Especialistas de todo o mundo se reúnem virtualmente a partir de hoje (17) no 2ª Fórum Internacional para Segurança do Paciente, com o objetivo de debater as falhas na assistência à saúde e infecções adquiridas em hospitais que respondem pela morte de milhões de pessoas anualmente no mundo. Médicos, enfermeiros, farmacêuticos, sociedades e empresas se reúnem para buscar melhorias no cuidado e mudanças para o setor.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), quatro a cada dez pacientes sofrem algum dano durante os cuidados primários e ambulatoriais e 134 milhões de eventos adversos ocorrem, anualmente, nos hospitais de países de baixa e média renda, acarretando até 2,6 milhões de mortes. Ainda segundo a OMS, cerca de US$ 42 milhões são gastos ao ano em decorrência de erros de medicação. Hoje (17), é comemorado o Dia Mundial da Segurança do Paciente, dedicado este ano a cuidados maternos e neonatais seguros.
No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP), ocorrem mais de 220 mil óbitos ao ano em razão dessas falhas na assistência à saúde e infecções, resultando em despesas hospitalares em torno de R$ 10,9 bilhões, valor equiparável ao de países como Estados Unidos, que possuem população 55% maior do que a brasileira.
Pesquisa efetuada pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) apurou que somente no ano de 2017, os gastos hospitalares com desperdícios de exames e procedimentos desnecessários somaram R$ 27 bilhões.
Para a fundadora do IBSP, Karina Pires, enfermeira especializada em Terapia Intensiva e Qualidade e Segurança do Paciente pela Universidade Nova de Lisboa, esses recursos poderiam ser investidos em prevenção.
Gestão de risco
A médica Rosana de Deus Decotelli, gerente médica da Aspen Pharma e membro da comissão científica do fórum, destacou a importância do atendimento multidisciplinar na assistência ao paciente. “O cuidado do paciente depende de médicos, enfermeiros, farmacêuticos. Todos os profissionais de saúde precisam estar atentos às barreiras de segurança, para que o paciente tenha a melhor qualidade assistencial”, disse à Agência Brasil.
Rosana entende que a principal mudança deve estar em usar a tecnologia e a inovação a favor dos profissionais da saúde e dos pacientes. “A tecnologia e a inovação têm que ser usadas para diminuir as falhas humanas. Se conseguirmos implementar barreiras de segurança e atenção para que essas falhas sejam minimizadas, fazendo uma boa gestão de risco, a gente pode diminuir esses eventos adversos”.
A médica elencou, entre os motivos de falhas por parte dos profissionais de saúde, fatores humanos, como a Síndrome de Burnout, que define problemas de exaustão, e cansaço; falta de conhecimento; e, ainda, falhas na transição do cuidado.
“Por isso, a gente está unindo todos os profissionais que estão envolvidos no cuidado do paciente para discutir em conjunto, para abordar não só o cuidado de um paciente, mas também essas transições dos cuidados, minimizando as falhas e criando, por exemplo, sistemas de educação continuada, de gestão de risco”.
Desafios
Participam do fórum, entre outros especialistas, o anestesista Stefan Schraag (Reino Unido), os intensivistas John Kress (Estados Unidos), Jean Louis Vincent (Bélgica), Jean Daniel Chiche (Suíça) e Pedro Póvoa (Portugal). Entre os temas abordados hoje (17) no evento estão a anestesia, procedimento que impacta diretamente na segurança do paciente, e a terapia intensiva, que foi uma das especialidades mais afetadas durante a pandemia de covid-19.
Para o IBSP, os principais desafios que serão enfrentados ao longo dos próximos dez anos pelas instituições e profissionais de saúde que buscam ofertar uma assistência de qualidade e segura envolvem a promoção da cultura de segurança; monitoramento e implementação de melhorias; envolvimento do paciente; resistência antimicrobiana e gestão medicamentosa; e força de trabalho da saúde
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima uma carência de cerca de 18 milhões de profissionais de saúde até 2030.
Agência Brasil