Mães e pais nem sempre reúnem as informações essenciais sobre o cuidado com os dentes das crianças. Em sua rotina como odontopediatra, a cirurgiã-dentista baiana Ana Carla Robatto se depara com muitas dúvidas sobre o tema. Algumas das mais frequentes são: Existem pastas e escovas de dentes ideais? Quando usar o fio dental? Como extrair os dentes de leite? Respiração pela boca pode causar prejuízos? Criança pode usar alinhadores dentais? Diante de questões como essas, o ideal é os pais conversarem pessoalmente com um dentista de confiança antes de dar qualquer orientação aos filhos.
Em linhas gerais, é importante saber que pasta de dente sem flúor não possui componentes eficazes para um adequado controle das lesões de cárie. Por isso, a Associação Brasileira de Odontopediatria (ABOPed) recomenda que as crianças usem pasta com flúor. “A quantidade do produto na escova deve ser proporcional a um grãozinho de arroz. É suficiente para que o flúor devolva aos dentes os minerais que são perdidos pela ação das bactérias. E se a criança eventualmente engolir pasta, como a quantidade será muito pequena, não vai fazer mal”, explica Robatto.
Os fios dentais também devem ser usados diariamente sempre que houver um dente “colado” no outro, independentemente da idade das crianças. Nos chamados “pontos de contato”, só o fio dental consegue alcançar o acúmulo de bactérias. Outro vilão que precisa ser combatido é o consumo excessivo de alimentos com açúcar que, ao “alimentar as bactérias”, favorece a formação de placa dental e consequentemente de cáries.
Escovação caprichada – Na dúvida sobre que tipo de escova de dente deve ser utilizado pelas crianças, os pais devem dar preferência àquelas com cabeça pequena e cabos do tamanho adequado para a mão de uma criança, caso ela tenha idade para escovar seus próprios dentes. “As marcas mais conhecidas têm suas qualidades já atestadas, o que traz mais tranquilidade”, pontua Ana Carla Robatto, que é mestre em odontopediatria e professora da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
É preciso ter cuidado, entretanto, com o uso de escovas ultra macias, que podem não ser eficientes para a remoção das placas bacterianas. Escovas que não foram avaliadas pelo Inmetro devem ser evitadas. O ideal é que as crianças escovem os dentes no mínimo duas vezes por dia e usem fio dental pelo menos uma vez. A higienização da língua também deve ser incentivada, embora não seja fundamental na infância como é na fase adulta. “A escovação da noite deve ter tratamento especial, sempre precedida do fio dental. Essa deve ser a hora da super escovação, que vai ajudar muito a manter a boquinha saudável”, recomenda a especialista.
Uma informação que pode surpreender alguns pais diz respeito à forma de fazer a escovação. “Se a escovação da criança está adequada, não há necessidade de mudança, caso contrário, o odontopediatra irá sugerir técnicas para atender cada paciente especificamente, pois cada núcleo familiar possui suas próprias características e limitações. Logo, a melhor escovação é aquela combinada entre o dentista, a criança e seus pais”, conta a professora.
Respiração pela boca – Algo que pode passar despercebido, mas que pode gerar grandes impactos negativos, é a respiração pela boca. Algumas consequências do hábito são o ressecamento de lábios e gengivas, mordida inadequada, arcada dentária estreita e céu da boca mais profundo, dentre outras. “Quando o ar não passa pelas narinas, você não estimula o crescimento do assoalho nasal e consequentemente do céu da boca. Além disso, a respiração nasal reúne uma série de benefícios sistêmicos, tais como aumento da concentração, diminuição da pressão e da frequência cardíaca, controle de doenças crônicas, menor ocorrência de alergias e rinites”, argumenta Robatto. Em caso de inadequações na respiração, a intervenção multidisciplinar de diferentes especialistas pode ser necessária.
Dente de leite se tira em casa – Outra dúvida que pode causar aflição nos pais é quando as crianças estão com o dente de leite mole. Tirar ou não tirar em casa? “Não é preciso ir ao dentista. Esse dente de leite pode ser manipulado para que fique mole e seja arrancado. Deveríamos criar uma campanha: ‘Dente de leite se tira em casa’”, brinca a doutora em microbiologia. A justificativa é a criação de boas memórias afetivas e a superação do medo relacionados a este momento único na vida.
Alinhadores – Mas não são só os pais que têm preocupações. As crianças também ficam apreensivas, especialmente se tiverem que corrigir “dentinhos tortos”. Para Ana Carla Robatto, o tratamento ortodôntico interceptor com alinhadores deve ser facilitado por uma tecnologia eficaz e confortável que pode ser utilizada a partir dos seis ou sete anos de idade. Quando usados precocemente, os alinhadores conseguem corrigir mais rapidamente alterações como dentes montados, diastemas e sobremordidas. “Hoje em dia, tecnologias como o Invisalign facilitam a adesão das crianças, pelo fato dos alinhadores serem invisíveis, móveis, confortáveis e trazerem resultados mais rápidos do que os convencionais”, explica Ana Carla Robatto, sócia da Éfika Odontologia Digital.
Outra inovação que também tem facilitado a profilaxia na saúde bucal dos pequenos é a Terapia Guiada por Biofilme ou Guided Biofilm Therapy (GBT), uma tecnologia moderna e minimamente invasiva voltada para a promoção de saúde bucal, limpeza profissional dos dentes, remoção de placa bacteriana e avaliações regulares de resultados. “Esta nova filosofia de tratamento, que já está disponível em Salvador, possui dispositivos que preservam o bem estar do paciente. Se para o adulto, o conforto na cadeira do dentista faz a diferença, imagine para as crianças!”, frisa a especialista.
Ana Carla destaca, ainda, que as visitas das crianças ao consultório odontológico a cada seis meses, desde a erupção no primeiro dente, é fundamental para acompanhar o desenvolvimento crânio-facial, a troca e a integridade dos dentes, a saúde das gengivas, entre outros. “Além de orientar a família sobre a correta higienização bucal, o odontopediatra faz a profilaxia dental para remover acúmulos de placa ou de cálculo dental (tártaro) que a simples escovação não consegue tirar”.