A gravidez provoca mudanças físicas “duradouras” no cérebro de uma mulher, com uma perda significativa, mas aparentemente benéfica, de substância cinzenta em partes do órgão, segundo um estudo publicado na segunda-feira.
Algumas alterações duraram pelo menos dois anos, mas não pareciam prejudicar a memória nem outros processos mentais, relataram os pesquisadores.
As mudanças “dizem respeito às áreas cerebrais associadas às funções necessárias para lidar com os desafios da maternidade”, disse em um comunicado a coautora do estudo Erika Barba-Muller, da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB).
Os aumentos de hormônios e as mudanças físicas da gravidez são conhecidos e estudados há muito tempo, mas os efeitos desta no cérebro das mulheres são pouco compreendidos.
O novo estudo, publicado na revista científica Nature Neuroscience, afirma fornecer a primeira evidência de “que a gravidez provoca mudanças duradouras no cérebro de uma mulher”.
Os pesquisadores compararam exames do cérebro pré e pós-gravidez de 25 mães de primeira vez. Eles também analisaram o cérebro de pais de primeira viagem, assim como o de homens e mulheres sem filhos.
Encontraram “reduções de volume de GM (matéria cinzenta) pronunciadas e duradouras no cérebro de uma mulher” na gravidez, em regiões envolvidas em processos sociais.
Em testes posteriores, essas mesmas regiões se iluminaram mais em exames que mediram as reações das mulheres aos seus bebês.
As mudanças no cérebro foram provavelmente uma adaptação para a maternidade – aumentando a capacidade de reconhecer as necessidades e o estado emocional de um bebê e de decodificar potenciais ameaças à sua saúde e segurança, disseram os pesquisadores.
A matéria cinzenta é encontrada na camada externa do cérebro chamada córtex cerebral, onde ocorrem os processos de aprendizagem e memória, função motora, habilidades sociais, linguagem e resolução de problemas.
Os pesquisadores “não observaram quaisquer alterações na memória ou em outras funções cognitivas durante as gestações e, portanto, acreditam que a perda de matéria cinzenta não implica quaisquer defeitos cognitivos”, disse uma declaração da UAB.
O estudo analisou as mulheres durante um período de até dois anos após a gravidez, por isso não está claro quanto tempo as mudanças no cérebro podem durar.
A pesquisa apontou para um processo chamado “poda sináptica”, que acontece nos seres humanos na adolescência para remover sinapses (conexões entre as células cerebrais) raramente utilizadas.
Isso é feito para abrir caminho, depois da infância, para sinapses mais eficientes e especializadas e aumentar a eficiência geral da rede de conexões.
Um processo semelhante pode estar presente na gravidez, especularam os pesquisadores.
uol