O ex-ministro Geddel Vieira Lima disse nesta terça-feira (6) em depoimento à Justiça Federal em Brasília que telefonemas para Raquel Pitta, mulher do operador Lúcio Funaro, eram humanitários, por solidariedade, e que nunca fez ameaças a ela.
O depoimento de Geddel faz parte do processo onde ele é acusado de obstrução de justiça por suposta tentativa de atrapalhar a delação de Lúcio Funaro, quando ele estava em tratativas com a Procuradoria Geral da República.
Segundo as investigações, Geddel fez contatos telefônicos constantes com Raquel Pitta com o objetivo de impedir acordo de delação premiada de Lúcio Funaro, apontado por investigadores como operador de propinas de políticos do PMDB.
“Me coloquei a ajudar, eram ligações humanitárias. Manifestei solidariedade com sua esposa e filha”, afirmou Geddel. Após o depoimento, o advogado do ex-ministro divulgou nota na qual afirma que é atribuído a ele um “falso crime” e que espera a “completa absolvição” (leia a íntegra da nota ao final desta reportagem).
Logo no início do depoimento, questionado pelo juiz Vallisney de Oliveira sobre seu estado de espírito, Geddel afirmou “que amigos de longa data me lançaram no vale dos leprosos”. O depoimento de Geddel durou cerca de 30 minutos.
Geddel afirmou diversas vezes que as ligações para Raquel Pitta eram solidárias. Também disse que nunca ofereceu vantagens e que ninguém do governo cobrava as informações tratadas entre os dois.
Por orientação da defesa, Geddel não respondeu às perguntas do Ministério Público. Geddel se manifestou em apenas um momento, afirmando não ter conhecimento do número de ligações feitas à Raquel Pita.
Em audiência de custódia, em junho do ano passado, Geddel afirmou que havia feito pelo menos 10 ligações.
Investigações
Geddel está preso no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, desde setembro do ano passado por causa de outra investigação: a origem dos R$ 51 milhões encontrados em malas e caixas em um apartamento em Salvador, atribuído a ele.
O ex-ministro Geddel Vieira Lima foi preso pela primeira vez em julho de 2017 acusado de agir para atrapalhar investigações da Operação Cui Bono, que apura fraudes na liberação de crédito da Caixa Econômica Federal – o ex-ministro foi vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa entre 2011 e 2013, no governo Dilma Rousseff.
A investigação, que se concentra no período em que Geddel ocupou o cargo, teve origem na análise de conversas registradas em um aparelho de telefone celular apreendido na casa do então deputado Eduardo Cunha.
O Ministério Público Federal (MPF) argumenta que Geddel atuou para evitar possíveis delações premiadas do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e de Lúcio Funaro, ambos presos pela Operação Lava Jato e também investigados na Cui Bono.
Dias depois da prisão, o desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), autorizou o ex-ministro Geddel Vieira Lima a deixar a Papuda para cumprir prisão domiciliar.
Nota da defesa
Após o depoimento de Geddel, a defesa do ex-ministro divulgou a seguinte nota:
Nota à imprensa
Após a audiência realizada no dia de hoje, 06 de fevereiro de 2018, em processo no qual o sr. Geddel Quadros Vieira Lima é injustamente acusado do inocorrente crime de obstrução à investigação, em razão de ligações telefônicas que supostamente teriam sido realizadas para a esposa de Lúcio Funaro, ficou ainda mais evidenciada sua já sabida e comprovada inocência. Ao longo do processo, tanto o delator premiado, quanto sua esposa, que supostamente recebera ligações telefônicas de Geddel Vieira Lima, afirmaram jamais terem sofrido qualquer ato de coação ou ameaça, salientando que jamais foram questionados, muito menos pressionados, quanto ao acordo de delação premiada firmado por Lúcio Funaro com o Ministério Público. Igualmente, as demais testemunhas ouvidas no processo refutaram, por completo e de modo inequívoco, a versão sustentada pelo Ministério Público, desmentindo todos os supostos fatos alegados na denúncia. Nesse ponto, sabedor da improcedência da acusação, na vã esperança do tempo lhe servir como aliado, já que a verdade dos fatos não lhe favorece, o Ministério Público recusou-se a apresentar suas alegações finais em mesa de audiência, conforme determina a legislação pátria, em relação a qual a defesa estava apta a fazê-lo, revelando a carência dos seus fundamentos. Assim, como medida de justiça, espera-se a completa absolvição do sr. Geddel Quadros Vieira Lima do falso crime que lhe foi atribuído.
Salvador/BA, 6 de fevereiro de 2018.
Gamil Föppel OAB-Ba 17.8
G1