Primeiro carro feito no Brasil fez 60 anos no último dia 19 de novembro
Poucos atentaram, pelo fato de o Salão do Automóvel de São Paulo ter drenado muito da atenção de todos, mas no penúltimo dia da exposição, em 19 de novembro, completaram-se seis décadas do primeiro carro fabricado no Brasil sob as regras de nacionalização (por peso) anunciadas em 16 de maio de 1956.
Era uma DKW F91 Universal, station de origem alemã, com duas portas e índice quase simbólico de componentes produzidos em São Paulo (SP) pela Vemag, empresa de capital nacional. Batizada depois de DKW Vemaguet, apenas 156 unidades puderam ser montadas até o final daquele ano.
Sempre existirá, porém, a polêmica sobre se o Romi-Isetta foi o primeiro automóvel de produção brasileira. Modelo revolucionário para a época, com apenas uma porta e sem espaço para bagagem, transportava só dois passageiros e esta limitação o deixou de fora dos incentivos do governo federal. O microcarro, de fato, saiu na frente, em 5 de setembro do mesmo ano. Sua relevância histórica, porém, continua relativa.
O crescimento da indústria automobilística foi lento, pois dependia do poder aquisitivo dos compradores e das condições econômicas do país, entre elas a dificuldade com o processo inflacionário e a opção governamental de taxar os automóveis em nível inexistente no mundo. Apenas em 1978 foi possível romper a barreira de um milhão de veículos produzidos por ano.
Como costuma ocorrer, houve ciclos bons e ruins do mercado. A década de 1990, entretanto, foi marcada por uma segunda fase de expansão, pois até então o mercado de veículos era dividido pelas três marcas pioneiras — Ford, Chevrolet e Volkswagen –, além da Fiat, estabelecida em 1976.
Por problemas gerados pela crise do petróleo de 1973 e falta de divisas, o governo lançou o Proálcool em 1975 e suspendeu a importação de qualquer veículo no ano seguinte — e somente 14 anos depois, em 1990, os automóveis importados voltaram ao país. Existe a tendência de apontar esse marco com mais importância do que realmente teve…
Outras três decisões, somadas, alcançaram peso bem maior: fim da superprotecionista lei de informática e do controle de preços, além do programa do carro popular de 1993 e das câmaras setoriais que destravaram o mercado interno. Um programa de atração de novos investimentos na Argentina também levou o Brasil a criar incentivos: chegaram Renault, Honda, Toyota, Mercedes-Benz e Peugeot-Citroën.
O país precisou de 26 anos para ultrapassar a barreira de dois milhões de veículos produzidos anualmente, em 2004, sem contabilizar unidades desmontadas para exportação. Apenas quatro anos depois, 2008, já passávamos dos três milhões. Havia sinalização de que este ano deixariam as linhas de montagem mais de quatro milhões, mas com sorte vamos retornar ao patamar de 2004.
A crise atual é a terceira de alta gravidade pela qual passa a agora sexagenária indústria automobilística. Ao longo desse período, marcas saíram e voltaram, produzindo ou importando, e as nacionais não sobreviveram. O potencial de crescimento, no entanto, continua intacto: com a quinta maior população mundial, voltaremos em ano ainda incerto a ser o quarto mercado mundial e, quem sabe, quinto ou sexto produtor.
uol