As marcas dos grupos de renovação estão espalhadas por candidatos a prefeito e vereador por todo o País e não só nas capitais. Em Xexéu, município de cerca de 40 mil habitantes a 140 km do Recife (PE), João Victor Silva é candidato a vereador pelo PSC. Aos 21 anos, o técnico de informática participa da disputa eleitoral já influenciado por movimentos. Há dois anos ele frequenta as organizações e hoje está associado ao Livres, ao Acredito e ao RenovaBR.
“Tive capacitação nos movimentos e participei de processos seletivos para ver quem iria representá-los nas eleições. Ao contrário dos partidos políticos, onde pode entrar qualquer pessoa, independentemente se faz boas práticas na política ou não”, afirmou Silva.
Com 1.032 ex-alunos candidatos a prefeito e vereador em 398 cidades, o RenovaBR é o grupo que mais terá representantes nas urnas no mês que vem. É um crescimento de 800% em relação aos 117 candidatos que levaram a marca da iniciativa para o pleito de 2018.
A Raps tem 187 líderes disputando as eleições em 95 cidades brasileiras. O Acredito, 100 candidatos em 75 municípios. O Livres está associado a 75 candidaturas em 40 cidades. O Agora lançou apenas cinco nomes em cinco municípios diferentes.
O número de candidatos associados a esses movimentos supera pelo menos cinco partidos: o Novo, que aposta em 620 nomes em todo o País na eleição deste ano, e siglas “nanicas” como PSTU, PCB, PCO e UP, que, somadas, chegam a 555 candidaturas – dentre as quais a reportagem não identificou membros de grupos de renovação.
“É uma tendência que já vem desde a eleição de 2018. Esses movimentos apostaram em variedade, foram ficando mais conhecidos e agora estão em todo o espectro político”, disse a cientista política Carolina de Paula, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Para ela, o quadro é sintomático da crise dos partidos no Brasil. “A política partidária tradicional envelheceu e não deu espaço nem para a renovação interna. Vai ter que remar para se acostumar a este novo paradigma.”
Integrante da Raps, Madalena Santos é candidata pelo Avante a uma vaga na Câmara Municipal de Hortolândia, no interior de São Paulo. A biomédica está em sua terceira campanha, depois das tentativas de se eleger ao cargo de vereadora em 2012 e de deputada estadual em 2018 pelo PSOL.
Antes do pleito deste ano, decidiu apostar na qualificação da Raps e avalia que obteve um “olhar mais amplo para a prática de boas políticas” com base no diálogo cívico. “Os partidos políticos vêm criando uma briga absurda, que foge do foco e do debate político, e quem perde são as pessoas e a democracia. Não vivemos em uma bolha. É fundamental dialogar”, afirmou Madalena.
Currículo
Em capitais, a estratégia para tentar se diferenciar em meio ao número elevado de candidaturas passa até por registrar a experiência nos movimentos de renovação no currículo profissional. É o caso de Michelle Guimarães, candidata pelo PL a vereadora em Manaus (AM). Com quase 15 anos na iniciativa privada, formada pelo RenovaBR e associada à Raps e ao Agora, ela defende a ideia de que político tem de se preparar para exercer o cargo público assim como qualquer profissão.
“Nunca vi os partidos fazerem essa preparação de forma incisiva como os movimentos. Alguns até entenderam a importância e tentaram fazer algo parecido”, disse Michelle. “Se todo mundo tem que estudar para exercer uma função, por que o político não? Por isso apresento meu currículo.” Ligado ao movimento Agora desde sua fundação, em 2018, o advogado Diogo Busse (PDT), candidato pela terceira vez a vereador em Curitiba (PR), vê nos movimentos uma saída para fortalecer o diálogo e a democracia, e assim, melhorar a política.
“Os partidos estão desacreditados. Salvo raras exceções, os partidos são instituições pouco transparentes e ambientes dominados por pessoas que não valorizam a democracia”, afirmou Busse. “Parece que não há muita vontade de educar politicamente, pois cidadãos conscientes escolhem melhor seus representantes e não são passíveis de domesticação.”
R7