A hipertensão arterial, popularmente chamada de pressão alta, atinge cerca de um bilhão de pessoas no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). É o principal fator de risco para doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC).
No Brasil, aproximadamente 35% da população tem a enfermidade, segundo dados do Ministério da Saúde, mas metade nem sabe disso. Das pessoas que têm conhecimento, 50% fazem uso de medicação, e, dessas, apenas 45% têm a pressão controlada.
O que é hipertensão arterial?
Trata-se de uma doença crônica e degenerativa, caracterizada pelos níveis elevados da pressão sanguínea nas artérias.
“O sangue bombeado pelo coração exerce uma força contra as paredes internas dos vasos, e estes oferecem certa resistência a essa passagem, determinando a pressão. Quando algo não funciona bem neste sistema, ocorre a sua elevação”, explica Celso Amodeo, cardiologista e especialista em hipertensão arterial do HCor, de São Paulo.
Pelas diretrizes da OMS, uma pessoa é considerada hipertensa quando sua pressão sistólica (contração do coração) é maior que 140 milímetros de mercúrio (mmHg) e/ou a diastólica (relaxamento entre um batimento cardíaco e outro) igual ou maior que 90 mmHg – nos Estados Unidos, essa classificação foi alterada em 2017 para 13×8.
Porém, o médico explica que há variáveis. “Tudo vai depender dos fatores de risco associados. Tem pacientes que já precisam iniciar o tratamento quando a pressão passa de 120 mmHg”, informa.
Além de ser uma doença, a hipertensão arterial é um fator de risco para outras enfermidades, como insuficiência renal, falência dos rins, demência e alterações na visão.
Mas o destaque fica para as cardiovasculares, pois elas são as que mais matam no mundo. Para se ter uma ideia, em 2017, no Brasil, foram mais de 383 mil mortes por esse motivo, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
“Se olharmos os atestados de óbito, veremos que a pressão alta desencadeou 80% dos casos de derrame cerebral e 60% dos de ataque cardíaco”, relata Amodeo.
O que acontece é que a patologia provoca o estreitamento dos vasos e faz com que o coração precise bombear o sangue com cada vez mais força para impulsioná-lo por todo o organismo e depois recebê-lo de volta.
“Esse processo dilata o órgão, danifica as artérias e, consequentemente, favorece a ocorrência de ataques cardíacos e derrames cerebrais”, pontua o cardiologista do HCor.
Tipos de hipertensão e fatores de risco
O principal tipo de pressão alta é o primário, responsável por 95% dos casos, segundo Amodeo. “É um quadro que começa mais na idade adulta e, normalmente, em pessoas com histórico familiar da doença”, comenta.
Mas também há vários fatores que exercem influência. O número um é o consumo excessivo de sal. Apesar de ser recomendado no máximo 4g por dia, o brasileiro ingere de 10 a 12g, e isso inclui as quantidades utilizadas no preparo dos alimentos e também o que se encontra nos produtos processados e industrializados – enlatados, embutidos e conservas são alguns.
Os demais são: tabagismo, obesidade, estresse, colesterol alto, sedentarismo, poluição e diabetes.
Fora isso, sabe-se que a incidência da pressão alta é maior entre a população negra e que aumenta progressivamente com a idade – estima-se que 50% das pessoas com mais de 65 anos tenham o problema e 80% das com mais de 75 anos.
Outro tipo de hipertensão é o secundário, responsável por 3 a 5% dos diagnósticos. Nesta situação, a elevação da pressão se dá em decorrência de alguma enfermidade, como hipertireoidismo, hipotireoidismo, apneia do sono, tumor na glândula suprarenal e obstrução na artéria renal.
Há ainda a “hipertensão do avental branco”, que caracteriza-se por valores anormais da pressão arterial quando medida no consultório e normais quando registrada pelo monitoramento ambulatorial e residencial, e a mascarada, que é justamente o contrário, ou seja, pressão baixa no consultório médico e alta no monitoramento ambulatorial e residencial.
Por fim, existe a doença hipertensiva específica da gestação (DHEG). Ela se apresenta nas formas de pré-eclâmpsia (aumento da pressão arterial acompanhada da eliminação de proteína pela urina) e eclâmpsia (complicação da pré-eclâmpsia, provoca pressão muito elevada e está associada a sintomas como convulsão, dor de cabeça e inchaço).
Sintomas, diagnóstico e tratamento
Na maioria das vezes, a patologia não tem sintomas. Eduardo Costa Duarte Barbosa, cardiologista e presidente da Latin American Society Hypertension (Lash), diz que sinais como dor de cabeça, falta de ar, palpitações, zumbido no ouvido e tontura só ocorrem se a pessoa tiver uma crise hipertensiva (subida abrupta da pressão).
“Por se tratar de uma doença assintomática, é muito importante aferir a pressão uma vez por ano”, afirma o médico.
Ele relata ainda que, em alguns caos, a medição realizada no consultório, com aparelhos manuais ou automáticos, é suficiente, porém, há outros em que se faz necessária a realização do exame ambulatorial da pressão arterial, conhecido como MAPA, durante 24 horas.
A enfermidade não tem cura, mas pode ser tratada e controlada por meio, principalmente, da correção de hábitos alimentares pouco saudáveis, combate ao sedentarismo e controle do estresse.
Muitos pacientes ainda precisam fazer uso de medicamentos, dentre eles vasodilatadores, diuréticos, inibidores do canal de cálcio e beta-bloqueadores. Eles podem ser usados sozinhos ou combinados.
Quando se trata da DHEG, o Ministério da Saúde informa que o “tratamento da pressão alta leve na grávida deve ser focado em medidas não farmacológicas, já nas formas moderada e grave pode-se optar pelo tratamento usual recomendado para cada condição clínica específica”.
Maio: mês da conscientização da hipertensão
O mês de maio é marcado pela mobilização internacional de conscientização da hipertensão, já que o dia 17 é o Dia Mundial da Hipertensão. Nesta época, há três anos, a International Society of Hypertension (ISH), endossado pela World Hypertension League (WHL) e apoiada pela Servier, promove o May Measurement Month (MMM).
Na edição do ano passado, 98 países participaram, totalizando o rastreamento de 1.504.963 indivíduos. Cada um aferiu a pressão arterial e completou um questionário sobre estilo de vida e fatores ambientais.
Segundo a campanha, 502.079 (33,4%) apresentaram hipertensão, dos quais 298.940 (59,5%) estavam cientes de seu diagnóstico e 277.794 (55,3%) em tratamento com medicação.
No Brasil, os dados mais recentes são do MMM2017. Em maio daquele ano, foram coletadas informação de 7.260 pessoas no país. Destas, 3.396 (47,0%) eram hipertensas.
Outros números levantados foram que, dos indivíduos não receberam medicação anti-hipertensiva, 924 (19,5%) eram hipertensos e, dos que receberam, 977 (40,0%) não tinham a pressão controlada.
“O alto percentual recém-diagnosticado e a identificação de hipertensão não controlada, apesar do tratamento farmacológico, reforçam a importância dessa ação para conscientizar e melhorar a prevenção de eventos maiores cardiovasculares”, finaliza Barbosa, que é o coordenador do MMM no Brasil.
R7