Especialistas em mercado imobiliário divergem sobre as mudanças anunciadas nesta quinta-feira (15) pela Caixa que permitirão que novos contratos de financiamento sejam corrigidos pela inflação. Segundo o governo, a redução dos juros será de quase um terço nos valores.
O juro fixo previsto em contrato será mais baixo e deverá ser somado à variação do IPCA em substituição à TR (taxa de referência), atualmente zerada. Os detalhes serão anunciados na próxima semana.
Como a Caixa concentra a maior parte dos financiamentos do país, a mudança pode forçar outros bancos a baixarem os juros, atualmente entre 8% e 9,5%, em média.
Segundo Ricardo Paixão, vice-presidente da Rede Imobiliária Secovi, o sindicato do setor da habitação, a mudança foi comemorada pelo segmento, que prevê um aumento nas vendas. “Com os juros baixando, os valores ficam ainda mais compatíveis com os aluguéis. Então, a nova taxa, em um cenário onde não há expectativa de inflação alta, acaba sendo atrativa para o consumidor”, diz.
A mudança pode ainda movimentar a economia de outra forma. Com a indexação ao índice oficial de inflação do país, os bancos poderiam emitir títulos de dívida ligados a esses empréstimos, como a LCI (Letra de Crédito Imobiliário).
Para a advogada Daniele Akamines, diretora da consultoria Akamines Negócios Imobiliários, o fato de a economia ser dinâmica coloca o consumidor em risco de sofrer “grandes prejuízos”. Ainda mais em períodos longos, já que muitos contratos são feitos em prazos que chegam a 35 anos.
O IPCA deve fechar em 3,82% em 2019, segundo previsões do IBGE. Ou seja, dentro da meta estipulada pelo governo. Em 2015, porém, no auge da crise econômica, a inflação do país disparou e superou os 10% em 12 meses.
“O valor do financiamento fica suscetível a grandes alterações. Se houver uma geada, por exemplo, e o preço de alguns alimentos for lá pra cima, isso vai impactar bastante nos financiamentos”, diz.
Taxa de juros
Tanto Ricardo Paixão como Daniele Akamines concordam que a recente queda na taxa baxa de juros para 6%, determinada em julho pelo Copom (Comitê de Política Monetária), tornaram a compra de imóveis mais atrativas. Isso porque os juros oferecidos pelos bancos na tentativa de fechar contratos seguem as tendências da Selic. E o rendimento para quem deixa o dinheiro aplicado já não é o mesmo de anos anteriores.
Além disso, os aluguéis têm subido mais proporcionalmente em relação ao preço dos imóveis. O aluguel residencial no Brasil terminou o mês de julho com a oitava alta consecutiva (0,08%), o que contribui para alta de 3,53% no ano, segundo a FipeZap. Já os imóveis ficaram 0,29% mais caros no primeiro semestre. Outra pesquisa, do Secovi, apontou aumento de 5,11% no preço dos aluguéis na capital paulista no acumulado de 12 meses.
Os especialistas afirmam que o interessado deve analisar a conjuntura, fatores como entrada, reforma e expectativa de valorização, e não apenas com a parcela mensal que terá de desembolsar em aluguel ou financiamento.
“O financiamento vai ficando mais atrativo com essas reduções. Mas a pessoa tem que ver se pode dar a entrada pedida, se é preciso reformar o imóvel e se há liquidez”, diz. Uma das principais medidas é entender se há a intenção de ficar com o imóvel pelo menos no médio prazo”, afirma.
R7