Com a Selic no menor patamar histórico, de 2% ao ano, as taxas de juros para o financiamento imobiliário também caíram e contribuíram para que a prestação da casa própria coubesse no bolso de mais brasileiros.
Segundo levantamento da plataforma imobiliária Kzas, o financiamento ficou até 30% mais barato para os consumidores brasileiros. Veja a simulação:
Um imóvel de R$ 500 mil, com entrada de R$ 100 mil, financiamento de R$ 400 mil e 360 meses para pagar. Em 2016, o mutuário pagaria uma parcela inicial de R$ 4.630,43. Agora, esse mesmo empréstimo começa com prestação de R$ 3.369,60.
“Como se trata de um financiamento longo, ao final do contrato, o mutuário terá economizado cerca de R$ 240 mil só com a diferença na taxa de juros ”, calcula o CFO e co-fundador da plataforma Kzas, Eduardo Muszkat.
Em outra simulação, considerando um imóvel de R$ 950 mil e R$ 100 mil de financiamento, a parcela inicial cai de R$ 1.290,84 para R$ 903,34, considerando o pagamento em 360 meses. No fim do contrato, o mutuário terá desembolsado R$ 72,5 mil a menos com juros.
O valor da taxa de juros varia de acordo com a instituição financeira. A partir desta quinta-feira (22), a Caixa Econômica Federal reduziu a taxa de juros neste mês para o financiamento imobiliário e vai dar seis meses de carência aos compradores. Agora, a taxa está entre TR + 6,25% ao ano e TR + 8% ao ano. A taxa mínima é 2,5 pontos percentuais inferior à praticada em dezembro de 2018.
O analista da Guide Investimentos Caio Ventura diz que as taxas de juros brasileiras sempre foram altas ao longo da história, dificultando o acesso ao financiamento para muitos.
“Com a redução, temos uma impulsão importante na demanda, o que já é refletido na venda dos imóveis”, afirma Ventura. Para ele, apesar das taxas mais baixas, a novidade beneficia principalmente pessoas de classe média e alta, grupo de pessoas que conseguiram ter uma resiliência maior durante a pandemia.
A taxa de juros é um fator determinante na hora de adquirir um financiamento, mas não deve ser a única. Ventura orienta que o valor da parcela pode comprometer até, no máximo, 30% da renda.
O co-fundador de Kzas, Eduardo Muszkat, afirma que uma boa alternativa para se beneficiar das taxas baixas do momento é adquirir um financiamento com taxa fixa. “Se a taxa de juros ficar mais baixa, você faz a portabilidade, se aumentar, você fica fixo”, diz Muszkat.
Muszakt diz que é um bom momento para comprar, porque existe uma perspectiva de aumento da inflação e, consequentemente, de juros. “É importante se dar conta de que essa redução nas taxas de juros que os bancos estão fazendo, com toda a questão de que o mercado está retomando, em relação ao que veio, existe uma perspectiva de inflação”, diz.
A economista da Toro Investimentos Paloma Brum afirma que, além das questões racionais, a compra de um imóvel próprio muitas vezes envolve um sonho, que também deve ser levado em conta. Para conquistar o sonho, no entanto, é preciso ter disciplina.
“Eu acredito que ela vai precisar ter uma disciplina muito grande em relação aos gastos. Às vezes a pessoa assume um financiamento, acha que vai ter capacidade de renda, mas ela que a pessoa está tão focada na compra, que ela esquece que pode precisar de outras coisas”, explica Brum.
Situações planejáveis, como o pagamento da faculdade para os filhos no longo prazo, devem ser consideradas para não chegar ao ponto de ter mais dívidas do que pode bancar.
Brum explica que é importante avaliar o custo do aluguel e da parcela do financiamento para decidir assumir a dívida.
Segundo Brum, há alguns anos, pessoas de renda mais alta conseguiam deixar o dinheiro guardado, rendendo e, com o rendimento, pagar o aluguel, já que as taxas de juros no país eram altas e os títulos públicos e privados rendiam muito mais. No entanto, atualmente, é praticamente impossível realizar esta operação, mesmo para quem tem um montante alto poupado.
Além disso, os contratos de aluguel são calculados pelo IGP-M, indicador de inflação que tem mostrado sinais de alta. A prévia de outubro, por exemplo, apontou variação de 20,56% nos últimos 12 meses, percentual que pode ser utilizado para a renovação do contrato de aluguel.
“Então você vai pagar aluguel agora e, se for levar na regra do contrato, está tendo um aumento de 20,56% e quando a gente olha a rentabilidade da Selic, a conta não fecha”, explica Brum. Apesar do percentual alto, a especialista afirma que dificilmente será utilizado em sua totalidade para os reajustes, porque o país passa por um período de crise.
Com o aluguel pesando no bolso, pode ser que muitas pessoas optem pelo financiamento imobiliário. Entender o mercado de atuação também é fundamental. Como o financiamento imobiliário tende a ter prazos muito longos, é interessante saber se há estabilidade profissional antes de assinar o contrato de compra.
O ideal é que o comprador se organize para dar uma entrada com o maior valor possível, assim vai financiar um montante menor e, consequentemente, pagar menos juros para compra do imóvel.
“Eu acho que também quando falamos de pessoa física o ideal seria avaliar o quanto o banco está disposto a financiar. Cada instituição vai ter um percentual e um prazo, que é sempre importante você considerar que quanto mais tempo pagar, mais caro você vai pagar”, explica Ventura.
Para facilitar a compra do imóvel próprio, a orientação de Muszakt é que o consumidor poupe todos os meses para fazer a compra que sonha quando encontrar o local certo. Dessa forma, terá um montante maior para a entrada e vai financiar uma parcela menor do valor do imóvel.
Para que o financiamento valha a pena, Brum orienta que o consumidor pesquise sobre a capacidade de valorização do imóvel. “O imóvel tem que ter uma perspectiva de valorização a longo do tempo maior do que a taxa de juros do financiamento”, afirma. A especialista diz que é importante analisar o local do imóvel, se o bairro está em crescimento e quais as perspectivas futuras do mercado para aquela localidade.
R7