde é vacinação contra febre amarela para a população de 20 Estados: Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia, Maranhão, Piauí, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Além das áreas com recomendação, neste momento, também está sendo vacinado o Espírito Santo.
Porém, ganha força no Ministério da Saúde a proposta de ampliar para todo o Brasil a vacinação de febre amarela. Conforme noticiou a Coluna do Fraga nesta terça-feira (24), o comitê técnico deve tratar do assunto nas reuniões agendadas para esta semana em Brasília.
Kfouri defende a expansão para todo o Brasil e acredita que ela ocorrerá em breve — já no ano que vem — com a inclusão no calendário nacional de vacinação.
— Quando a doença era restrita a uma pequena parte do território nacional, se justificava não vacinar quem não tinha risco. A partir do momento, que o avanço da doença é progressivo, caminhando para litorâneos, chegando para Estados como Rio de Janeiro e Espírito Santo é necessário. Além de deslocamentos das pessoas, hoje, são mais frequentes e mais fácil. Hoje, então, é uma necessidade ter um país coberto com vacina de febre amarela.
Sintomas
Na maioria dos casos, a febre amarela é assintomática. Quando se manifestam, eles incluem febre de início súbito, calafrios, dor de cabeça, dores nas costas, dores no corpo em geral, náuseas e vômitos, além de fraqueza. Geralmente, o vírus se manifesta de 3 a 14 dias. Em casos raros, pode atingir os órgãos, causando falência múltipla e levando à morte, explica Lucy.
Novo surto é possível
Com a proximidade do verão e a temporada de chuvas, Kfouri e Lucy não descartam a possibilidade de o Brasil viver um novo surto de febre amarela silvestre neste ano.
De acordo com o vice-presidente da Sbim, “tudo vai depender da cobertura vacinal”.
— Minas Gerais, por exemplo, que teve grande número de casos da doença? Quem de nós [aqui em São Paulo] sabía que para viajar para Minas Gerais que era necessário tomar vacina de febre amarela, por exemplo? [MG teve mais de 100 mortes em 2017]. É um grande desafio levar vacinação para região de campo, de mata.
Com surto ou não, Lucy alerta que é necessário se informar em lugares confiáveis e se preocupar sempre, já que existem outras doenças que o Aedes pode transmitir, como dengue, Chikungunya e zika.
— Pediria calma. Procure informações em locais de confiança, não se apavore e evite locais epidêmicos. Se for para esses locais, é importante se vacinar. Mas por enquanto não tem nenhuma comprovação de uma epidemia na região.
R7