Mais de 40 mil refugiados da Etiópia chegaram ao Sudão desde que um novo conflito armado começou no início do mês no território etíope, informou nesta terça-feira o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
Os milhares de refugiados que cruzam a fronteira diariamente são habitantes de Tigré, foco das hostilidades entre a rebelde Frente Popular de Libertação de Tigré – partido governante nesta região do norte do país, na fronteira com Sudão e Eritreia – e o Exército etíope.
Somente no fim de semana, coincidindo com o anúncio do governo central de que estava lançando a etapa final da ofensiva contra Tigré, 5 mil mulheres, homens e crianças chegaram ao Sudão, disse a agência da ONU.
O Acnur informou que não havia capacidade suficiente de abrigo para tantos refugiados e que 100 mil refugiados eritreus em Tigré ficariam sem comida, água e serviços essenciais dentro de uma semana se o acesso à ajuda humanitária não fosse concedido.
A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, expressou preocupação com a interrupção das comunicações em Tigré e relatos de assassinatos, prisões arbitrárias e discriminação contra o povo de Tigré por motivos étnicos.
“A retórica agressiva dos dois lados do conflito em relação à luta por Mekelle (capital de Tigré) é muito perigosa e ameaça colocar os civis, já vulneráveis, em um risco muito maior”, afirmou Bachelet sobre os tanques e a artilharia pesada que o Exército tem mobilizado ao redor da cidade.
De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), há meio milhão de civis na capital, incluindo 200 trabalhadores humanitários.
Estima-se que o número total de pessoas que precisarão de assistência de emergência devido ao conflito chegará a dois milhões, portanto, o OCHA estabeleceu um plano para ajudar as regiões de Tigré e as vizinhas Afar e Amhara.
A disputa entre Tigré e o governo federal vem se intensificando há meses, com o adiamento indefinido das eleições gerais, que deveriam ter sido realizadas em agosto, na Etiópia.
Após o atraso das eleições pelo Covid-19, a Frente Popular de Libertação de Tigré realizou suas próprias eleições parlamentares em setembro, as quais o governo central considerou ilegais e que estão na origem desta ofensiva militar.
R7