O que tem essas seis jornalistas, entre profissionais baianas veteranas, para merecer a atenção especial do escritor Emiliano José, a ponto de publicar um livro só sobre elas? Muitos devem estar se indagando e, querendo mais detalhes, podem adquirir no site Amazon o e-book “As comadres estão chegando”. O autor, imortal da Academia de Letras da Bahia, lançou a sua obra nesta última sexta-feira (27), segundo dia da 11ª Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), na companhia de quatro das suas protagonistas: Jaciara Santos, Mônica Bichara, Joana D’Arck e Isabel Santos.
Mas por que elas, se nem são as primeiras mulheres a chegar nas redações dos jornais no estado, onde existem tantas profissionais também gabaritadas e que não foram contempladas nesta obra? O próprio Emiliano José fez questão de explicar seus motivos, não só para acalmar a ciumeira de colegas também próximas a ele e que não entraram em sua obra, mas especialmente para destacar os méritos das suas protagonistas (incluindo aí Carmela Talento e Ana Vieira, que não puderam comparecer ao lançamento), “todas com trajetórias de muito compromisso e seriedade no exercício da profissão e que foram rompendo as barreiras de uma profissão que outrora fora predominantemente masculina”.
“As comadres estão chegando” é uma obra que foi se construindo nas publicações iniciais no Facebook, onde o jornalista e escritor desenvolve a série “#MemóriasJornalismoEmiliano”, da qual já foram produzidos os livros “Balança mas não cai”, “O violeiro e a filha D’Oxum” e “Os comunistas estão chegando”, este último servindo como inspirador do título sobre as seis jornalistas. Emiliano também contou para uma numerosa plateia que prestigiou o lançamento no espaço da Flica, no salão da Estação Ferroviária, sobre o seu fascínio pelo que chamou de fenômeno essencialmente nordestino e muito forte da Bahia que é o “comadrio”.
Paulista radicado na Bahia desde o começo dos anos 70, o autor vê muita beleza, força e solidariedade, ou “sororidade”, na relação das comadres baianas e quis registrar como esse tipo de relação marcou as trajetórias das colegas de redação. Especialmente Mônica Bichara, Joana D’Arck, Isabel Santos e Jaciara Santos, conforme ele pontuou, “são comadres de verdade, no sentido da palavra, e essa ligação entre elas marcou as suas jornadas de mulheres, mães e profissionais que muitas vezes tiveram que trabalhar carregando os filhos pequenos e umas ajudaram a outras e foram construindo belas carreiras, se firmando como profissionais sérias, capazes e rompendo barreiras, passando a ocupar cargos e funções que nas redações eram somente dos homens”.
As protagonistas também falaram ao público. Joana D”Arck começou com um breve relato de dificuldades iniciais de todo jornalista e do crescimento profissional que vão adquirindo no exercício da profissão, quando levado com seriedade e responsabilidade. Falou da importância da luta conjunta das mulheres nas redações, apenas sendo profissionais, e que resultou no rompimento das barreiras apontadas por Emiliano. “Mas estivemos juntas também nos protestos, greves e manifestações nas ruas para defender nossos direitos”, frisou ela, para em seguida defender que a luta de todos os jornalistas agora é pela volta da exigência do diploma para o exercício da profissão.
Isabel Santos também enfatizou a importância da votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 206/12, em análise na Câmara dos Deputados, para a reinstituição da obrigatoriedade do diploma de nível superior específico em jornalismo para o exercício da profissão no Brasil. “O diploma é resultante de estudo na universidade, onde aprendemos sobre ética profissional e ampliamos os conhecimentos para exercermos a profissão com responsabilidade, respeito e humanidade. Quem quer ser atendido por médico sem diploma?”, comparou.
Jaciara Santos também abordou o desafio das mulheres nas redações de jornais, onde acabaram conquistando espaços que antes era somente de homens. “Não fomos as primeiras profissionais a chegar nas redações, mas sem dúvida conquistamos espaços importantes num ambiente predominantemente masculino, e também enfrentamos os desafios da tecnologia e da vinda das redes sociais. E continuamos na ativa”.