Dados se repetem em hospitais de todo país e trazem alerta para sobrecarga em momento de retomada da circulação
Oito em cada dez pessoas que morrem em acidentes de trânsito no Brasil são homens. O trânsito brasileiro é o quarto mais violento do continente americano e a principal causa de mortes de jovens entre 20 e 30 anos, segundo pesquisa divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 2020, o país registrou a morte de 27,8 mil pessoas no trânsito, o que significa que, a cada dia, mais de 75 pessoas perderam a vida nas ruas e estradas. Os números são preocupantes e o que chama a atenção é que 80% das vítimas fatais são do sexo masculino. Os dados são da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) e do DataSUS/DPVAT.
O trânsito paranaense é o terceiro que mais mata no Brasil. Os acidentes desse tipo correspondem a 29% das causas externas dos óbitos no estado, com a taxa de mortalidade acima de 10 a cada 100 mil habitantes. Em 2020, foram 2,4 mil, ou seja, por dia, 7 pessoas perderam a vida dessa maneira, conforme dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). No Paraná, o perfil dos mais atingidos também são homens, representando 83% das mortes por acidentes em transporte terrestre.
Mesmo com a queda de acidentes entre 2019 e 2020, o número de pessoas mortas em batidas se manteve no mesmo patamar no Paraná. Houve uma redução de 34% no total de acidentes, mas a diminuição de mortes foi de apenas 2,7%, de acordo com estatísticas do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Registro Nacional de Acidentes e Estatísticas de Trânsito (Renaest). O estado inclusive firmou acordo com o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans) e com o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas e Agravos Não Transmissíveis no Brasil 2021 – 2030 (Plano de Dant) com meta de reduzir em 50% os sinistros de trânsito.
Sobrecarga no SUS
As medidas de isolamento social foram as principais responsáveis pela redução no número de acidentes no início da pandemia, mas o aumento da circulação de pessoas e veículos fez o cenário mudar rapidamente. De acordo com uma pesquisa da Abramet, entre março de 2020 e julho de 2021, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou um total de 308 mil internações por acidentes de trânsito. Neste ano, até setembro, o Brasil já gastou mais de R$ 108 milhões com essas internações. No ano passado, os gastos foram de R$ 171 milhões.
Atendimentos que podem representar uma grande sobrecarga para os serviços de urgência e emergência do SUS, como é o caso do Hospital Universitário Cajuru (HUC), em Curitiba (PR). Referência em traumas, a instituição trabalha 100% SUS e realiza em média 147 mil atendimentos por ano, entre internamentos, urgências e emergências, cirurgias e consultas ambulatoriais. Entre os pacientes que chegam ao HUC, também se destaca o número de pessoas do sexo masculino. No ano passado, 74% do total de atendimentos de vítimas do trânsito eram homens, ou seja, dos 2,7 mil pacientes atendidos, 2 mil eram do sexo masculino. Os números são semelhantes aos já observados nos primeiros dez meses de 2021.
A imprudência dos motoristas causa aproximadamente 90% dos acidentes em todo o mundo e o Brasil apresenta a mesma estatística. Por isso, essas emergências têm um aspecto particular: a maioria delas é evitável. Observação que o coordenador médico do Hospital Universitário Cajuru, José Rodriguez, vive na prática. “Quando pensamos na retomada das atividades, com o relaxamento das medidas preventivas da pandemia, sabemos que o movimento nas ruas e estradas vai aumentar. Mas é hora de pensar na saúde pública como um todo e buscar agir de forma preventiva. Ser responsável no trânsito é decisivo para diminuir os acidentes no trânsito e evitar uma sobrecarga do sistema de saúde”, afirma.