“Impressionante”. Foi com essa palavra que diferentes dirigentes do alto escalão da Fifa descreveram a situação de Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, depois de ter sido citado de forma repetida por testemunhas em Nova York durante o julgamento dos cartolas acusados de corrupção.
Mas, oficialmente, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, indicou nesta sexta-feira que vai aguardar o fim do julgamento nos Estados Unidos para tomar decisões sobre os casos ainda não solucionados. Del Nero passou a ser investigado pela Fifa em 2015. Mas, desde então, a entidade indicou que não avançou no processo.
Para a Fifa, só com uma decisão de condená-lo é que a entidade tomaria uma decisão de afastar o brasileiro do futebol. Sem sair do Brasil, porém, o dirigente evita um julgamento nos EUA e pode nunca ser condenado.
“Depois do processo, se condenados, vamos lidar com os casos. Temos mecanismos para isso e vão tratar dessa questão”, disse Infantino, respondendo a uma pergunta do Estadão especificamente sobre Del Nero. “Não é para o presidente lidar com o tema. Temos instituições para isso”, disse.
Infantino, porém, insistiu que os cartolas sob exame tem o direito a um “processo justo e tolerância”. “Vamos deixar o processo seguir. A Justiça tem mais mecanismos que nós. Seja qual for a decisão, teremos processos na Fifa para casos que não lidamos e não vamos hesitar em tomar medidas”, disse.
O presidente deixou claro que o tribunal “reconheceu a Fifa como vítima” de alguns cartolas e que a entidade foi usada para “benefícios particulares”.
Mas ele também insistiu que é necessário “fazer uma distinção entre o passado e o futuro”. “No passado, houve um ecossistema especial sobre a gestão”, admitiu. Segundo ele, as coisas que foram reveladas em Nova York “não podem mais ocorrer”. “Mas elas ocorreram e temos de lidar com o passado”, disse, agradecendo a Justiça americana pelo trabalho. “A corrupção não tem lugar no futebol”, afirmou.
Infantino, porém, quis comentar as evidências apresentadas em Nova York sobre a compra de votos pelo Catar para a Copa de 2022, inclusive a Ricardo Teixeira. “Não vou participar de especulação”, disse. “Temos que se cuidadosos com pré-julgamentos”, insistiu e lembrando que o maior caso de corrupção até hoje foi nos EUA, em Salt Lake City. “Por agora, são suspeitas”, disse.
Dando lições, porém, o presidente da Fifa alertou aos jornalistas que eram matérias de futebol que os leitores e ouvintes queriam ter acesso.
O presidente da CBF, que foi o único chefe de uma entidade classificada para a Copa a não viajar até Moscou, foi apontado como uma das pessoas que pediu e recebeu propinas por parte de intermediários, em troca de direitos para torneios na América do Sul. A própria defesa de José Maria Marin, presidente da CBF quando Del Nero era o vice, também passou a usar a estratégia de acusar o sucessor para tentar livrar seu cliente.
Na quarta-feira, Eladio Rodríguez, uma das testemunhas, afirmou ter pago US$ 4,8 milhões (cerca de R$ 15 milhões) em propinas para Del Nero e Marin. Um dia depois, a defesa do ex-presidente da CBF, que cumpre prisão domiciliar em Nova York, voltou a dizer ao júri que era Del Nero, e não Marin, que recebia propinas.
Para isso, exibiu alguns documentos, entre eles um e-mail de 6 de junho de 2013, enviado por Rodríguez a ele mesmo como um lembrete de atividades que teria de fazer. Entre elas consta “telefonar para Marco Polo para transferência”.
Se Del Nero não viajou, quem está em Moscou é Alexandre Silveira, um ex-funcionário de Ricardo Teixeira e que foi mantido nas seguintes administrações. Silveira foi citado na corte em Nova York como sendo a pessoa para qual eram feitas as ligações para falar com os dirigentes brasileiros para tratar de propina.
Segundo a testemunha Alejandro Burzaco, propinas foram pagas a Ricardo Teixeira, no valor de US$ 600 mil por ano entre 2006 e 2012, “em contas bancárias indicadas por ele ou seu secretário pessoal, Alexandre [Silveira]”.
R7