A última corrida de Felipe Massa em Interlagos também significa o fim de linha do Brasil na Fórmula 1. O adeus do brasileiro encerra um ciclo que vem desde 1970, portanto, de 47 anos, com pilotos do País enfileirados no grid. Mais de uma geração acompanha a competição sempre na esperança de ver tremular no pódio a bandeira brasileira. Essa esperança não existirá em 2018. Felipe Massa se aposenta sem que o Brasil tenha um outro piloto na próxima temporada.
Em 16 anos, incluindo uma como piloto de testes, Massa disputou 267 GPs, com 11 vitórias e 16 pódios. Foi vice-campeão em 2008, após perder o título na última curva da última prova do ano, justamente em Interlagos, em sua casa. Um dia triste para o Brasil. Dos 31 brasileiros que já correram na F-1, ele só tem resultados inferiores aos campeões mundiais Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. “Acho que os números mostram bem como eu fui, como a minha carreira foi longa.”
Entre estes números está sua vitória em Interlagos, em 2006. Para Massa, foi seu melhor momento. “Foi o dia mais feliz da minha carreira”, diz ele, que pilota no asfalto de Interlagos desde a adolescência. “Aquela vitória no GP do Brasil era algo muito longe do que eu imaginava conquistar na minha vida.”
A trajetória do brasileiro também foi marcada por momentos difíceis. O maior deles ocorreu no treino classificatório do GP da Hungria de 2009. Uma peça do carro de Rubens Barrichello acertou sua cabeça e o tirou daquela e das oito corridas restantes. Apesar do grande susto, Felipe Massa não elegeu o perigoso episódio como o mais negativo de sua carreira. “O pior foi o GP da Alemanha, de 2010”, disse, referindo-se à prova que ficou famosa pela frase do chefe da Ferrari, via rádio. “Fernando está mais rápido do que você”, disparou. “Foi o dia mais triste da minha história na F-1, eu tive que deixar o Alonso passar. Uma frustração tremenda, me senti impotente.”
Apesar da lembrança negativa, ele evita lamentações. “Não mudaria nada. Sempre aprendi muito e não tenho nada a me lamentar”, afirmou. Massa espera deixar uma imagem de respeito e amizade na categoria mais competitiva do automobilismo. “Sempre tive respeito pelas pessoas e sempre fui muito bem tratado, querido até no meio da F-1. Espero deixar uma imagem de respeito por tudo o que passei e também recebi.”
Massa sonha com o reconhecimento dos brasileiros. “Brasileiro gosta de torcer por outro brasileiro. Mas nem sempre no Brasil se dá o devido valor. Às vezes é um pouco triste o que se vê… Nos outros países, os torcedores dão mais valor.”
O piloto da Williams se despede da categoria sem obter brilho nos últimos anos, após ter as melhores chances de título na Ferrari. Massa nem esperava competir neste ano. Foi chamado de última hora pelo time inglês para substituir o finlandês Bottas, que assinou com a rival Mercedes.
Neste seu ano extra, ele não brigou por pódio, mas está longe de lamentar a decisão de permanecer no campeonato por mais uma temporada. “Me diverti guiando o carro deste ano. É maravilhoso de pilotar, é mais rápido, independentemente de não ser tão competitivo assim. Consegui tirar muito do modelo 2017. Valeu a pena ter continuado na F-1.”
Melhores resultados não vieram em razão da falta de sorte, disse o piloto ao Estado. “Tive até chance de vencer o GP do Azerbaijão, mas também tive problemas no carro. Teve até pneus furados em outras corridas. Tranquilamente era para eu ter o dobro da pontuação que tenho atualmente”, comentou o atual 11.º colocado do Mundial, com 36 pontos.
Aposentado da categoria depois de disputar o GP de Abu Dabi, no dia 26, o brasileiro ainda não sabe o que fará da vida. Seu maior interesse é entrar na Fórmula E, a categoria de carros elétricos promovida pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA). Mas ele não tem pressa para decidir e diz que não pretende apenas fazer número na categoria que escolher futuramente. “Quero me divertir, ser útil e me sentir importante com a minha experiência.” Massa sai de cena e deixa o Brasil órfão na F-1.