A quadra da escola de samba Grande Rio, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, é a primeira de seis escolas de samba do grupo especial do Rio, considerado a elite do carnaval carioca, que vão receber, até domingo (14), intervenções artísticas da fotógrafa paulista Flávia Junqueira. Além de fotos, Flávia vai fazer vídeos, que ao fim do projeto serão editados em um documentário.
A inspiração para o trabalho foi a situação completamente diferente que a pandemia de covid-19 causou na vida dos componentes das escolas e dos visitantes das quadras.
“A ideia de entrar nesses espaços foi justamente por entender que o carnaval é uma festa popular, muito característica de nosso país e, neste momento, com todas as restrições que estamos passando por causa do novo coronavírus, esses espaços estão extremamente vazios, quando a gente sabe que se fosse uma situação normal estariam repletos de pessoas, supercoloridos e com samba. As quadras são lugares de união do público”, disse a fotógrafa em entrevista à Agência Brasil.
No lugar do ambiente vazio estará um cenário produzido por Flávia Junqueira com balões, confetes, serpentinas, papel picado e fumaça colorida nas cores de cada escola. “As fotos são sem ninguém, para refletir um pouco sobre este momento em que a gente vive e [espaços] que, na maioria das vezes, estariam lotado e com muitas festas. É mostrar o vazio junto com a festa. É uma intervenção um pouco triste, mas, ao mesmo tempo, uma homenagem e uma grande alegria poder levar para esses espaços algo da festa que o público teria normalmente”, comentou.
A escolha das escolas seguiu a classificação do carnaval de 2020, com as seis primeiras colocadas. “A gente não tinha como fazer em todas, já que são muitas e ficam em lugares muito distintos. Para conseguir viabilizar, achamos que uma possibilidade era homenagear as seis primeiras colocadas no carnaval”, afirmou.
Hoje (11), as intervenções serão nas quadras da Mangueira e do Salgueiro, na zona norte. Amanhã será a vez da Beija-Flor de Nilópolis, também na Baixada. No sábado (13), a Mocidade Independente de Padre Miguel, na zona oeste, vai receber a fotógrafa e no domingo, fechando as intervenções nas quadras, será a vez da campeã de 2020, a Viradouro, de Niterói, na região metropolitana do Rio.
“As cores da escola são a base do cenário e em algumas estou adicionando serpentinas ou chuva de papel picado prateado. Por exemplo, a Viradouro vai ter esses papéis e um algo a mais por ter sido a última campeã. Cada uma a gente está fazendo a partir da história da escola, como as cores e a bandeira”, contou.
Sambódromo
O palco dos desfiles também vai receber uma intervenção artística. Na terça-feira (16) de carnaval (16), com autorização da prefeitura do Rio, por meio da Riotur, Flávia Junqueira vai poder fazer as fotos e os vídeos, que considera com um perfil mais poético, com movimento dos objetos usados nos cenários. No local, que será aberto apenas para a fotógrafa fazer o seu trabalho artístico, as cores vão representar todas as agremiações.
“A gente finaliza o projeto com essa intervenção que tem uma escala maior, justamente pela arquitetura do espaço. Eu utilizo balões maiores com as cores misturadas de todas as escolas, no lugar que recebe todas elas. Vai ser também uma homenagem a esse espaço arquitetônico que também estaria em festa neste momento, mas infelizmente está vazio”, acrescentou.
Além da Riotur, a iniciativa conta com o apoio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa e da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa).
A artista disse que tudo está sendo feito de acordo com as regras de segurança sanitária. Uma equipe de produção foi contratada especialmente para as montagens, que contam com o apoio da marca de balões Qualatex Brasil. O cenário é montado para as fotos e vídeos e, com o trabalho encerrado, tudo é desmontado para evitar que provoquem aglomerações de quem for ao local para tentar ver o trabalho, e ainda porque os espaços são ocupados pelas escolas para outras atividades.
Para a secretária de Cultura do Rio, Danielle Barros, o trabalho da fotógrafa vai trazer alegria a lugares que teriam a tristeza do vazio. “Sou fã do trabalho da Flávia e acredito que vem casar perfeitamente com a necessidade que temos de levar alegria sem ajudar a propagar a covid-19. Um acontecimento que ficaria marcado pelo vazio e pela tristeza será marcado para sempre por esse trabalho que ficará belíssimo”, observou.
A artista Flávia Junqueira, que atualmente está com a exposição Revoada, no Farol Santander de Porto Alegre, depois de ter ocupado o Farol de São Paulo, é reconhecida pela originalidade de seu trabalho, mostrado em galerias e museus de diversos países. Entre os principais projetos e exposições coletivas de que participou, estão a Culture and Conflict, IZOLYATSIA in Exile; Palais de Tokyo, The World Bank Art Program e o prêmio Energias na Arte, no Instituto Tomie Otahke. Algumas de suas obras integram o acervo de museus e espaços culturais no Brasil, como o Museu de Arte do Rio (MAR-RJ), Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) e Museu do Itamaraty.
Agência Brasil