O domingo (4) de dezembro amanheceu vermelho e branco no Centro Histórico de Salvador, para salvar Santa Bárbara e Oyá (Iansã). Na manhã em que fala mais alto a parte religiosa, com missa e procissão, percebe-se o quanto os ícones religiosos Bárbara e Iansã se fundem e como os fies demonstram sua fé, com fervor e devoção. Toda programação musical do palco principal teve patrocínio do Governo do Estado, pelo Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI), da Secretaria de Cultura Estado da Bahia.
A programação que começou cedo, às 5 horas da manhã, com uma alvorada de fogos, anunciava que tudo já estava preparado e que mais uma vez a Festa de Santa Bárbara seria intensa. Quando às 7h30 os clarins soaram das sacadas da Casa 17, sede do CCPI, o povo no Largo do Pelourinho, entre o palco principal em cima e a Igreja dos Rosários dos Pretos, já tomava todos os espaços, formando um verdadeiro mar vermelho. Estava anunciada a abertura do ciclo de Festas Populares da Bahia. A missa seguiu em sua liturgia e cânticos e a procissão subiu o Pelourinho com destino ao Corpo de Bombeiros, na Baixa dos Sapateiros, para uma breve passagem e seguiu no contrafluxo até seu retorno na Igreja dos Rosários dos Pretos.
A festa que carrega em si o chamado sincretismo religioso entre o catolicismo e as religiões de matrizes africanas pode ser bem observada na fala das aposentadas Iara Monteiro e Florisbela Teixeira, 82, elas que desde meninas participam da festa logo explicam: “Venho desde menina. Tenho muita fé em Iansã”, fala Iara. “Esta é a maior festa religiosa depois do Bonfim, pra mim. E Santa Bárbara, com ela, minha fé é muito forte”, rebate Florisbela.
Diz-se que tradição se passa de geração para geração, não podia deixar de ser assim na Festa de Santa Bárbara – Iansã. Muitas crianças com seus pais e avós participaram do evento. Elaine Assis, 35 anos, baiana de acarajé, levou sua filha para agradecer a Iansã a vida da pequena Odara Assis, de três anos. “Sempre tive devoção por Santa Bárbara, há dez anos que sou iniciada no Candomblé, mas não perco a festa de Santa Bárbara e de Oyá”, conta. Esbanjando saúde, a pequena Odara dá a ela um motivo maior para agradecer a Orixá. “Agradecer pra mim é importante, pois tive problemas de saúde na gravidez e deixei nas mãos de Oyá. Disse que se fosse da vontade Dela de eu ser mãe como Ela e que minha filha viesse com saúde. E hoje agradeço”.
Programação Musical
A partir das 14h, o palco no Largo do Pelourinho recebeu quatro atrações de peso e deu início a parte profana da Festa de Santa Bárbara. Quem deu o “ponta pé” inicial foi Jorginho Comancheiro que fez o público cantar e sambar. “A festa está linda, depois da devoção vou dançar e curtir os shows aqui no largo. Ainda bem que tem essa programação pra gente se divertir”, declara o pintor Valnei de Jesus, 44.
Em seguida foi a vez da Didá Banda Feminina botar o público para dançar ao som do autêntico samba-reggae. Elas que sempre participaram da Festa de Santa Bárbara, passaram um tempo sem tocar neste dia, como conta Víviam Caroline. “Ficávamos na passagem do cortejo e era muito mágico porque toda aquela fé é comovente. A cor vermelha de nosso figurino também ajudava a sintonizar a energia da festa”, explica. Ela relata emocionada como foi voltar a tocar na festa de Oyá. “É uma alegria! Tocar em casa, com estrutura, tem sabor de reconhecimento. Tocar pra um mar vermelho de gente nossa, observando a igreja Rosário dos Pretos é uma emoção sem tamanho. É sentir com tem sido também a fé nossa estratégia de liberação”.
Também passou pelo palco principal a cantora Márcia Short, a terceira atração no Largo do Pelourinho. Com sua voz marcante a cantora levou o público ao delírio. As pessoas no Largo do Pelourinho cantou as músicas em uníssono do início ao fim do show da cantora. A festa foi encerrada com chave de ouro por Aloísio Menezes, cantor de voz marcante e encorpada que não deixou a desejar.
Outros Largos
A diversidade de artistas não ficou apenas no palco principal. Os Largos Pedro Archanjo, Quincas Berro D’Água e Tereza Batistas, também teve muita música. Com o título “Dia de Santa Bárbara”, os grupos Samba de Verdade, Grupo Movimento e Samba do Pretinho colocaram o público pra sambar até à noite. Não foi diferente no ensaio dos blocos Fogueirão e Jaké fazendo a festa, “Vou com Fé: Samba de Oyá”. Já no Largo Tereza Batista quem agitou o fim de tarde foi a banda Samba da Vizinha.
O Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI) da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA) é responsável pela execução, proteção e promoção das políticas públicas de valorização e fortalecimento das manifestações populares e de identidade, orientadas de acordo com o pensamento contemporâneo da UNESCO e do Ministério da Cultura. Seu campo de atuação contempla a cultura do sertão, de matrizes africanas, ciganas e indígenas, LGBT, infância e idosos. Coordena o projeto Pelourinho Cultural, responsável pela programação artística dos largos do Pelourinho e suas grandes festas populares.
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Foto: Lucas Rosário