Luiz Inácio Lula da Silva e o PT finalmente decidiram colocar em prática o plano de lançar Fernando Haddad como candidato à presidência da República. A arriscada aposta na inocência do ex-presidente e consequente reversão do indeferimento da candidatura dele era exagerada até para os padrões megalomaníacos do criador do bordão “nunca antes na história desse país”. Agora, por mais que haja o investimento na fusão Lula-Haddad, o PT terá dois desafios em apenas 26 dias: construir o ex-prefeito de São Paulo como viável politicamente e desconstruir o argumento de que o partido por muito pouco não fraudou as eleições de 2018.
A candidatura do ex-presidente não é um plano A desde a confirmação da condenação dele em segunda instância, ainda em janeiro de 2018. No entanto, até esta terça-feira (11) era gestada como a única solução possível para retirar o Brasil de um golpe entalhado na história como uma tentativa de defenestrar a esquerda do poder. E, por mais que insista em negar, Lula e o PT tiveram participação na construção narrativa que levou Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto e sua posterior deposição por meio do impeachment. A aliança entre o PT e o PMDB, para ficar no exemplo mais básico, foi feita com o aval e com a orquestração da estrela maior do partido. Mas os golpistas são os outros…
Ao invés de buscar uma alternativa ao retorno do ex-presidente ao Planalto, a retórica preferiu tratar Lula como mártir e herói. Mesmo que, no seio do partido, há tempos se defendesse que era preciso pensar no plano B. Foram inúmeras vezes que interlocutores petistas sinalizaram isso, porém sempre nos bastidores. Ninguém gosta de contrariar a maestria de Lula. E a corda foi esticada ao máximo antes de Haddad ser apresentado até mesmo como vice, o que aconteceu às vésperas do prazo limite para convenções.
Nesse capricho, o ex-prefeito de São Paulo perdeu um tempo precioso de campanha e que pode custar muito no processo eleitoral. Haddad é um nome novo, cujas pechas do petismo clássico não grudariam com a mesma frequência de outros nomes. Ainda assim, não foi construído ao longo dos anos como uma aposta certeira para disputar a presidência. Acabou perdendo a tentativa de reeleição em São Paulo para um outsider que sequer terminou o mandato. Nada disso o inviabilizaria politicamente. O fator Lula sempre é expressivo e pode colocá-lo no segundo turno. Mas não garante essa vaga. Haddad precisa ser apresentado como melhor que Lula. Não como uma marionete.
Os adversários dentro do próprio campo da esquerda devem, nesses parcos dias, desconstruir a imagem de Haddad com base no discurso de que Lula tentou fraudar o processo eleitoral. O pleito da candidatura do ex-presidente seria até legítimo se o contexto político fosse outro. Porém, como uma ameaça fascista e antidemocrática existe, essa legitimidade “deslegitima” o discurso de que as reformas de Michel Temer são ruins e que é preciso discutir o modelo de estado. Lula não é maior que o Brasil. E esse argumento provavelmente será usado por aqueles que transitam no eleitorado que flerta com a esquerda. Como desconstruí-lo é o segundo desafio de Haddad.
Vejamos como vão se desenrolar os fatos a partir desta quarta-feira (12), quando a campanha eleitoral de 2018 começa para valer. Antes disso, o PT, Lula e os aliados estavam brincando de fazer política. E brincar com coisa séria não é recomendado para adultos.
Este texto integra o comentário desta quarta-feira (12) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM.
Bahia Notícias